Subjetivação e Trabalho na contemporaneidade a partir de um contexto histórico

Antes do golpe de 1964, os trabalhadores davam apoio aos movimentos de reformas urbanas e agrárias que lhes trariam melhores condições de desenvolvimento profissional, educacional e direitos diversos. Os trabalhadores se organizavam a partir do Comando Geral de Trabalhadores – CGT, fundado em 1962, e para atender às exigências dos trabalhadores o governo tenta equilibrar os interesses desses com os da elite. Mas ao se aproximar da data fatídica do golpe os militares reprimem qualquer ação dos trabalhadores prendendo, torturando seus líderes e representantes sindicais e depredando suas sedes para evitar aglomerações e motins.

Os latifundiários viam na ditadura uma forma de evitar a reforma agraria e assim controlar os trabalhadores para estes não o impedissem de acumular bens. Senhores de engenho e empresários apoiam o movimento militar na esperança de atingirem seus objetivos, assim se fez “o golpe de 1964, a despeito de mascarar seu propósito ditatorial, mediante uma intensa agitação e propaganda em torno da manutenção do regime democrático” (p. 63).

Nesse laço infiltra-se, entre os trabalhadores, os agentes de entidades governamentais (militares) para fins listar os representantes e marca-los, as empresas por sua vez financiavam as ações policiais e nessa colaboração mútua configurou um poder disciplinador, contribuindo para graves violações de direitos humanos tais como violências, ameaças, abuso de poder, crimes diversos, assédio moral, e a repressão, pois “os interventores de plantão, designados pelo governo, podiam identificar e denunciar o passado de militantes, o presente de trabalhadores inconformados e o futuro dos ativistas e das lideranças que planejavam a resistência e a luta” (p.65).

As articulações sindicais em prol dos seus filiados e trabalhadores em geral eram retaliadas e qualquer tentativa de movimentação era muito arriscada levando a consequências como demissões, invasões domiciliares para investigar militantes, tortura de seus parentes para arrancar informações. Os trabalhadores ativistas eram marcados e seus nomes passavam pelas fábricas na tentativa de lhes barrarem ainda na contratação. A vigília e monitoramento reforçam a exploração de trabalho, e põe em voga direitos outrora conquistados.

Fonte: encurtador.com.br/sBIUW

As greves passam a ter um rigor impossível de ser realizadas, salvo os trabalhadores que estavam a mais de três meses sem salários, os salários passaram a ter incidência inflacionária fazendo com que diminuíssem ao invés de aumentarem, isso levou ao aumento de horas extras, venda de férias, esposas e filhos (muito jovens) a ingressarem nas fábricas para compensar a perda dos salários que antes era de apenas um na família. O aumento das horas de trabalho leva ao esgotamento físico contribuindo para a elevação das taxas de acidentes de trabalho e até a mortes.

As violências e violações de direitos ocorriam não só com as lideranças, mas também com os trabalhadores em geral, muitos escondiam em regiões remotas e interioranas incentivados pelo medo da tortura, prisões e mortes, vivam precariamente e muitas vezes com a ajuda de outros colegas que ainda não perderam seus empregos.

As prisões ocorriam individual e em massa de forma sorrateira, o texto mostra alguns relatos particulares de como os trabalhadores eram surpreendidos dentro de seus ambientes de trabalho sem a menor chance de defesa. As prisões coletivas aconteciam durante movimentos como greves e reuniões, ocorriam em todo país sendo em maior número nas regiões onde havia mais trabalhadores. As torturas eram pesadas, intimidantemente punitivas e irracionais, se justificava seu uso como meio de evitar prejuízos maiores. Porém, era essa a estratégia militar para paralisar os trabalhadores e humilhá-los. As mortes eram causadas pelos mus tratos, torturas e falta de recursos, mas também por aniquilação. Muitos suicídios foram computados, bem como aniquilamento e desaparecimento.

A leitura do texto nos coloca a pensar o quão sofrido foi para as pessoas daquela época poder lutar por uma garantia de melhora para seus descendentes, sim, para os descentes pois eles mesmos já se viam imerso em dificuldades que os atormentariam toda a vida. Ainda hoje se vê trabalhadores humildes que reclamam seus direitos com medo de ficarem marcados como ficavam antes. Essa leitura nos instiga a continuar por busca de políticas públicas que nos apoiem como trabalhadores e como cidadãos.

Referência:

BRASIL. Comissão Nacional da Verdade. Relatório. Brasília, 2014. Violações de Direitos Humanos dos Trabalhadores.  [RESENHA].

Gestora de Recursos Humanos pela UNOPAR, graduanda em Psicologia 9° período pelo CEULP/ULBRA.