Certa vez li um texto do Abílio Costa-Rosa em que dizia que o profissional em Saúde Mental deveria seguir alguns requisitos, como: produzir saúde, suprimir sintomas e reinserir socialmente.
Após ter lido este texto, me senti mal, fracassada como profissional, em uma situação vivenciada no meu estágio de Processos de Promoção e Prevenção em Saúde, no CAPS. Geralmente almoçava acompanhada por uma usuária do serviço. Enquanto eu comia, trocávamos algumas palavras. Neste dia, estava ocorrendo tudo como o de rotina, até que começamos a falar sobre sua família, e então perguntei sobre os seus pais. A usuária parou por um momento, olhou nos meus olhos e disse suavemente “Tô em CRISE!”. A partir desta frase proferida, comecei a pensar que havia falhado como profissional. Enfim, em vez de possibilitar que os sujeitos se estabeleçam de uma crise, eu estava favorecendo a existência de algo tão temido neste campo.
A fim de tentar lidar com a culpa que eu havia me imputado, comecei a questionar. Será que como profissional de Saúde Mental, devo sempre suprimir sintomas? … Produzir saúde? … Reinserir socialmente? Será mesmo, que este é o nosso papel?
Estas questões, me fizeram pensar, que se a nossa prática estiver baseada nestes aspectos seria semelhante a tratar de robô. Tratar mesmo, não diria cuidar. De forma que quando estes robôs chegassem ao serviço, nós apertaríamos o botão para mandar parar de delirar, alucinar, chorar, e em última análise, parar de sofrer com a sua existência. Mas espere, aí! Existência?
Nós devemos apertar um botão indicando a supressão de sintomas? Ou facilitar o outro a enfrentar as suas problemáticas construídas no caminho percorrido na vida? Devemos apertar a tecla produzir saúde?
Ou acolher as subjetividades ali, encontradas?
Neste sentido, o mesmo autor citado no inicio, Costa-Rosa, afirma que o profissional em Saúde Mental não deve centrar as suas práticas nesses três pontos apresentados, mas sim cuidar da existência, de maneira geral. Já que o autor entende que os sintomas são conflitos constitutivos e inalienáveis do sujeito. Sendo assim, devem ser respeitados e cuidados pelo profissional de Saúde Mental. Acredito na ideia descrita por Abílio Costa-Rosa, não como apenas uma forma de resolver a minha culpa, mas por essa ser uma noção antropológica e ética defendida por mim.
Não sei se aquilo que reflito no momento indica algum caminho de como deve ser a atuação do trabalhador do campo da saúde mental. No entanto, percebo que esta produção não deve ter a supressão de sintomas como alvo principal. Então, fico aqui com a frase de Basaglia: ”Não sei o que quero, mas sei aquilo que não quero.”