As redes sociais muitas vezes promovem a idealização de existências padronizadas incompatíveis com a realidade, gerando um constante senso de inadequação.
Glaub Santos – glaubsantos@rede.ulbra.br
A comparação social é um fenômeno psicológico no qual indivíduos se comparam a outras pessoas em diversas áreas da vida, como aparência física, conquistas pessoais, status social e habilidades. Essa comparação geralmente ocorre com base em informações observáveis ou percebidas por meio de interações pessoais diretas ou por meio de plataformas online, como redes sociais.
Segundo Festinger (1954), a teoria da comparação social afirma que as pessoas têm uma tendência natural de avaliar suas próprias opiniões e habilidades por meio da comparação com os outros. Essa comparação social pode ocorrer de duas formas: comparação para cima, quando nos comparamos a pessoas que consideramos melhores em determinado aspecto, e comparação para baixo, quando nos comparamos a pessoas que consideramos piores. Essas formas de comparação desempenham papéis importantes na maneira como nos avaliamos em relação aos outros e podem ter consequências diferentes para nosso bem-estar emocional.
A comparação para cima envolve a tendência de nos compararmos com pessoas que consideramos superiores a nós em determinados aspectos. Por exemplo, podemos nos comparar com alguém que possui uma aparência física invejável, uma carreira de sucesso ou uma vida social ativa. Ao fazermos isso, podemos sentir uma sensação de inadequação ou inferioridade, pois percebemos uma discrepância entre nossas próprias realizações e as dos outros (FESTINGER, 1954)
A comparação para cima pode levar a sentimentos de inveja, ressentimento ou frustração, especialmente quando acreditamos que não podemos alcançar os mesmos padrões de sucesso ou conquista. Essa forma de comparação pode minar nossa autoestima e levar a um aumento da pressão interna para atender a esses padrões inatingíveis. No contexto das redes sociais, onde as pessoas tendem a compartilhar seus melhores momentos e conquistas, a comparação para cima pode ser ainda mais acentuada.
Por outro lado, a comparação para baixo envolve nos compararmos com pessoas que consideramos inferiores a nós em determinados aspectos. Essa forma de comparação pode levar a uma sensação temporária de superioridade e autoafirmação. Por exemplo, podemos nos comparar com alguém que tenha um desempenho acadêmico inferior ao nosso ou que esteja passando por dificuldades pessoais. Isso pode proporcionar uma sensação de alívio momentâneo ou uma falsa sensação de satisfação.
No entanto, a comparação para baixo também pode ser prejudicial, pois pode nos levar a uma visão distorcida da realidade e a uma falta de empatia em relação aos outros. Além disso, essa forma de comparação pode ser baseada em critérios subjetivos e não refletir uma avaliação precisa das habilidades ou conquistas das pessoas com as quais nos comparamos.
Ambas as formas de comparação social podem ter impactos negativos em nossa saúde mental e bem-estar emocional. A comparação excessiva, seja para cima ou para baixo, pode levar a sentimentos de inadequação, baixa autoestima, ansiedade e depressão. Portanto, é importante desenvolver uma perspectiva saudável e realista em relação às comparações sociais, reconhecendo que cada pessoa tem suas próprias jornadas, realizações e desafios.
A comparação social nas redes sociais tem se tornado cada vez mais proeminente na era digital. De acordo com a pesquisa de Kim et al. (2009), a exposição constante a fotos e postagens de outras pessoas nas redes sociais pode levar a comparações sociais negativas e diminuição da autoestima. Isso ocorre porque as pessoas geralmente tendem a compartilhar os melhores momentos e as realizações em suas vidas nas redes sociais, criando uma imagem idealizada e inatingível.
Comparar-se nas redes sociais pode ter efeitos negativos na saúde mental e no bem-estar emocional. Estudos como o de Fardouly et al. (2015) têm demonstrado que a comparação social nas redes sociais está associada a sintomas de depressão, ansiedade, baixa autoestima e insatisfação corporal.
A comparação social nas redes sociais pode desencadear uma série de problemas físicos e psicológicos. Segundo Perloff et al. (2014), um dos principais efeitos negativos é a insatisfação corporal e a distorção da imagem corporal, o que pode levar ao desenvolvimento de transtornos alimentares, como a anorexia e a bulimia.
Além disso, Dos Santos (2021) destaca que a comparação social pode levar algumas pessoas a se engajarem em excesso de exercícios físicos ou práticas extremas para alcançar um padrão de aparência idealizado, o que pode ser prejudicial à saúde física e mental.
A preocupação constante com a aparência e a comparação com os outros também pode ter impactos negativos na saúde. A pressão associada à comparação social pode resultar em aumento do estresse e da pressão arterial, afetando negativamente o bem-estar físico.
No âmbito psicológico, a comparação social pode levar a uma série de problemas, sendo eles, a baixa autoestima e os sentimentos de inadequação são comuns devido à percepção de desigualdade em relação aos outros. A constante comparação negativa e a sensação de não atender a certos padrões podem contribuir para o desenvolvimento de ansiedade e depressão, como aponta Fardouly et al. (2015).
Por fim, Abreu (2019) ressalta que a busca incessante por validação e aprovação nas redes sociais pode levar à diminuição da satisfação com a vida. A constante necessidade de validação externa pode levar a um sentimento de insatisfação crônica, prejudicando o bem-estar geral.
Para lidar com os impactos negativos da comparação social nas redes sociais, é importante cultivar uma perspectiva realista e consciente sobre as postagens e imagens compartilhadas. Além disso, é recomendado dedicar tempo para construir uma autoimagem positiva com base nas próprias conquistas e valores pessoais, em vez de se comparar constantemente com os outros. Se faz necessário aprender a apreciar nossas próprias conquistas e reconhecer que cada pessoa tem uma história única pode nos ajudar a cultivar uma maior autocompaixão e aceitação.
Referências
ABREU, Sofia. Uso do Facebook e a sua relação com a satisfação com a vida em adultos portugueses. 2019. Tese de Doutorado.
DOS SANTOS, Cely Araújo et al. Vigorexia, um distúrbio alimentar na modernidade. Research, Society and Development, v. 10, n. 5, p. e16710514817-e16710514817, 2021.
FARDOULY, Jasmine et al. Comparações sociais nas mídias sociais: o impacto do Facebook nas preocupações com a imagem corporal e no humor de mulheres jovens. Imagem corporal , v. 13, p. 38-45, 2015.
FESTINGER, Leon. Uma teoria dos processos de comparação social. Relações humanas , v. 7, n. 2, pág. 117-140, 1954.
KIM, Junghyun; LAROSE, Robert; PENG, Wei. Solidão como causa e efeito do uso problemático da Internet: a relação entre o uso da Internet e o bem-estar psicológico. Ciberpsicologia & comportamento , v. 12, n. 4, pág. 451-455, 2009.
PERLOFF, Richard M. Efeitos da mídia social nas preocupações com a imagem corporal de mulheres jovens: perspectivas teóricas e uma agenda para pesquisa. Papéis sexuais , v. 71, n. 11-12, p. 363-377, 2014.