Psicóloga Marcela Queiroz (CRP 09 / 17476) – @queirozpsi
Olá, meu nome é Marcela Queiroz, sou formada na Clínica Centrada na Pessoa desde julho de 2022 e graduada pelo Universo Goiânia desde Março de 2023, e estudo essa abordagem há mais ou menos três anos através de cursos, palestras, grupos de estudos e leituras, então posso falar antes tudo que a Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) é pouco difundida no estado.
Falando sobre a ACP para as pessoas que ainda não a conhecem, podemos citar os fatores principais, um deles é que a diferenciação entre essa e outras abordagem é que não há utilização de técnicas, podendo ser usada em todas as relações de ajuda e todas as relações humanas, então o psicoterapeuta ACP assume uma postura de acreditar nos pressupostos e na sua aplicação. É necessário acima de tudo viver esses princípios assim como uma filosofia de vida e no desenrolar dessa relação autêntica que o profissional tem consigo mesmo ele vai mostrando seu verdadeiro eu possibilitando o desenvolvimento pessoal e autêntico do outro em consultório, então eu como terapeuta vivo o que essa filosofia de vida do Carl Rogers e me relaciono com base nos pressupostos e assim vou desenvolvendo o potencial desse outro (paciente) de se perceber na relação, fazendo com que ele se mostre na relação e desenvolva sua autenticidade, progredindo no que seria a tendência atualizante, que se refere à tendência, inerente a todos os seres vivos, ao seu crescimento e à sua atualização logo se acredita que a melhor maneira de ajudar alguém é confiar que existe uma condição natural da pessoa se direcionar emocionalmente e também no comportamento, no movimento em busca de suas próprias necessidades, sendo então o papel do psicólogo de facilitar através de uma postura e pressupostos para que a pessoa busque por si só o seu próprio caminho e suas próprias respostas logo, os profissionais acreditam no potencial desse indivíduo, é ele quem enxerga a possibilidade e quem se abre a mudança, por isso está fora da ética pessoal do profissional o papel de dono da razão, somos um acompanhante do processo, adotamos então uma postura horizontal acreditando no poder a facilitação como grande fator de acolhimento.
Essa abordagem é humanista e Rogers acredita que a peça fundamental da psicologia humanista é a crença no organismo positivo e construtivo existindo uma grande crítica à ACP, alguns apontam ela como muito boazinha, não acreditando na maldade humana, pois quando se dá muito abertura ao paciente geralmente se tem medo do que ele possa se tornar, entre outras coisas, mas esses conceitos de bondade e maldade são derivantes de um julgamento social de aspectos do meio em que vivemos, então Rogers fala que se a gente confia na capacidade desse indivíduo de se compreender melhor, de ser mais auto dirigido ele vai escolher direções sociais e não anti sociais ou más, Rogers diz “se ofereço a pessoa a possibilidade de se expressar e buscar suas próprias direções ela não escolhe ser um melhor ladrão ou coisa semelhante, mas procura seguir a direção de maior harmonia com seus companheiros”, sendo a tendência atualizante não ocorrente somente em relação à caminhos positivos, nem a falta dela acarretaria escolhas ruins mas é uma tendência natural que está sempre em progressão, sempre em movimento e busca de progresso e satisfação às suas necessidades, é como um movimento que vem junto com fatores de visão de mundo e com as nossas perspectivas.
A ACP é formada por experiências pessoais do Rogers, experiências clínicas e os próprios estudos que ele fez, e para dar um geral sobre tendência atualizante, tem uma história responsável pelo fechamento desse conceito. No porão da casa que ele morava na fazenda, tinha um saco de batata que germinaram devido uma pequena janela no quarto, então era uma tentativa inútil, mas ainda sim uma tentativa desse organismo de sobreviver com o pouco de luz que tinha, a melhor maneira de satisfazer suas necessidades e Rogers correlaciona com delinquentes, pessoas com problemas mentais, no qual suas vidas se desenvolveram de maneira inconsistente, porém é uma tentativa de crescer para atualizar seus potenciais.
Essa tentativa pode causar maus resultados que são consequências do meio e não do indivíduo e todo indivíduo continua o ciclo em tendência atualizante e o papel do psicólogo é proporcionar condições para facilitar a pessoa a conseguir desenvolver seus potenciais buscando uma harmonia interna e em consequência também uma harmonia externa, então a permissão principal da ACP é de que o indivíduo tem potencial de se autodirigir e se eu creio nisso e assim busco facilitar condições pra que ele se desenvolva por si mesmo.
Os três princípios que facilitam essa tendência atualizante são a compreensão empática que pode ser explicada como uma capacidade verdadeira de estar com o outro naquilo que ele sente e vê o mundo e é uma das coisa que eu ouvi no meu curso de formação é que a parte mais difícil da terapia é estar com o outro na dor e no sofrimento então é importante manter e é também ter segurança que a gente pode adentrar no mundo possivelmente estranho e diferente dos nossos conceitos diversos e que a gente terá a capacidade de voltar para o nosso mundo sem dificuldades, e isso demanda um auto conhecimento além dessa postura sendo importante manter a consciência de que podemos, mesmo bem intencionados, ter uma tendência a manipular o outro através da nossa visão de mundo na tentativa de livrar o sentir ou sofrer desse cliente.
Sobre a congruência, acredita-se que a transformação pessoal é facilitada quando o psicoterapeuta é aquilo que é, quando as relações com o cliente são autênticas e sem máscaras nem fachadas exprimindo abertamente os sentimentos e atitudes que neste momento ocorrem, então aquilo que o terapeuta estiver experienciando ali, são válidos pra ele, válidos na consciência e também para viver esse sentimento e assumir e comunicá-los se for o caso, quanto mais o terapeuta ouvir e aceitar o que se passa dentro de si mesmo, quanto mais ele for capaz de assumir sua complexidade e sentimentos sem receio, maior será o grau de congruência, é necessário pontuar que é uma percepção e não uma verdade absoluta consciente do outro e a congruência necessita de um manejo cuidadoso porém genuíno, então a relação entre psicoterapeuta e cliente tem base em uma confiança e uma verdade, se eu sentir, se eu achar que isso é importante e que isso vai ajudar no processo de desenvolvimento desse potencial da tendência ao organismo, então eu abro isso.
Lembrando que é muito importante ser cuidadoso e levantar sempre que isso não é uma verdade absoluta, isso é o que eu percebo em relação ao que está sendo dito, por isso uma pergunta muito importante a ser feita é se o que está sendo dito faz sentido para o paciente, isso se encaixa com o que você acredita, pra gente aproximar sempre em direção ao outro se é assim que ele vê e vamos junto com ele nesse momento terapêutico.
Sobre a consideração positiva incondicional, o ultimo tipo de facilitação, é a capacidade genuína de considerarmos o outro independente do que ele pensa, seja ou faça, é aceitar, e o aceitar aqui não significa concordar, porque sabemos que quando a gente lida com a clínica a gente se encontra com pensamentos e atitudes que são opostos com o que a gente vive e acredita na nossa vida pessoal, é aceitas as individualidades e referências do paciente, é estar com ele de forma genuína. Rogers diz a que experiência suprema a autoridade, essa capacidade de aceitar um indivíduo independente do que este faz porque existe uma confiança na tendência ao crescimento e acredita-se que o paciente faz o melhor que consegue.
Fonte: Pixabay
Uma vez que entendemos os princípios da ACP é importante pontuar que essa abordagem não diz tratar diagnósticos e sim pessoas, isso não significa excluir esses diagnósticos e sim integrar em suas significações individuais, ou seja, já que a ACP é uma construção de sentido, acompanhar o indivíduo na construção do sentido, é refletir sobre o que significa para ele ter esse diagnóstico. Sabemos que muitas vezes o diagnóstico ao invés de cuidar tem servido para que haja uma total descrença e preconceito com a pessoa que sofre, o que geralmente acontece é que as pessoas acabam se separando da ACP nesse conceito de diagnóstico.
Então seguindo a linha de raciocínio que a abordagem não trata diagnósticos e sim pessoas, o que não significa excluir o diagnóstico e sim integrar em suas significações individuais, consideramos o todo do indivíduo, a forma com que ele lida com esse transtorno, a forma que ele se enxerga, enxerga as atitudes e seus sentimentos, trazendo autenticidade, assim nos voltamos para os três princípios.
Acreditamos no indivíduo na sua potencialidade, e através da facilitação dos princípios estar genuinamente com o outro em uma relação que eu posso compartilhar as minhas percepções de forma responsável e que se desenvolva uma relação de aceitação trazendo esse indivíduo de volta ao convívio com o externo sendo ele mesmo, logo ele mesmo lidando com o transtorno, ele mesmo vivendo sua individualidade e não como um ser excluído ou como um ser pré determinado, mas como um ser individual que tem suas especialidades, seu jeito de ver o mundo e eu como acompanhante do processo estou com ele nessa progressão e busca pela melhora.