Por que acreditamos em fake news e como combatê-las: um olhar sobre os vieses cognitivos

Uma grande quantidade de informações que nós temos contato diariamente não são verdadeiras. Conheça porque acreditamos em fake news e como podemos combatê-la.

 

Naiane Ribeiro de Oliveira Silva – naianeribeiro@rede.ulbra.br

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O acesso a informações e notícias está mais fácil

O termo “Fake News” tem sido amplamente divulgado e debatido, visto que é algo que impacta as opiniões e comportamentos das pessoas. As fake news descrevem histórias e manchetes sensacionalistas ou enganosas que circulam pelas redes sociais. Embora o conceito de notícias falsas não seja novo, a forma como a sociedade consome tecnologia e mídias sociais facilitou a disseminação de informações falsas em escala global. Segundo o Centro de Tecnologia da Informação e Sociedade da Califórnia, as consequências desse fenômeno vão de manipulação da opinião pública à instabilidade política. Neste cenário, a implicação da psicologia ao estudo desse fenômeno é importante porque ela pode apresentar uma compreensão aprofundada sobre esta temática e colaborar para o seu enfrentamento.

Por que acreditamos nas fake news? Na psicologia do ser humano existe algo chamado viés cognitivo, que permite que as pessoas criem atalhos e padrões mentais para conseguir pensar e executar diversas atividades no dia a dia. Esse processo biológico é o que permite o aprendizado de padrões de comportamento. Exemplos como chegar na faculdade ou como escrever, para não ter a necessidade de aprender todas essas informações continuamente, são formas como esse aprendizado se torna útil. Uma vez que esse processo é algo que acontece em milésimos de segundo, é possível que alguns erros resultam disso.

Outro aspecto psicológico interligado às fake news, é o uso da  manipulação de emoções em manchetes para ampliar o alcance, e o ato das pessoas de não lerem o que a matéria ou artigo diz. De acordo com princípios do Behaviorismo e Análise Comportamental, a memória é influenciada pela emoção, aquilo que elicia uma resposta emotiva, pode ser associado aos comportamentos. Muitas fake news geram medo e engajam reações rápidas, sendo um contexto favorável para  a sensação de pânico na população. Outra emoção comumente eliciada, é a raiva, a partir da apresentação da informação de uma forma que cria um senso de urgência nas pessoas, podendo facilitar comportamentos agressivamente.

Uma característica psicológica muito importante para entender as fake news é o viés de confirmação. Neste tipo de viés, as pessoas tendem a procurar e acreditar em informações que confirmam suas crenças e essas informações apelam para tais crenças porque existe essa tendência de acreditar no que suporta tais visões. Esses aspectos são parte da individualidade de cada pessoa, mas se associam a interesses coletivos, como assuntos sobre religião, política, ciência etc. Um dos perigos desse viés é a interpretação pouco acurada da realidade, principalmente em contextos sociais e políticos em que as notícias inflamam ou suprimem conflitos sociais.

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Aplicativos de comunicação ampliam o alcance das fake news

Um setor diretamente impactado pelas fake news é o governo. A intencionalidade de governos e pessoas tem de ser analisada para entender o impacto social que as fake news produzem. A política é o principal motivador da geração dessas notícias, o que gera a polarização de opiniões e mobiliza a população, levando à manifestações violentas, como o caso Pizzagate. Neste caso, ocorreu a disseminação de uma teoria da conspiração envolvendo tráfico humano e a candidata à presidência dos estados unidos Hillary Clinton foi antecedente ao disparo de tiros dentro de uma pizzaria de Washington. Nesse contexto, algumas comunidades da extrema direita americana utilizaram das  redes sociais, contexto em que pessoas de vários países, bem como robôs (robôs-bots) divulgaram essa notícia falsa.

O exemplo mais recente das consequências da fake news está na atual guerra entre a Ucrânia e a Rússia, em que mídias sociais espalham conteúdos enganosos dos dois lados, o que pode gerar efeitos catastróficos para a população, de acordo com pesquisadores de Cambridge. Não saber se uma notícia é real ou falsa é confuso, e fazer essa distinção é difícil, no entanto existem formas de combater esse fenômeno, como o uso de algoritmos que detectam informações falsas e as removem. Algumas redes sociais, como o Instagram utilizam desses algoritmos para rotular e avisar os usuários quando uma postagem que foi verificada é falsa.

Outra forma de combate é a alfabetização midiática, que se tornou essencial para crianças e jovens que estão cada vez mais inseridos na tecnologia e no mundo da internet. Essa alfabetização é a capacidade de acessar e analisar informações e redes sociais de uma forma crítica para que os indivíduos possam se inserir na sociedade através das mídias. É um conceito importante para a psicologia porque as relações estão cada vez mais envoltas na tecnologia, assim como a subjetividade é influenciada por ela.

Para além das abordagens reativas, é necessária uma análise do sujeito sobre a ótica das consequências das fake news, como isso impacta a confiança? Como isso impacta a democracia? O que muda quando o sujeito é exposto a fake news por muito tempo? A tecnologia, sendo a maior propagadora disso tudo e mudando a forma de raciocínio, pode resolver esse problema?

A solução mais prudente é pensar de forma crítica sobre a veracidade das informações antes de compartilhá-las e se atentar a características dessas notícias, como sites que parecem ter credibilidade mas não tem, em vez de www.globo.com estar acessando www.globo.com.co. Uma outra recomendação muito relevante é o site https://www.aosfatos.org/, um site brasileiro de checagem e investigação de notícias. É importante saber quais canais de notícias são confiáveis e não extremistas, a verificação de fatos pode diminuir a incidência desses casos. Também existem jogos que ensinam sobre notícias falsas ao colocar o usuário em contato com a possibilidade de produzir sua própria notícia, assim se familiarizando com o processo de manipulação e podendo reconhecê-lo mais facilmente.

 

REFERÊNCIAS

Center for Information Technology & Society; Santa Barbara, CA; < https://www.cits.ucsb.edu/fake-news/why-we-fall > Acesso em 24/02/2023.

Center for Information Technology & Society; Santa Barbara, CA; < https://www.cits.ucsb.edu/fake-news/danger-social > Acesso em 28/02/2023

Center for Information Technology & Society; Santa Barbara, CA; <https://www.cits.ucsb.edu/fake-news/protecting-ourselves-teach >  Acesso em 28/02/2023

Jenny Gross;; 20/01/2023 <https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2023/01/como-a-finlandia-esta-ensinando-uma-geracao-a-detectar-desinformacao.shtml> Acesso em 28/02/2023

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SPINELLI, Egle Müller. Comunicação, Consumo e Educação: alfabetização midiática para cidadania. Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, v. 44, p. 127-143, 2021.