Mente Conectada, Atenção Fragmentada: O Impacto das Redes Sociais na Concentração

Glaub Santos – glaubsantos@rede.ulbra.br

 

A atenção é um processo cognitivo fundamental para a nossa percepção e interação com o mundo ao nosso redor. Segundo Tsal, Shalev, & Mevorach (2005, p. 123), a atenção pode ser definida como “o processo pelo qual direcionamos e concentramos nossa capacidade mental em estímulos específicos, filtrando e selecionando informações relevantes para processamento”.

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A atenção é comumente separada em três tipos, que são: atenção seletiva ou concentrada, atenção dividida e atenção alternada.

A atenção concentrada é um aspecto fundamental para o desempenho cognitivo em diversas áreas, trata-se da habilidade de direcionar a mente para uma tarefa específica, ignorando distrações e mantendo o foco de forma contínua.

A atenção dividida, também conhecida como multitarefa, refere-se à capacidade de direcionar a atenção para múltiplas tarefas ou estímulos simultaneamente. É a habilidade de dividir a atenção entre diferentes atividades, concentrando-se em mais de uma coisa ao mesmo tempo.

A atenção alternada é a capacidade de alternar entre diferentes tarefas ou estímulos de forma rápida e eficiente. Envolve direcionar a atenção para uma atividade por um período de tempo, e depois deslocar a atenção para outra tarefa ou estímulo, e assim por diante. A atenção alternada permite que uma pessoa mude o foco de sua atenção de maneira flexível, adaptando-se às demandas do ambiente e às diferentes demandas cognitivas. É uma habilidade importante para lidar com situações que requerem a realização de várias tarefas ou a resposta a estímulos variados de forma sequencial e contínua.

No entanto, a atenção que mais utilizamos em nossas atividades laborativas e de desenvolvimento pessoal, em nossas relações, e que dá maior qualidade para todas estas, é a atenção concentrada, que é quando estamos inteiramente focados, colocando toda nossa atenção e energia na tarefa que estamos realizando no momento presente.

A importância da atenção concentrada hoje em dia é mais relevante do que nunca. Vivemos em um mundo repleto de distrações constantes, com tantas coisas disputando nossa atenção a todo momento. É muito fácil se perder em notificações, mensagens, redes sociais e várias tarefas ao mesmo tempo. No entanto, manter a atenção concentrada é crucial para alcançar um bom desempenho e ser produtivo em diferentes áreas da vida.

Concentrar-se significa direcionar conscientemente nossa mente para uma tarefa específica, deixando de lado as distrações e mantendo o foco no que realmente importa. É a capacidade de se envolver profundamente em uma atividade e permanecer completamente presente, totalmente imerso no momento atual.

Um dos aspectos em que a atenção concentrada desempenha um papel fundamental é no trabalho. Não importa em qual área você esteja, a habilidade de se concentrar em uma tarefa única e dedicar tempo e energia a ela é essencial para obter resultados de alta qualidade. A atenção concentrada permite que você se aprofunde em um problema, analise informações relevantes e encontre soluções criativas. Ela impulsiona a eficiência e a eficácia, possibilitando realizar mais em menos tempo.

O estudo de Engle e Kane (2004) examinou a relação entre a atenção concentrada e a produtividade no ambiente de trabalho. Os resultados demonstraram que indivíduos com maior habilidade de manter a atenção concentrada foram  mais produtivos e eficientes em suas tarefas profissionais. Esses trabalhadores demonstraram maior capacidade de evitar distrações e focar nas atividades relevantes, o que resultou em um desempenho superior.

Além disso, a atenção concentrada também é essencial para aprender e se desenvolver pessoalmente. Quando estamos verdadeiramente concentrados, somos capazes de absorver informações de forma mais profunda e integrá-las ao nosso conhecimento prévio. Isso nos permite expandir nossa compreensão, adquirir novas habilidades e melhorar nossa capacidade de resolução de problemas. A atenção concentrada é especialmente importante em situações de estudo ou treinamento, pois nos ajuda a reter informações e aplicá-las de maneira significativa.

A atenção concentrada também desempenha um papel vital na qualidade dos relacionamentos e da comunicação. Quando estamos presentes e atentos durante uma conversa, somos capazes de compreender melhor as necessidades e emoções das outras pessoas. Isso fortalece os laços interpessoais, constrói confiança e melhora a colaboração. Por outro lado, a falta de atenção concentrada pode levar a mal-entendidos, desconexão e frustração nas relações pessoais e profissionais.

Além dos benefícios óbvios, a atenção concentrada também é fundamental para nossa saúde mental e bem-estar geral. Quando estamos constantemente distraídos e sobrecarregados por estímulos externos, podemos sentir estresse, ansiedade e exaustão mental. A atenção concentrada nos permite acalmar a mente e reduzir o estresse. Ela nos ajuda a cultivar a consciência plena, a apreciar o presente e a viver de maneira mais satisfatória.

Porém, pela quantidade de estímulos diários e principalmente relacionados ao celular que está sempre conosco, quase como uma extensão pessoal de cada indivíduo, estamos sempre predispostos, como que treinados, para que no momento em que o nosso celular emita o menor sinal de notificação, corramos para verificar o que está acontecendo, pois há uma necessidade intrínseca de estar a par de tudo que acontece no mundo e perto de nós, e a cada notificação que chega, deixamos de focar no que estávamos produzindo e nos voltarmos inteiramente para o celular, por vezes até nos esquecendo do que fazíamos antes e do quão importante era aquela tarefa.

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A queda de atenção causada pelas redes sociais tem se tornado uma preocupação cada vez mais presente na sociedade. Com a crescente dependência e utilização dessas plataformas, muitas pessoas têm experimentado uma diminuição significativa na capacidade de concentração e foco em suas atividades diárias.

As redes sociais, com seu design envolvente e infinitas possibilidades de interação, foram projetadas para capturar e manter a atenção do usuário pelo maior tempo possível. Algoritmos inteligentes alimentados por dados pessoais coletados, como preferências, histórico de navegação e comportamentos online, são utilizados para criar feeds personalizados e sugestões de conteúdo altamente cativantes.

Essa constante estimulação e gratificação instantânea afetam negativamente nossa capacidade de manter o foco em tarefas importantes. A cada nova notificação, mensagem ou atualização de status, somos tentados a interromper nossas atividades e verificar nossos perfis nas redes sociais. Essa interrupção constante fragmenta nossa atenção e torna difícil retomar o fluxo de trabalho, estudo ou qualquer outra atividade que exija concentração.

Além disso, a natureza superficial e fragmentada das informações nas redes sociais também contribui para a queda de atenção. A quantidade infinita de conteúdo disponível nos feeds nos leva a pular de uma postagem para outra, sem mergulhar profundamente em qualquer assunto. Isso resulta em uma atenção dispersa, prejudicando nossa capacidade de absorver informações complexas e processá-las de forma significativa.

Segundo um estudo publicado por Mrazek et al. (2020), a atenção concentrada está intimamente ligada ao desempenho cognitivo. Os pesquisadores descobriram que indivíduos com maior capacidade de manter a atenção concentrada em uma tarefa apresentaram um desempenho mais eficiente em testes de memória, resolução de problemas e tomada de decisões. Esses resultados demonstram a importância de cultivar a atenção concentrada para alcançar um melhor desempenho intelectual.

Estudos como o de Lin et al (2016), têm mostrado que a queda de atenção causada pelas redes sociais pode ter consequências negativas em vários aspectos de nossas vidas. No ambiente acadêmico, por exemplo, alunos relatam dificuldades em estudar por longos períodos de tempo sem se distrair com as notificações do celular. No trabalho, profissionais podem ter dificuldades em se concentrar em projetos importantes, resultando em produtividade reduzida e menor qualidade de trabalho.

A queda de atenção causada pelas redes sociais também pode afetar nossa saúde mental. A constante exposição a conteúdos idealizados e perfeitos nas redes sociais pode levar à comparação social, baixa autoestima e sentimentos de inadequação. O vício em redes sociais também pode levar à ansiedade e depressão, bem como à perda de conexões pessoais significativas no mundo real.

Para lidar com essa queda de atenção, é importante adotar algumas estratégias. Uma delas é criar momentos livres de redes sociais, estabelecendo períodos específicos do dia para se desconectar completamente dessas plataformas. Também é recomendado desativar notificações desnecessárias e limitar o tempo gasto nas redes sociais, estabelecendo metas diárias ou semanais.

Resumindo, a atenção é uma habilidade valiosa que se torna cada vez mais essencial em um mundo cheio de distrações. Ela nos permite alcançar um bom desempenho, aprender de forma mais eficaz, construir relacionamentos mais profundos e melhorar nosso bem-estar geral. Cultivar a atenção concentrada requer prática, mas os benefícios são incontáveis.

Além disso, é fundamental investir em atividades que promovam a concentração e o foco, como meditação, exercícios físicos e leitura. Priorizar o contato pessoal e as interações reais com amigos e familiares também é uma maneira eficaz de reduzir o tempo gasto nas redes sociais e fortalecer relacionamentos significativos.

Referências

ENGLE, Randall W.; KANE, Michael J. Atenção executiva, capacidade de memória de trabalho e uma teoria de dois fatores de controle cognitivo. 2004.

LIN, Liu Yi e cols. Associação entre uso de mídia social e depressão entre jovens adultos nos EUA. Depressão e ansiedade , v. 33, n. 4, pág. 323-331, 2016.

MRAZEK, Michael D. et al. O treinamento de atenção plena melhora a capacidade de memória de trabalho e o desempenho GRE, reduzindo a divagação da mente. Ciência psicológica , v. 24, n. 5, pág. 776-781, 2013.

TSAL, Yehoshua; SHALEV, Lilach; MEVORACH, Carmel. A diversidade de déficits de atenção no TDAH: a prevalência de quatro fatores cognitivos no TDAH versus controles. Jornal de dificuldades de aprendizagem , v. 38, n. 2, pág. 142-157, 2005.