E essa tal de IA?

Será que a inteligência artificial vai substituir os psicólogos? A relação entre humanos e máquinas é antagônica?

É certo que hoje a evolução tecnológica está avançando de forma desenfreada. Carros altamente tecnológicos, celulares ultramodernos e até robôs sendo usados por médicos para realizar cirurgias delicadas são exemplos dessa transformação. Na psicologia, não é diferente; muitos acadêmicos e profissionais utilizam a tecnologia a seu favor e estão bem estruturados nesse aspecto.

Recentemente, a inteligência artificial evoluiu significativamente, sendo capaz de criar filmes, fotos, interagir com pessoas e desempenhar diversas outras funções. Alguns pessimistas preveem que essa tecnologia irá substituir os humanos, o que não parece tão distante, considerando o uso generalizado de máquinas e inteligência artificial em fábricas, fazendas e várias outras áreas, onde já estão substituindo o trabalho humano.

Existe um conceito chamado transumanismo, também conhecido como pós-humanismo, que propõe que a tecnologia substituirá os humanos aqui na Terra. Esse conceito busca a evolução humana ao superar suas falhas, erros e fraquezas, considerando robôs e inteligência artificial como um próximo estágio da evolução humana.

Com o avanço tecnológico, a própria humanidade está sendo deixada de lado, e as pessoas estão se tornando mais solitárias e deprimidas pela falta crescente de interação social. Os psicólogos frequentemente assumem o papel de proporcionar um espaço para conversas pessoais, algo cada vez mais raro nos dias atuais. Como menciona Paul R. em “Mindfulness e Psicoterapia” (página 65), “A atenção genuína dos outros é tão surpreendentemente rara que vale a pena pagar por ela na psicoterapia”.

Com isso, fica claro que, mesmo com o enorme avanço tecnológico, as relações humanas continuarão sendo essenciais. A alma humana depende de outra alma humana para evoluir e cultivar aquilo que nos torna humanos, como os sentimentos de amor, paz, alegria, entre outros, que a inteligência artificial não pode sentir, apenas simular por meio de um banco de dados.

Inevitavelmente, os humanos evoluíram em grupo, mas agora parecem estar seguindo o caminho oposto. Cada vez mais, as pessoas se sentem distantes umas das outras, o que causa solidão, ansiedade e depressão. É por isso, entre muitos outros motivos, que a popularidade dos psicólogos está em alta. A necessidade de pertencer a um grupo não pode ser substituída por tecnologias, pois a interação social traz inúmeros benefícios essenciais para o bem-estar humano.

“Socializar é bom para a mente e o corpo. O contato social não apenas diminui os sentimentos de solidão e evita a depressão e ansiedade, mas também é capaz de prevenir doenças, como demências e doenças cardiovasculares, além de mantém os níveis de estresse sob controle e melhorar a saúde mental.” (Tamara;2022).

As pessoas precisam umas das outras, necessitam socializar, e a ausência disso pode causar problemas muitas vezes irreversíveis. Muitas pessoas se sentem ignoradas e acabam buscando algum tipo de alívio para sua solidão nas redes sociais. Você já parou para se perguntar o que está realmente buscando na tela do seu celular? Cada vez que você rola um vídeo incessantemente, o que você está realmente procurando?

A intervenção psicológica neste contexto visa ressignificar ou até mesmo modificar essa solidão ou essa busca incessante por algo. Visa também iluminar o caminho para que o cliente possa questionar o que realmente está procurando e se aquilo que tanto busca está de fato naquele aparelho eletrônico em suas mãos.

Um aspecto extremamente importante e potencialmente devastador nos algoritmos e na inteligência artificial são os conteúdos personalizados. Eles tentam entregar automaticamente às pessoas o tipo de conteúdo que mais as interessa, o que pode ser benéfico em muitos casos. No entanto, o lado obscuro disso é que conteúdos prejudiciais para uma pessoa podem ser repetidos com a intenção de atender ao interesse dela.

Por exemplo, uma pessoa que está enfrentando depressão pode buscar vídeos ou músicas que inadvertidamente aumentam os sintomas da doença. Os algoritmos, então, começam a entregar mais desse tipo de conteúdo, criando um ciclo vicioso. Tudo o que a pessoa consome contribui para um estado emocional cada vez mais crítico.

Este fenômeno ilustra como os algoritmos podem inadvertidamente reforçar comportamentos prejudiciais, ao invés de ajudar a pessoa a encontrar recursos ou suporte que promovam sua saúde mental.

Com isso, a percepção de mundo dessa pessoa passa a ser dominada por conteúdos prejudiciais à sua vida, e quanto mais isso ocorre, mais ela se sente sem esperança. Isso ocorre devido à distorção de pensamento, onde o que a pessoa vê se transforma em crenças disfuncionais sobre si mesma e sobre o mundo.

Cabe ao psicólogo, então, ressignificar esses pensamentos distorcidos para que a pessoa possa ter uma visão mais realista do mundo. Para isso, podem ser utilizadas técnicas como o metacognição ou perguntas socráticas sobre esses pensamentos, investigando se são realmente verdadeiros ou apenas ficcionais, se têm base na realidade ou são distorções.

Isso evidencia que, mesmo com o avanço da inteligência artificial, enquanto houver seres humanos, a humanidade em si continuará sendo necessária. Este aspecto nunca poderá ser substituído por dados de um programa pré-definido. Apenas se as máquinas efetivamente substituírem os humanos é que a IA poderá substituir totalmente profissões como a dos psicólogos e outras.

Referências

VILAÇA, M. M.; DIAS, M. C. M.. Transumanismo e o futuro (pós-)humano. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 24, n. 2, p. 341–362, 2014.

GERMER, Christopher K.; SIEGEL, Ronald D.; FULTON, Paul R. Mindfulness e Psicoterapia. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.

SOUZA; Tamara, Socialização: entenda a importância do contato social para a saúde mental, dasa, Disponível em:https://dasa.com.br/blog/saude/socializacao-para-a-saude/#:~:text=Socializar%20%C3%A9%20bom%20para%20a,e%20melhorar%20a%20sa%C3%BAde%20mental. Acesso em: 26/04/2024