É tudo descartável. Não prestou? Troca. Não gostou? Troca. Envelheceu? Troca. Infelizmente, chegamos a isso. Como fazer nascer, nos nossos relacionamentos, vivência e cotidiano, uma nova cultura? A de que é possível ‘ficar’? E ficar aqui tem o sentido de permanência. Continuidade.
O consumismo desenfreado chegou também nos relacionamentos. Ficamos descartáveis. Lembro do filme Toy Story, que apresenta a saga dos brinquedos que temem o dia em que vão ser trocados, substituídos. Bem que poderia valer para a vida da gente, a célebre frase do filme: “Ao infinito e além”, dita pelo personagem Buzz Lightyear. Assim, nossa ligação com produtos, serviços, relacionamentos, mudaria. Íriamos querer para sempre, ainda que isso significasse ‘apenas’ uma vida.
Tudo bem que ter alternativas à disposição é sempre bom. A gente conquistou isso, depois de uma outra batalha. Aquela que permitiu ao consumidor, às pessoas, no aspecto geral, não ficarem reféns do monopólio, da única opção. Mas, se levamos bem de um lado, perdemos a noção de outro.
Por isso, talvez, não cuidemos bem dos idosos. Queremos descartá-los também. Envelheceram, né? É uma pena, porque esse, e com certeza serei redundante, é o destino de toda a humanidade: envelhecer.
O que fazemos, então? Refletirei rapidinho.
O que faz a gente ser especial, de forma tal que ninguém pense em nos substituir? Eu quero usar de novo, como exemplo, um dos três filmes Toy Story. Para descrever um dos inesquecíveis brinquedos-personagens, veja só o que outro brinquedo ‘falou’:
– O Woody tem sido meu amigo desde sempre, é corajoso como um cowboy deve ser, é gentil, inteligente, mas o que faz o Woody especial, é que ele nunca desiste de você. Nunca. Ele vai estar contigo pro que der e vier.
Estar junto, para o que der e vier, é uma das formas de dizer:
– Eu estou aqui, se precisar. Eu fico contigo, se quiser. Eu te ajudo, se precisar.
Daquele jeito que a gente pode até não usar, mas sabe que se precisar, vai ter onde recorrer. É como brinquedo velho. Não tem a mesma beleza, o colorido, a novidade do início. Mas está lá, na prateleira, na caixa de brinquedos, quando a criança procura.
Imagine a dor de quem é descartado? Você gosta de ser deixado(a) de lado, quando alguém compra ou encontra algo(alguém) novo?
Isto não quer dizer que somos obrigados a ficar com aquilo que não gostamos, não queremos, não aprovamos. Não é isso. Ninguém é obrigado a nada, ou pelo menos, não deve ser. Mas também não é obrigado a comprar, a escolher, a querer e depois descartar.
Antes de decisões radicais na vida, antes de tratar pessoas e relacionamentos como coisas, produtos, é bom se dar conta que a vida é um ciclo, um círculo, um vai e vem. Próprio da lei da física: da ação e da reação.
Se não prestou? Conserte. Se não gostou? Olhe por outro ângulo, veja se tem qualidades que parecem escondidas, reavalie. Envelheceu? Vamos de música sertaneja: “panela velha é que faz comida boa”.
Eu quero mesmo, e aí é minha vontade pessoal, ser para aqueles que me amam, insubstituível. E assim, quem sabe possa ouvir destes “alguéns” a quem eu amei muito, uma frase de filme:
– “Eu nunca mais verei um pôr do sol sem lembrar de você!” (PEARL HARBOR)
E você, o que quer?
Nota: Texto publicado originalmente no Blog da autora: www.jocyelmasantana.wordpress.com