O coração bate mais forte, as mãos ficam trêmulas e o desejo é incontrolável. Esta poderia ser a situação de um dependente químico ou qualquer outro paciente em estado clínico grave. Porém, falaremos sobre um evento que também pode mexer com os sentidos e mudar a vida dos adolescentes: o casamento.
O mecânico Antonio Carlos dos Santos e a auxiliar de serviços gerais Gislaine dos Santos se conheceram muito jovens, aos 16 anos. Aos 18, já estavam casados. Após 21 anos de união, quatro filhos e à espera do primeiro neto, se dizem muito felizes. Mas nem sempre foi assim.
“Tanto eu quanto o ‘Carlinhos’ tivemos que aprender a aturar um ao outro, porque temos um gênio difícil, somos “sangue quente” mesmo. Nós já brigamos muito, mas sempre conseguimos fazer as pazes. O amor sempre falou mais alto. Tanto é que estamos há mais de 20 anos bem casados”, conta Gislaine.
Gislaine e Antonio Carlos, casados ainda na adolescência (Foto: acervo pessoal)
A expressão “contrair matrimônio”, apesar de correta, pode parecer estranha, como se casamento fosse uma virose ou doença. Mas se levarmos em conta os sinais vitais (citados no início), a comparação é, de certa forma, possível.O psicólogo e psicopedagogo Augusto César Baratta explica que estes sinais estão ligados ao desejo, ou seja, a vontade de ficar junto.
“O bem psicológico que os relacionamentos precoces proporciona está na busca pelo prazer, porque somos possessivos quando a questão é receber estímulos. Por exemplo, o rapaz namora a jovem. Para ele, a garota é a mais bonita e inteligente. Então, bate a insegurança de um dia perdê-la. Isso o leva a querer casar muito cedo. Ele acha que encontrará o prazer durante o casamento”, explica Baratta.
No Brasil, muitas vezes, o casamento precoce parece algo hereditário, ou seja, passa de pai para filho. Neste caso, filha. A estudante Camila dos Santos, 19 anos, seguiu os mesmos passos dos pais Gislaine e Antonio Carlos: casou aos 17 como, também estudante, Jefferson da Silva e, hoje, está grávidado primeiro filho do casal.
“A gente se conheceu no colégio mesmo. Gostei do jeito brincalhão dele, então começamos a namorar. E dois anos depois resolvemos casar. Nunca achei que idade fosse empecilho para nada”, disse Camila.
Jeferson e Camila se casaram no cartório (Foto: acervo pessoal)
O dia do casamento é sempre festivo, cheio de “meus parabéns” e “sejam felizes para sempre”. Porém, todo este ritual esconde o sério risco do relacionamento terminar em poucos anos, talvez meses. Na adolescência, isso ocorre devido à imaturidade dos noivos.
“Quando o jovem ainda está na adolescência, ele percorreu um caminho curto e não desenvolveu a comparação entre os casos, tudo ainda é a primeira vez. Então se casa precocemente para garantir o prazer almejado. Porém, 90% dos matrimôniosassim, tem curta duração”, afirma o psicopedagogo.
Mas calma, nem tudo está perdido. Mesmo imaturos, os jovens podem construir um futuro juntos. Quando há carinho e comprometimento entre os noivos, a relação pode, sim, dar certo à longo prazo. Basta querer.
“Se mesmo jovem, as pessoas tiverem bom sentimento e boa aproximação, podem ter uma união mais duradoura. Pois irão priorizar o matrimônio ao invés de outros interesses, como: balada, bebida etc.”, concluiu o especialista.
Lembrando que a lei nº 10.406, de janeiro de 2002, do Código Civil, permite o casamento entre menores de idade, desde que devidamente autorizados pelos pais ou responsáveis.
Augusto César Baratta, psicopedago (Foto: Walter Riedlinger)
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