Ana Carla Olímpio Soares (Acadêmica de Psicologia) anacarlaolimpio@rede.ulbra.br
A psicologia se caracteriza como uma profissão de amplas oportunidades de atuação, permitindo assim, aos profissionais atuarem desde a clínica, unidades básicas de saúde – UBS, centro de referência especializado de assistência social – CREAS, centro de referência de assistência social – CRAS, hospitais e diversos outros ambientes. Outro exemplo, é a atuação do psicólogo na rede de ensino, na área da psicologia escolar.
Segundo Oliveira e Araújo (2009) o surgimento da prática do psicólogo escolar se deu como mecanismo de correção e adaptação à escola e do estudante que possuía problemas no processo de aprendizagem. As autoras complementam que apesar da atuação do profissional ser no ambiente escolar, ainda persistia ações que eram de caráter dos atendimentos clínicos, como por exemplo, uso de testes por meio das avaliações psicológicas, visando chegar a um possível diagnóstico.
Com esse intuito de que o psicólogo escolar resolvesse todas as problemáticas nas instituições, seguindo à risca o modelo médico, Oliveira e Araújo (2009, p. 649) evidenciam que como consequência desse modelo seguido, trouxe a “patologização e psicologização do espaço escolar”, colocando os alunos como sujeitos culpados pelas dificuldades que apresentavam e retirando a escola de suas responsabilidades enquanto instituição que possuía seus deveres no processo de ensino-aprendizagem.
Apesar desse início, Oliveira e Araújo (2009) colocam que com o passar do tempo, o papel do psicólogo na escola foi sendo revisto para então chegar a uma ação que fosse de fato benéfica para o ambiente e os sujeitos inseridos nele. Ao passo de novas maneiras de se fazer a psicologia escolar, Oliveira e Araújo (2009, p. 650) colocam que,
As mudanças vêm ocorrendo de forma que se encontram, cada vez mais, relatos de experiências de psicólogos que se preocupam em não culpabilizar o aluno pelas dificuldades que enfrenta e tentam conscientizar os demais profissionais de que a problemática do aluno está inserida em uma gama maior de determinantes que não apenas os individuais, os familiares ou os psico-afetivos (Cruces, 2003; Neves; Almeida, 2003; NEves; Machado, 2005).
Para Oliveira e Araújo (2009), este processo de repensar o fazer psicológico na escola, se fez fundamental para evitar de perpetuar cenários de exclusão com aqueles alunos que apresentavam dificuldades no processo de aprendizagem, pois não havia ampliação do olhar para as variáveis que interferiam neste processo.
Referente a psicologia escolar, Oliveira e Araújo (2009, p. 651) embasam-se nos estudos de Marinho-Araújo e Almeida (2005) para dar significado a ela, sendo que é “um campo de produção de conhecimentos, de pesquisa e de intervenção e que, entre outras atribuições, assume um compromisso teórico e prático com as questões relativas à escola e a seus processos, sua dinâmica, resultados e atores”. Podendo dizer assim que, o fazer da psicologia escolar além de ser um âmbito do psicólogo atuar, é um meio onde permite produzir estudos científicos, “caracterizado pela inserção da Psicologia no contexto escolar, sendo que o objetivo principal deste campo é mediar os processos de desenvolvimento humano e de aprendizagem, contribuindo para sua promoção” (Oliveira; Araújo, 2009, p. 652).
Com relação ao profissional, as autoras Oliveira e Araújo (2009) esclarecem que, diferente da atuação clínica, o psicólogo escolar não se utiliza apenas de uma teoria ou metodologia para produzir as intervenções/ações, ele se utiliza dos mais diversos saberes que possam auxiliá-lo na melhor maneira de atuar no espaço, dando assim, um amplo embasamento para lidar com as necessidades que surgem. Complementam que apesar da escola ser o lugar principal de atuação desse profissional, não se limita apenas a ele.
(…) evidencia-se que a atuação da Psicologia Escolar relaciona-se com contextos de natureza educativa nos quais os processos de aprendizagem e de desenvolvimento humano, e a relação que se estabelece entre eles, são tidos como foco do trabalho. A intervenção desencadeada pelo profissional da área volta-se, essencialmente, para a mediação desses processos com o objetivo precípuo de promovê-los (Oliveira; Araújo, 2009, p. 653).
Apesar das evoluções no fazer da psicologia escolar e na atuação do psicólogo, ainda é possível encontrar em algumas instituições a ideia de que o profissional pode resolver todos os conflitos/necessidades/dificuldades que envolvam o aluno e o processo de aprendizagem, onde de acordo com Andaló (1984, p. 43), “que lhe é atribuída a decisão e o julgamento a respeito da adequação ou inadequação das pessoas em geral. São as duas faces de uma mesma moeda de um lado o mágico, o salvador, e do outro, um elemento altamente persecutório e ameaçador.”. De acordo com a autora, esses papéis podem gerar resistências e dificultará ou impedirá do psicólogo escolar desempenhar sua função.
Para além disso, Andaló (1984) expõe que por vezes ao ser repassado a ele o discente que possui as dificuldades no ambiente escolar, pode gerar no professor, a ideia de que ele não é responsável por aquele sujeito, colocando de responsabilidade apenas do psicólogo, enquanto na verdade, o que deveria ser realizado era o trabalho multidisciplinar com esse aluno. Porém, como Oliveira e Araújo (2009) trazem em seu estudo, a inserção do professor neste processo é fundamental para que este se perceba como sujeito integrador das questões relacionadas ao ensino-aprendizagem, gerando assim, uma cooperação entre profissionais.
Mas para Oliveira e Araújo (2009), a inserção do professor no processo não se deve passar apenas para que ele se veja parte do processo, mas para que também apresente uma atenção voltada a saúde mental, pois
Em virtude do forte vínculo afetivo, do intenso investimento no outro (o aluno) e da expectativa em relação aos resultados de seu trabalho, é comum identificar professores cansados, abatidos e desmotivados diante da tarefa de ensinar. Tais situações caracterizam professores que sofrem da síndrome de burnout e que precisam da intervenção do psicólogo escolar (e de outros profissionais de saúde) para modificar este quadro de sofrimento e reencontrar o prazer e alegria de ensinar (Oliveira; Araújo, 2009, p. 659).
Cabral e Sawaya (2001) trazem resultados de pesquisa que indicam que cerca de 50% a 70% de crianças são encaminhadas aos serviços públicos de saúde com queixas de dificuldade de aprendizagem ou relacionados a problemas de comportamento no ambiente escolar, diante disso, traz uma crítica acerca do mesmo ponto levantado pelos outros autores utilizados no decorrer do texto sobre o olhar voltado apenas para os alunos como sujeitos responsáveis para esses problemas, excluindo os profissionais vinculados ao espaço que eles estão presentes.
Como uma alternativa de mudanças para essas situações, Andaló (1984) dá destaque em seu trabalho para um psicólogo escolar “agente de mudanças”. A autora acredita que ao exercer um papel ativo, o psicólogo é capaz de promover no espaço inserido, reflexões diante de todo o cenário em que a instituição atua. Mas para que esse trabalho seja bem desenvolvido, a autora evidencia a necessidade de abranger a visão sobre o discente desde a suas relações dentro quanto fora do ambiente escolar, buscando compreender os sistemas em que ele é inserido e como esses afeta-o, assim como além da compreensão acerca dos estudantes, é necessário compreender a instituição, como ela funciona e como é sua realidade, buscar aproximar toda a equipe (professores, diretores e coordenadores) para que também possam compreender o que ocorre no meio escolar.
Andaló (1984, p. 46) complementa que é imprescindível
conscientizá-los da realidade da sua escola, refletindo com eles sobre os seus objetivos, sobre a concepção que subjaz ao processo educacional empregado, sobre as expectativas que têm de seus alunos, sobre o tipo de relação professor-aluno existente, enfim sobre a organização como um todo.
A autora ainda acrescenta que é necessário retirar o foco apenas do aluno como “culpado” dos problemas de aprendizagem, evidenciando um olhar amplo da situação, mas que não menos importante, é necessário também saber identificar quando de fato a problemática está vinculada apenas ao aluno, para que assim, possa ser realizado as intervenções necessárias para que não prolongue esse déficit.
A presença do psicólogo escolar nas instituições ainda não é possível encontrá-lo 100% nelas, mas é de fundamental importância a presença desse profissional, pois pode gerar ao local melhorias nas relações que acontecem na escola, uma ampliação de olhar nos processos de ensino-aprendizagem, possibilidade de uma reorganização nas demandas, abrir portas para o trabalho multidisciplinar e também conseguir aproximar as famílias/responsáveis da responsabilidade pelo processo de aprendizado dos alunos. Levando em consideração a singularidade de cada sujeito inserido nesse contexto.
REFERÊNCIAS
ANDALÓ, Carmem Silvia de Arruda. O papel do psicólogo escolar. Psicologia: ciência e profissão, v. 4, p. 43-46, 1984.
CABRAL, Estela; SAWAYA, Sandra Maria. Concepções e atuação profissional diante das queixas escolares: os psicólogos nos serviços públicos de saúde. Estudos de Psicologia (Natal), v. 6, p. 143-155, 2001.
DE OLIVEIRA, Cynthia Bisinoto Evangelista; MARINHO-ARAÚJO, Claisy Maria. Psicologia escolar: cenários atuais. Estudos e pesquisas em psicologia, v. 9, n. 3, p. 648-663, 2009.