Estamos aprisionados dentro de nós mesmos, de uma forma que nunca poderemos nos libertar; essa prisão não é física, mas sim mental. Estamos sozinhos quando nascemos e ficaremos sozinhos até o dia de nossa morte. Não é porque não existam pessoas que nos amem, não pela falta de amizade ou mesmo pela falta da presença de outras pessoas ao nosso redor. A solidão é inerente ao ser humano. Quando alguém agarra o nosso braço, o que sentimos não é a mão de alguém a nos agarrar, mas sim o nosso braço sendo agarrado por alguém, quem sente a mão a agarrar é o seu portador. Todas as sensações sensoriais são nossas e é impossível sentir o que o outro sente, é impossível entrar em simbiose com alguém ou se você preferir, é impossível se conectar completamente com alguém; é como se estivéssemos navegando em um oceano a noite, onde o que vemos é apenas a escuridão. Você está sozinho quando a sua mãe lhe abraça com aquele abraço de amor, quando você beija alguém, até mesmo no seu orgasmo; se você parar para pensar, a sensação que o outro sente quando atinge o orgasmo é simplesmente misteriosa, por mais que você esteja dentro do outro, ou que aquela pessoa esteja dentro de você, ainda assim é um mistério, o máximo que você pode fazer é imaginar se aquela pessoa sente a mesma coisa que você quando atinge o seu.
Se seguimos pesando sobre a questão de sentir, percebemos que também é impossível conhecer plenamente alguém, tudo o que temos são impressões das outras pessoas, são construções que criamos ao longo do tempo com os tijolos que aquela pessoa nos fornece, entretanto, ninguém se revela plenamente e mesmo que se revelasse, ainda assim distorceríamos ela com as nossas interpretações pessoais; no final das contas, não conhecemos de fato a nossa mãe, filho, marido, amigo e as vezes nem mesmo a nós próprios. Talvez seja daí que vem a vontade de Deus, uma vontade de sermos preenchidos por um ser que nos conhece desde ante mesmo de nascermos, que sabe o que vamos dizer antes mesmo que as palavras cheguem a nossa língua; talvez seja desse medo do vazio que necessitamos tanto de um ser que nos guie em uma vida no além vida, por um lugar cheio de prazeres indescritíveis, por uma cidade onde todos vivem em harmonia com esse ser que tudo sabe, ver e pode; onde enfim poderemos ser um, assim como o filho e o pai são um.
O próprio amor, nada mais é do que a manifestação física da solidão. Você já se perguntou por que ama alguém tão diferente de você? Por que você ama aquele presente que você ganhou daquela pessoa que lhe é muito cara? Ou o carro novo que você comprou? Ou ainda aquele seu amigo que ninguém suporta senão você? Talvez a solidão seja o sentimento base de todo o ser humano, e tudo que fazemos, fazemos em função desse sentimento que na maioria das vezes é inconsciente, que quase nunca se manifesta de forma perceptível ou como ele realmente é. A busca pelo amor, poder, felicidade, sabedoria, paz, espiritualidade; todas essas buscas têm como seu pano de fundo a solidão.
Apesar dessa solidão ser as vezes massacrante, podemos afirmar com quase toda certeza que é melhor viver com ela do que sem; já imaginou se seu namorado soubesse o que você pensa quando ver o Aquaman sem camisa saindo da água e jogando os seus longos cabelos para trás? Se o seu chefe soubesse dos nomes que você chama ele mentalmente? Inicialmente parece ser algo tristonho, mas se olharmos bem de perto, veremos que é essa solidão que nos faz tão únicos; é essa solidão que nos permite que sejamos livres dentro de nós mesmos, por mais que estejamos enjaulados em uma prisão física, nada poderá nos prender em nossa mente. Talvez esse oceano que vivemos não seja noite, mas sim um belo dia de sol, sem nuvem e com pássaros voando para o sul, com golfinhos e com baleias esguichando água ao céu. Quando achar que estiver sozinho, lembre-se que você está com a pessoa que mais importa, você.