Estudiosos apontam possíveis consequências da exposição de filhos nas redes sociais no relacionamento entre pais e filhos.
Com a ascensão das redes sociais no século 22, o comportamento que nós temos diante delas passou por diversas modificações, com cada vez mais pessoas entrando no mundo digital e tornando-se parte das redes. De acordo com um levantamento realizado pela We Are Social e Meltwater, há cerca de 144 milhões de usuários de redes sociais no Brasil, ou seja, 66,3% da população nacional. Dentro desse número crescente de perfis em redes sociais, existe também uma nova “tendência” nas redes sociais: os mini-influenciadores.
Apesar de que a maioria das redes sociais atuais possuírem uma restrição de idade para seus usuários, é difícil realizar um monitoramento eficaz e amplo dos perfis ativos, fazendo com que muitas crianças adotem um comportamento de auto-exposição através de perfis pessoais, comportamento este muitas vezes sendo incentivado e aprovado por pais ou responsáveis. Tal incentivo por parte dos pais ou responsáveis é muitas vezes motivado pelo lucro gerado pela quantidade de curtidas, cliques e visualizações, se fazendo necessário questionar os efeitos a curto e longo prazo de tal prática.
O compartilhamento de informações e exposições acerca do filho pode ser chamado de sharenting, palavra do inglês que provém da união entre as palavras share (compartilhar) e parenting (parentalidade), comportamento que pode impactar o relacionamento entre pais e filhos e também os processos de individuação dessa criança e os adultos envolvidos. Ao realizar o sharenting, pais e responsáveis estão não apenas facilitando o acesso a imagem e informações privadas para pessoas má intencionadas, mas também estão tornando crianças alvos de possíveis críticas e comparações relacionadas ao comportamento e a auto-imagem.
Os “mini-influenciadores”, por estarem em processo de maturação neurológica e aprendizado acerca às normativas sociais, não possuem a capacidade de compreender que ela não apenas está sendo manipulada e modelada para atender às expectativas de seu público, e nem de que sua infância está sendo deturpada pelas responsabilidades e atividades associadas à sua “atuação” enquanto influenciador digital. Para Diane E. Papalia, a maturação é um desdobramento de uma sequência natural de mudanças físicas e comportamentais, incluindo o comportamento em meio a sociedade. Erik Erikson irá ressaltar que a infância é dividida em estágios de desenvolvimento psicossocial, experimentando a vergonha e dúvida durante o estágio pré-operatório (2-7 anos), por exemplo, além do desenvolvimento de um sistema para representar pessoas, lugares, eventos em pequenas “pastas”. Seu pensamento ainda não é lógico e necessita de processos de jogos imaginativos, por exemplo, devido a grande fantasia da perspectiva da criança. Já a partir dos 11 anos, é comum que nós seres humanos passemos por momentos de confusão da identidade, o que pode ser amplificado e vivenciado de forma patológica em um contexto onde necessita performar uma “persona” na internet.
Além disso, há um claro impacto relacional, onde os pais ou responsáveis assumem o comportamento e imagem de um “agente”, “empresário”, distorcendo a imagem que essas crianças possuem em relação aos adultos envolvidos. De acordo com a psicanalista e vice-diretora de Relações Interdisciplinares do Instituto Brasileiro de Direito de Família Claudia Pretti para a revista digital do instituto, os filhos precisam do acolhimento através de bons laços afetivos e o cuidado, trazendo a importância de repensar os conceitos de liberdade e de laço social. Para Erikson, as influências sociais na criança são um grande fator no desenvolvimento da personalidade, ressaltando também a importância dos primeiros estágios da vida da criança e o que ela entende sobre o mundo, os afetos, sua segurança, entre outros.
Por fim, é necessário questionar de que forma o cuidado, afeto, aprendizado, privacidade e liberdade são capazes de tomar espaço necessários para uma vida plena e saudável de uma criança em um contexto onde certos comportamentos são expostos sem sua autorização e muitas vezes, ridicularizados.
Referências:
ANUNCIAÇÃO, Débora. Sharenting: especialistas avaliam os riscos da exposição infantil nas redes sociais. Belo Horizonte-MG. Disponível em <link>. Acessado em 08 ago. 2024.
PAPALIA, Diane E; MARTORELL, Gabriela. Desenvolvimento humano. 14ª edição. Editora Artmed. Porto Alegre, 2022.
SILVA, L. C. da; VIEIRA PEREIRA SANTOS, I.; NASCIMENTO PEREIRA, L.; JARDIM PFEILSTICKER, F. O IMPACTO DAS MÍDIAS DIGITAIS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, [S. l.], v. 6, n. 1, p. 1773–1785, 2024. DOI: 10.36557/2674-8169.2024v6n1p1773-1785. Disponível em: <link>. Acesso em: 22 ago. 2024.
SMOLINSKI, Bree. Think before you post: the impact of sharing photos of your child online. Austrália: Curtin University, 2021. Disponível em <link>. Acessado em 08 ago. 2024.