Produto, do latim productus, aliado ao sufixo -dade, resulta em produtividade. Essa palavra foi usada pela primeira vez por um economista francês, com o sentido de rendimento de produção, e atrelar isso à pandemia me trouxe muitos questionamentos.
Em primeira instância houve toda uma euforia/frenesi criada de que seríamos capazes de dobrar nossa produtividade e tempo, pois retiramos o gasto de ir até os locais de trabalho e estudo, basta eu acordar e mudar de cômodo (ou não) para que eu chegue à reunião ou a aula marcada. Contudo, foi esquecido todas as interferências externas e internas que há dentro de uma residência, e dois fatores primordiais: o custo a longo prazo que todo o isolamento iria causar no psicológico e de como toda a euforia de fazer múltiplas tarefas em casa afetaria esse mesmo psicológico. Uma observação que faço também é como todo o conceito de produtividade se conecta apenas a determinados tipos de atividades, como o estudo ou trabalho, ignora-se os exercícios que são vistos de modo simplório ou como ‘’obrigações básicas’’, por exemplo regar as plantas, ler um livro ou passear com o seu animal de estimação.
Ocorre um alívio e desespero da não socialização: de um lado não há mais a preocupação da interação social e toda a pressão que há nela, por outro há a saudade das pessoas mais íntimas que não residem com você. E além disso, é desaprendido a se portar em público, estamos imersos a tantos meses em uma rotina onde se evita o sair e socializar que ficamos isolados em nossas bolhas, não significando que nos isolamos do mundo, o bombardeamento intenso de informações e obrigações, contrário a tudo isso, intensificou-se por meio da internet, e uma vez que o emocional não está em dia agrava a situação.
O cérebro humano se adapta de maneira muito singular as coisas, temos toda uma plasticidade neural que nos possibilita o aprendizado ao longo de toda a nossa vida, porém, nosso cérebro não para, enjoamos das coisas, nos acostumamos a elas, buscamos sempre algo novo para entreter um órgão tão complexo como o cérebro. E junto a todos esses fatores, somos seres sociais, desde a antiguidade andamos e convivemos com grupos de pessoas, o que nessa nova realidade não é isso que ocorre.
Depois de tantos meses de isolamento, separou-se os grupos de pessoas: por um lado temos aqueles que tiveram a oportunidade de colocar em suas rotinas atividades, que em um contexto não pandêmico eram inviáveis, aumentaram sua produtividade, otimizaram seu tempo de modo a encaixar vários afazeres; por outro ocorreu o cansaço mental, de ter chegado a um ponto de exaustão no qual se resguarda todo o resquício de saúde mental, não há ânimo e forças para continuar em um ritmo de produção como no início da pandemia. Não se resume à um simples desanimar por preguiça ou tédio, estamos em constante movimento e mudança, tanto relacionado ao desenvolvimento mental quanto ao físico, o nosso corpo passa por inúmeras autorregulações, porém instintivamente não gostamos de quando algo foge do nosso controle, não estamos preparados integralmente para isso.
Nas redes sociais há um novo nicho de criadores de conteúdo, os famigerados influencers de estudos, em canais do Youtube ou no Instagram, ensinam macetes de como se tornar mais produtivos e render mais nos estudos, contudo, é criado um ideário de estudante que mais parece uma vitrine: com os mais diversos materiais escolares, no qual o estudo é visto de modo muito simplório de ‘basta querer que você consegue’, uma rotina fantasiada saída de um roteiro de filme. Ademais, o luto foi normalizado, os números diários de pessoas contaminadas ou mortas já não assustam mais, ainda há aqueles que resistem e se mantém isolados, mas a grande maioria chegou a um ponto de exaustão que não importa mais, não entrarei em pauta aqui sobre aqueles que em momento algum respeitaram o isolamento, a incerteza do amanhã foi naturalizada.
Entrei em um looping até chegar em um estado de saber lidar melhor com a situação, desde ter a rotina mais próxima a ‘’normalidade’’, até aos poucos substituir todas as atividades possíveis por passatempos, principalmente os que envolviam atividades manuais, longe das telas de celular ou computador, houve também todo um sofrimento e cobrança por parte da minha consciência, pois sou uma acadêmica como todos acadêmicos, no qual há prazos de entregas de trabalhos e provas, chega a ser irônico escrever sobre essa pauta e ter demorado 1 mês para finalmente colocar meu insight em uma folha. Foi todo um novo autoconhecimento de entender a nova realidade que estamos passando, a incerteza que ela carrega atrelado a sociedade em que estamos inseridos e entender quais são as minhas novas demandas, potencialidades e limitações que adquiri.