Nos últimos anos, o tema “saúde mental” vem ganhando cada vez mais atenção, apresentando relação com o meio externo, podendo-se identificar demasiados fatores contribuintes. A influência do ambiente é um dos fatores determinantes no processo saúde/doença, acarretando adoecimento mental e físico em milhares de cidadãos. Em vista disso, é importante compreender alguns desses modelos que causam adoecimento mental, como estresse, esgotamento, depressão, ansiedade, burnout e entre outros, que, de acordo com Vasconcelos e Faria (2008), a cada ano ocorre um aumento do número de registro de doenças relacionadas ao trabalho. Esses dados chamam a atenção dos pesquisadores a fazerem uma relação entre o surgimento de doenças físicas e psíquicas e o meio profissional no qual estão inseridas.
O ambiente organizacional se torna um dos principais focos dessa discussão, em que as organizações reconhecem que o bem-estar dos colaboradores é vital para a produtividade e o sucesso organizacional (Silveira, Fraisoli, 2024), afetando diretamente a performance do colaborador, assim como sua motivação e a satisfação daquele ambiente. Entretanto, “entender a precarização do trabalho é importante para perceber a realidade subjetiva vivida pelos trabalhadores que são obrigados a conviver em um mundo onde se perdeu uma série de garantias e direitos, de conquistas que protegiam social e psiquicamente as pessoas” (Lancman; Uchida, 2003).
Seguindo na mesma linha de raciocínio da autora acima, compreende-se que é exigido sempre um ritmo do empregado/trabalhador de produtividade, que é alcançado intensificando o ritmo de trabalho, desconsiderando os processos fisiológicos e cognitivos humanos. O trabalhador, para manter seu desempenho e a produtividade, sobrecarrega seu organismo, ficando mais vulnerável a quadros de adoecimento.
Sabemos que, muitas das vezes, o clima organizacional pode ser bastante competitivo e, de acordo com Tatiana, Michaud (2024), a pressão é um dos principais motivos para o afastamento do colaborador, assim como alta demanda, cobranças por dedicação extrema e até mesmo relacionamentos interpessoais não saudáveis. Portanto, percebe-se que o ambiente de trabalho desempenha um papel crucial na saúde mental e no bem-estar dos funcionários. Há de se pensar que quando o ambiente de trabalho se torna hostil, os colaboradores se tornam propensos a patologia relacionadas ao adoecimento no trabalho, ou seja, como diz Lancman; Uchida (2003), o trabalhador utilizou todos os seus recursos intelectuais e psico-afetivos para lidar com as atividades e demandas impostas pela organização e percebe que nada pode fazer para se adaptar e/ou transformar o trabalho, assim, desenvolvendo uma patologia mental.
Com base nesses estudos relacionados a saúde mental e trabalho, em novembro de 2023 foi publicada a Portaria GM/MS nº 1.999, onde foi publicada a Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho (LDRT) que traz o acréscimo de 165 patologias, elevando o número de doenças relacionadas ao trabalho de 182 para 347. A síndrome do esgotamento profissional (burnout) e os transtornos de ansiedade e depressão estão entre as novas doenças incluídas (Agência CBIC, 2023).
Desse modo, através das discussões relacionadas aos trabalhos, às organizações e ao adoecimento mental, é imprescindível estabelecer recursos que beneficiem a organização no geral, mas principalmente a saúde mental do trabalhador e sua individualidade, impondo e intervindo na importância de favorecer a saúde mental, assim favorecendo a rede empregadora. Desenvolver espaços seguros para ouvir e para agregar com esse sofrimento psíquico pode fazer muita diferença para a transformação de uma organização.
REFERÊNCIAS
Gupy. A pressão no trabalho prejudica o colaborador? Entenda como lidar com ela. 2023. Disponível em:
<https://www.gupy.io/blog/pressao-no-trabalho#:~:text=A%20press%C3%A3o%20no%20tr abalho%20prejudica,ao%20bem%2Destar%20dos%20colaboradores> . Acesso em: 19 set. 2024.
Souza, E. M.; Lemos, F. C.; Barbosa, R. M. O novo ideal do indivíduo empreendedor e suas implicações no sofrimento psíquico. Psicologia & Sociedade, 28, n. 1, 2016. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/psoc/a/6X46nvFMKpmcLKv7HnYx76R/#:~:text=O%20novo%20ide al%20do%20indiv%C3%ADduo,o%20mais%20lembrado%20pelos%20entrevistados> . Acesso em: 19 set. 2024.
Loures, L. S. A relação entre o estresse no trabalho e as doenças ocupacionais. Estudos Psicológicos, 35, n. 2, 2017. Disponível em: <https://www.redalyc.org/pdf/3882/388239954005.pdf>. Acesso em: 19 set. 2024.
Cbic. Confira a lista atualizada de doenças relacionadas ao trabalho. 2023. Disponível em: <https://cbic.org.br/confira-a-lista-atualizada-de-doencas-relacionadas-ao-trabalho/#:~:text=A%20s%C3%ADndrome%20do%20esgotamento%20profissional,entre%20as%20novas%20doen%C3%A7as%20inclu%C3%ADdas> . Acesso em: 19 set. 2024.
Autores: Jéssica Nascimento Suarte, Nicolas de Oliveira Portilho e Luiz Gustavo Santana.