A Cogestão na Saúde

No mês de maio, no CEULP/ULBRA ocorreram oficinas na área da saúde, com o tema “Acolhimento em Rede”.  O evento foi promovido pela Política Nacional de Humanização – PNH do Ministério da Saúde, em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde e com o apoio do (En)Cena, possibilitou a vinda dos consultores e demais profissionais da área da saúde.

“A cogestão é um modo de administrar queinclui o pensar e o fazer coletivo, para quenão haja excessos por parte dos diferentes corporativismos e também como uma formade controlar o estado e o governo. É, portanto, uma diretriz ética e política que visa motivar e educar os trabalhadores”, disse

Cleusa Pavan, consultora da Política Nacional de Humanização, em São Paulo.
Foto: Walter Riedlinger

Para tanto, ela diz que é preciso uma colaboração entre funcionários e gestores durante a implantação de novos processos para que a instituição possa oferecer serviços de qualidade.

“Às vezes, o chefe de um hospital não quer ouvir novas alternativas. Ele quer que o subordinado dele faça o que ele manda e isso pode interferir no desenvolvimento da instituição”, afirmou Cleusa.

Em seus estudos sobre a razão, o sociólogo alemão Max Horkheimer dizia que “a autoridade como dependência aceita pode significar condições progressistas, favoráveis ao desenvolvimento das forças humanas, correspondentes ao interesse dos participantes”, mas também “ideias sociais que contrariam os interesses reais das comunidades”. Ou seja, neste caso, tem de haver bom senso de ambas as partes para que as decisões sejam tomadas da melhor forma possível e os pacientes sejam bem acolhidos.

“O modelo de gestão, que estamospropondo, é centrado no trabalho emequipe, na construção coletiva. Então, profissionais e gestores devem pensar juntos. Aliás todos nós devemos”, exclamou a consultora.

Após Cleusa dizer isso, uma das profissionais de saúde, presente no evento, se manifestou:

“Mas não é isso que ocorre na prática, não. Quando você tenta falar com seu chefe para tentar um novo procedimento, ele logo diz: ‘Não, não quero saber disso, não. Faz o que eu to mandando’. E a gente fica sem ter como reagir’”, indignou-se a enfermeira Carla Bezerra.

Carla Bezerra (à direita), enfermeira, durante o “Acolhimento em Rede – Foto: Walter Riedlinger

Em “Eclipse da Razão”, Horkheimer diz que a submissão é, infelizmente, “a postura que a maioria é levada a adotar” e que para mudar este quadro é necessário que o indivíduo ou, no caso de Carla, profissão de saúde “insista em expressar em sua vida tanta verdade quanto possa, tanto na teoria quanto na prática”. Ou seja, as ideias devem ser colocadas aos poucos, com paciências, mas sem se deixar esmorecer. Cleusa Pavan concorda com este conceito e acrescenta:

“Não é porque as partes não se entendem nas ideias que o trabalho tem que ser sacrificado. Este diálogo faz parte do processo burocrático da cogestão. Quando se tem uma barreira pela frente, não podemos bater de frente, mas também não vamos desistir”, disse.

Cogestão

Para entendermos melhor como se dá a cogestão, a consultora Cleusa Pavan nos explica primeiramente o conceito de organização de saúde dizendo que “é uma organização que deve produzir um bem ou serviço à população e reproduzir as políticas de humanização” e que também é dever da instituição “produzir sujeitos e subjetividades” capazes de desempenhar suas respectivas funções na rede pública de saúde. Mas no que consiste a cogestão ou gestão participativa?

Cleusa Pavan, consultora da Política Nacional de Humanização – PNH, durante a palestra sobre Cogestão na Saúde. – Foto: Walter Riedlinger

“A PNH trabalha para si e para o outro, através de espaços coletivos. Uma organização está cheia de conflitos entre os sistemas e os indivíduos. Então, a gestão consiste em construir coincidências entre as contradições. Já a co-gestão é a inclusão de novos sujeitos, ou seja, a recomposição das funções de gestão”, afirmou a consultora.

Se olharmos na prática, este processo pode até parecer fácil. Porém, é um grande desafio para os profissionais e gestores em uma organização. Por isso, exige comprometimento das partes envolvidas e, principalmente, planejamento das ações.

“Para que a gestão participativa aconteça defato, devemos trabalhar com dois tipos de ação ou o que chamamos de dispositivos. O primeiro diz respeito a como organizar o espaço coletivode gestão para permitir o acordo entre desejose interesses tanto dos usuários, quanto dos trabalhadores e gestores. O segundo dispositivo da gestão participativa refere-se aosmecanismos que garantem a participação no cotidiano das unidades de saúde”, explicou Cleusa.

Se pensarmos que, segundo a consultora, a “humanização não é o contrário de desumano, mas a prática conciliável entre os conceitos que aprendemos”, faz sentido a participação coletiva na gestão, pois visa incluir e responsabilizar todos os profissionais no processo de humanização.

Por fim, a consultora fala sobre o sentido da vida para esclarecer o porquê de todo este processo.

“Vida é uma variação, mudamos o tempo todo. Então a rede pública também tem que se adaptar a essas mudanças”, concluiu.