A questão sobre diversidade sexual e psicologia tem sido alvo e palco para grandes debates no país. A atuação do psicólogo em relação à sexualidade está sendo questionada por parte dos evangélicos que defendem que as diversas expressões da sexualidade humana são comportamentos aprendidos e por parte “danosos” para a população baseados em teorias religiosas. O deputado João Campos, delegado da polícia civil e pastor evangélico, numa tentativa nada pretenciosa, criou um Projeto de Decreto Legislativo (PDC) visando sustar o artigo 3° da resolução 01/99 do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e seu parágrafo único, garantindo assim, que os psicólogos (principalmente os que defendem a bandeira protestante) possam compactuar com a chamada “cura gay”.
Estamos vivendo o momento histórico da conscientização social e da afirmação das massas em suas lutas por dignidade, respeito e igualdade. O movimento Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgênero (LGBTTTs) está atuante em lutas por garantias de espaço e de direitos. Em contra partida, os movimentos religiosos fundamentalistas saem ao ataque oprimindo e desejando calar uma expressiva parte da sociedade, apoiados em seus princípios judaico-cristãos.
A briga torna-se mais forte quando entra em debate a laicidade do estado brasileiro. Os religiosos se manifestam apropriando-se disso ao buscarem implantar sua cultura dita “Democrática”. Essa promete ser uma discussão que se estenderá por muito tempo, cabe a nós, enquanto cidadãos, acompanharmos de perto as discussões, tornando-nos cientes dos fatos, antes de tomar partido.
Trazendo para o campo da psicologia, recentemente, a proposta do movimento protestante pretende sustar a parte da resolução 01/99 do Conselho Federal de Psicologia (CFP) que veda aos psicólogos, em sua prática, qualquer medida que vise tratar como doença quaisquer umas das diversas orientações sexuais e/ou expressões da sexualidade humana. Psicólogos protestantes, que atuam em favor da heteronormatização acusam o CFP de omissão na prestação de serviço de reorientação à categoria LBGT que passa (ou alegam passar) por sofrimento psíquico. É bastante claro o artigo 3° da resolução que diz
Os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados” (art. 3º da Resolução 01/99 do CFP, grifo meu).
Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades (idem).
Fico me questionando: “Por que existem homossexuais com sofrimento psíquico?” A resposta é óbvia. Enquanto estivermos debaixo de um país onde a religião está ditando as ordens e leis do estado: o negro; o índio; o homossexual; a mulher e tantas outras classes oprimidas estarão em eterno sofrimento, não só o psíquico, mais também social, familiar, pessoal, etc.
Mas ainda fica no ar a pergunta: Qual seria o interesse de um pastor e delegado em sustar uma resolução do Conselho Federal de Psicologia?
Faço minhas as palavras do deputado Jean Wyllys “O psicólogo deve cooperar para que o seu cliente, que passa por sofrimento psíquico por conta da sua sexualidade, vá da opressão ao orgulho”.
Meu caro colega, estudante ou psicólogo, você (principalmente você que tem uma convicção religiosa), seria interessante desconstruir certos (pré)conceitos e entender que: PSICOLOGIA É PSICOLOGIA e RELIGIÃO É RELIGIÃO. Em nossa ciência, acima de todo interesse pessoal, objetivamos favorecer o bem estar do outro. Essa é a nossa bandeira.