Tecelã do mundo e o Jardim secreto

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Existe uma antiga história, contada em sussurros, sobre uma artesã extraordinária. Ela era uma Tecelã de Mundos. Com suas mãos hábeis e um coração vasto, ela se dedicava a criar tecidos magníficos para aqueles ao seu redor.

Para alguns, ela tecia mantos de proteção, pesados e quentes, para que nunca sentissem frio. Para outros, ela tecia redes de sustentação, fortes e resilientes, para que jamais caíssem. Ela passava seus dias e noites na sala grande da casa, seu tear ocupando todo o espaço, e todos vinham buscar seu conforto, sua solidez, seu calor.

Os outros a chamavam de indispensável. De forte. De alicerce. E ela, a Tecelã, acreditava que sua única magia era aquela: dar forma ao mundo para o bem-estar dos outros.

O que ninguém sabia – o que ela mesma havia se esquecido – é que toda Tecelã de Mundos possui um Jardim Secreto. Um lugar interior, único e sagrado, de onde brota a matéria-prima de toda a sua magia. É um jardim com uma fonte de água cristalina (que são suas lágrimas verdadeiras), uma árvore forte e antiga (que é sua autoconfiança) e flores únicas que só florescem para ela (que são seus sonhos e prazeres).

Mas a Tecelã, tão ocupada em tecer para os outros, deixou de visitar seu jardim. A porta ficou escondida sob os novelos de fios alheios. O caminho, coberto pela poeira do cansaço. Ela começou a tecer não mais a partir da abundância do seu jardim, mas a partir do próprio solo do seu ser. Arrancava fibras de sua própria pele para fazer fios, usava sua própria água vital para umedecer a trama.

Ela não percebia que, quanto mais ela dava de si mesma, mais os outros se acostumavam a receber. Eles começaram a não apenas aceitar os mantos, mas a exigi-los. E se um dia o manto não estava pronto, ou se a tecelã, exausta, tremia sob o peso da expectativa, eles ficavam confusos e irritados. Afinal, quem era ela, se não a Tecelã?

No trabalho, eles vinham não para admirar sua arte, mas para apontar qualquer fio solto no tecido alheio, culpando-a por qualquer imperfeição. Em casa, se aconchegavam no manto que ela teceu, mas nunca perguntavam quem aconchegava a tecelã.

Um dia, exausta, ela caiu sobre o tear. E, no silêncio daquele colapso, um som ecoou. Era um som fraco, vindo de muito longe. Era o som de sua própria fonte, no fundo do Jardim Secreto, quase seca, suplicando por uma gota de atenção.

E uma pergunta ecoou no coração da Tecelã, tão suave quanto uma pena, tão devastadora como um terremoto:

“O que acontece com o mundo que a Tecelã tece, quando o seu próprio jardim está morrendo de sede?”

A tecelagem para os outros não era o problema. Era uma dádiva, um dom. O equívoco foi acreditar que o jardim dos outros era mais importante que o seu. Que o bem-estar alheio era sua única missão, enquanto o seu próprio terreno sagrado era negligenciado.

O caminho de volta não é sobre destruir o tear. Não é sobre arrancar os mantos que ela deu com amor. É sobre se levantar da sala grande, encontrar a chave esquecida, abrir a porta entalhada e voltar para o seu jardim.

É regar a própria fonte. É sentar sob a sombra da própria árvore. É colher suas próprias flores e lembrar do seu perfume.

Aos poucos, ela aprenderá a tecer de um novo lugar. Ela virá ao tear não para se esvaziar, mas para compartilhar a abundância que transborda do seu jardim agora curado. E o mais mágico acontecerá: ou ela encontrará forças para tecer limites dourados que protejam seu santuário, ou aqueles que verdadeiramente a amam começarão a trazer água para regar suas flores, entendendo que a magia da tecelã depende da vitalidade do seu jardim.

A primeira e mais revolucionária tarefa de uma Tecelã de Mundos não é tecer para ninguém. É cuidar do seu próprio solo. Porque um jardim florido não precisa se esforçar para ser amado. Ele simplesmente atrai vida para a sua sombra, e oferece seus frutos por puro transbordamento.

Qual é o primeiro passo para regar o seu jardim?

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