A importância dos pensamentos para a “razão” é bem conhecida desde estudos filosóficos antigos. O filósofo René Descartes decretou a máxima: “penso, logo existo”, demonstrando a importância que os pensamentos têm para os comportamentos ditos racionais. A saúde mental, por sua vez, foi por muito tempo associada tanto à racionalidade quanto à normalidade. Nessas concepções, uma gama de aspectos subjetivos e afetivos fundamentais ao ser humano foram desconsiderados.
Os estudos sobre os pensamentos, emoções e saúde mental evoluíram. Hoje sabe-se que estes três elementos caminham de mãos dadas. Então como ocorre essa relação? Seriam os pensamentos positivos responsáveis pela saúde e os negativos responsáveis pelo sofrimento mental?
Bem, a relação não é tão simples. Embora muito divulgados pelas mídias populares, os pensamentos positivos não são tão poderosos assim, a menos que eles sejam baseados em fatos reais.
É fato que pensamentos modificam nosso estado afetivo, assim como estados afetivos modificam nossos pensamentos. A relação é bidirecional e complexa, pois também envolve nossa interação com o ambiente – situações que vivenciamos e a forma como as compreendemos. Além disso, nossa fisiologia também entra em curso, pois um estado de alteração orgânica – hormonal, por exemplo – pode modificar tanto nossos pensamentos, quanto nossas emoções e comportamentos.
A saúde mental consiste em um estado de equilíbrio entre todos estes elementos: pensamentos, emoções, fisiologia, comportamentos e interação ambiental. Você pode estar pensando: “puxa, que complexo isso”. Sim, de fato é complexo, mas ao longo de nossa vida desenvolvemos um padrão particular de funcionamento e, então, nosso organismo alia todos estes elementos automaticamente para conduzir-nos a um estado de equilíbrio.
Porém, muitas vezes saímos deste equilíbrio e então pode ocorrer o sofrimento psíquico na forma de ansiedade, depressão, dentre outras. Nessas situações vale a pena examinarmos nossos pensamentos e a forma como estamos percebendo a nós mesmos, aos outros e às situações em geral, pois percepções distorcidas podem conduzir a emoções negativas, o que, por sua vez, prejudica nossa interação com o ambiente, podendo dar início a um processo de sofrimento psíquico.
Uma tarefa terapêutica útil é você analisar o que está dizendo a si mesmo em situações de estresse e procurar entender as situações da forma mais realista possível, fugindo de armadilhas de pensamento, tais como:
· Acreditar que as situações são piores ou mais difíceis do que de fato são;
· Não reconhecer suas habilidades e potencialidades, julgando-se incapaz de lidar;
· Acreditar que algo de ruim aconteceu só porque você estava envolvido na situação ou só porque pensou sobre coisas ruins;
· Acreditar que se algo não aconteceu da melhor forma possível, então não tem valor etc.
Enfim, com muita frequência essas armadilhas de pensamento ocorrem, tornando distorcida nossa forma de perceber o ambiente e isto pode ser o desencadeador de um processo de sofrimento. Por isso, é muito importante cuidarmos da qualidade de nossos pensamentos se quisermos cuidar de nossa saúde mental.
Nota: Esse texto fará parte da próxima edição da revista “Fale Mais Sobre Isso”(www.falemaissobreisso.com.br/ ).