No livro ‘A Filosofia explica: porque é tão difícil se relacionar’’ há vários assuntos a serem tratados, dentre eles, está o capítulo ‘’A difícil arte de relacionar-se’’ escrito por Rodrigo dos Santos Manzano, onde ele fala sobre como o homem contemporâneo está a buscar prazer e diversão para fugir do tédio que tanto o afronta. E dentro do mesmo, podemos destacar alguns temas importantes, como a dor e o tédio que para Arthur Schopenhauer são duas forças que nos acompanha desde o nascimento e que equilibrar-se entre eles é um desafio. O desejo para Platão é concebido com uma incompletude, essa indigência torna o desejo dependente daquilo que lhe falta.
Rodrigo dos Santos Manzano é formado em Filosofia pela UNIFAI e pós-graduado em Filosofia Contemporânea e História (Lato Sensu) pela Universidade Metodista de SP, ele escreveu um capítulo chamado ¨A difícil arte do relacionar-se¨ onde ele cita o quanto o homem contemporâneo está a deixar o lado socioafetivo cada vez mais jogado para escanteio, como se não tivesse valor algum e com isso, a valorização para com o próximo, o altruísmo, preocupações relevantes como a política e questões éticas vai ficando para trás.
E com isso é comum vermos hoje em dia as pessoas falarem que estão com tédio, que tudo a sua volta se tornou tedioso e que nada pode resolver essa situação que tanto os afronta. Este tipo de tédio na verdade revela que a cada dia as pessoas estão se perdendo, tornando suas vidas vazias e sem sentido, proporcionando a perda do lado humano causada pelo individualismo. Porém, a tantas situações a serem resolvidas, que a solução desses problemas poderão acarretar algum tipo de prazer ou diversão.
O tédio é um mal a ser desprezado, ele faz os seres que se amam tão pouco, como os humanos, diariamente, procurarem uns aos outros, transformando-se assim em uma fonte de sociabilidade. O autor como exemplo: Arthur Schopenhauer, em sua filosofia, teve uma forte influência do pensamento oriental, em especial da cultura indiana e do budismo, ele expressa isso em sua obra “O Mundo como Vontade e Representação”. Tornou-se um dos mais virtuosos e particulares pensadores.
Para Schopenhauer a vida é uma alternância entre a dor, proveniente da necessidade e do desejo de obter algo (ou alguém), e do tédio, decorrente da satisfação que resulta da necessidade suprida. Alguns dos indivíduos optam por disfarçar a dor através de maneiras diversificadas, distrações físicas e/ou mentais, porém esse disfarce não perdura, independente do que o faça para se distrair, o sofrimento sempre retorna, mesmo que isso pareça um fato lamentável. Ainda há uma possibilidade de se livrar de tal sofrimento, Schopenhauer acredita que a melhor maneira de superar a dor seria a negação ou superação da vontade individual, que segundo ele é cega e insaciável.
Por isso a Filosofia de Schopenhauer é pessimista, pois o homem sempre vai desejar ou querer ter algo, dessa forma se sentirá atraído e isso surge no momento em que o homem percebe que sua vida não lhe pertence por completo, pois todo e qualquer indivíduo está apenas acorrentado e submerso em uma vontade impiedosa que o controlará independentemente de sua escolha, e é esse o aspecto que compõe cada ínfimo detalhe de toda existência e de todos os seres vivos.
E na busca pelo o que tanto desejamos, a felicidade ou o prazer que esperamos encontrar na obtenção da mesma, acaba no final, se tornando uma grande frustração, uma ilusão de que nada disso nos saciou, nos satisfaz. Quanto mais há uma buscar por tais desejos que simplesmente não podem ser satisfeitos ou totalmente satisfeitos, consequentemente poderá fazer com que o indivíduo tenha acesso a dor e ao sofrimento. Schopenhauer, está diz que o Desejo é a essência do mundo.
E todos os seres, de alguma maneira participam de um mesmo e único e Querer universal. Uma espécie de união indissolúvel, que liga cada um de nós a esse querer Universal; e todos nós somos que encarnações individualizadas deste Querer Universal, desta Vontade Universal ou desse Desejo Universal.O ser humano é impulsionado e forçado por sua essência, querer qualquer coisa, e após preencher esse desejo, acaba obtendo novos desejos, iniciando um novo ciclo indestrutível que jamais possa ser evitado, e consecutivamente se repetirá gerando sofrimentos intermináveis.
Quando um indivíduo consegue finalmente satisfazer um desejo que surge por intermédio de expressão da Vontade, consequentemente, se enclausura inevitavelmente em momentos tediosos, pois no instante ou nos períodos em que a vontade está momentaneamente satisfeita, a sensação de tédio é que se faz presente, já que não há motivações, impulsos ou necessidades para se suprir, e dá uma ideia de que o querer é absurdo. Porque ele nunca para, porque ele nunca se sacia.
A causa do sofrimento é a manifestação violenta da vontade, essência íntima de tudo no mundo. O homem é a representação mais alta da Vontade, onde o intelecto atinge seu mais alto grau de entendimento; isto faz do homem o mais sensível à dor. Neste caso, negar a Vontade é ao mesmo tempo negar a causa da dor.
Sempre estamos enfrentando desilusões, sendo dominados por anseios e desafetos, esforços inúteis, toda essa tragédia existe e faz-se presente para terminar num inevitável fim, que é a morte. Para o autor, a vida humana é um pêndulo entre o desejo, sofrimento e tédio. Mesmo que em alguns momentos tentamos fugir do tédio e da dor com redes social, reality shows ou Panem et circenses, sendo movido pelo tédio ou para fugir dele, leva o ser humano a sentir uma incompletude de sua miséria.
Mas as tais atividades levam as pessoas á alienação social que cresce nos tempos atuais, um fruto do hedonismos e até dando uma falta de senso as pessoas, e assim tornando tudo superficial. Schopenhauer já afirmava que nada adianta querer ceder aos desejos para saciá-los, isso não garantirá a felicidade.
E outro autor que pode nos esclarecer mais sobre o desejo é Platão, para ele o desejo como falta, significando que este mundo é uma ‘’cópia imperfeita’’ do verdadeiro ‘’mundo da ideias’’. Em seu diálogo, ‘’Banquete’’ o filósofo deixa claro a ideia de um ser que busca eternamente a sua outra metade no mundo. Em Platão, o desejo quer aquilo de que ele carece. E esse aquilo promete preencher esta lacuna. Esse objeto desejado promete completar aquele que deseja. Sócrates em seu discurso abrange que só desejamos o que não podemos ter.
Há registros históricos em que na metafísica, desejo é um tipo de sentimento, significando que ele faz parte do sujeito sem fazer parte do mundo, sendo subjetivo e não objetivo.
A divergência entre desejo e vontade consiste em algumas características, enquanto que na vontade colocamos nossos pensamentos em ação, emanadas de uma fonte motivadora. O desejo está fortemente ligado as nossas emoções e pensamentos, assim nós motivando a ter o prazer.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É estranho que sendo o homem um animal social, seja tão difícil para ele realizar o exercício de sua capacidade de relacionar-se. Uma das maiores fontes de infelicidade e felicidade da vida humana são os relacionamentos.
Não apenas os relacionamentos amorosos, mas toda e qualquer relação com outra pessoa. Diferentemente das formigas, abelhas e outros seres vivos que se organizam socialmente, as relações humanas não são puramente instituais e requerem um esforço que os demais dispensam.
No decorrer do trabalho foi possível acentuar que o ser humano tem deixado o lado socioafetivo esquecido, procurando maneiras de se satisfazer, de realizar desejos, ao mesmo tempo em que consideram tudo o que acontece ao seu redor tedioso. Esses fatos demonstram o quanto às pessoas está se perdendo ao ponto de tornarem suas vidas vazias e sem qualquer sentido, aflorando o individualismo.
Como analisado por Schopenhauer as pessoas estão optando por disfarçar a dor com atividades diversificadas, sejam físicas ou mentais. Porém ainda que, de forma inconsciente, saibam que o sofrimento retornará, já que sempre vai perdurar o ciclo de desejar ou ter algo que o atraia, o sentimento de negação da dor, e ainda a luta pela superação da vontade individual, até que percebam que suas vidas não mais lhe pertencem.
O ser humano necessita aprender a lidar com a ebulição de sentimentos que permeiam sua vida desde sempre, desejo, frustração, amor, ódio, tédio, medo, coragem, vontade, precisa encontrar um equilíbrio entre suas emoções para aprender a relacionar-se. Afinal é uma das maiores coisas da vida: e que exige que se aprenda a ter para poder compartilhar, que permaneça cheio de amor para poder amar.
O resultado disso é que temos que nos conhecer melhor, para melhor nos relacionar com as pessoas próximas á nós. Para identificar nossas projeções e nos tornar empáticos com quem precisamos socializar diariamente. Manter as relações estáveis é difícil, mas imprescindível, uma vez que não somos indiferentes ás outras pessoas e delas dependemos para satisfazer nossas necessidades, sejam elas viscerogênicas, psicogênicas ou disposicionais, deve-se encarar a socialização como um desafio deixando de lado o excesso de orgulho e de egoísmo, e sem dúvidas, o torna-lo prazeroso para que possamos aproveitar.
REFERÊNCIAS
BUCKINGHAM, W.; KIM, D. O livro da Filosofia. EDITORA GLOBO, 2010.
SCHOPENHAUER, ARTHUR. Do mundo como vontade e representação. SARAIVA, 2012.
KOOGAN/HOUAISS. Enciclopédia e dicionário ilustrado. EDIÇÕES DELTA, 1994.
PLATÃO. O Banquete (Coleção os Pensadores). 5ª ed. NOVA CULTURAL, 1991.
Vários Autores. A Filosofia explica: porque é tão difícil se relacionar. São Paulo, Editora Escala, 2017.