É possível viver mais?

A expectativa de vida dos brasileiros ao nascer chegou a 74,9 anos, em 2013, para ambos os sexos, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado no final de 2014. A nova marca representa 3 meses e 15 dias a mais do que em 2012. Mas para chegar a esta idade de fato aproveitando a vida é preciso começar a pensar no futuro desde a juventude. Adquirir hábitos saudáveis e, principalmente, se movimentar pode definir como será a sua velhice.

Estudo recente da Universidade Mcgill (Montreal, Canadá), publicado pela revista especializada The Lancet &Endocrinology, apontou que a obesidade e a obesidade severa podem encurtar em oito anos a expectativa de vida e em até 19 anos o estado de “boa saúde” entre o público-alvo do estudo (adultos entre 20 e 79 anos). O estudo utilizou dados da base de dados norte-americana(National Health and Nutrition Examination Survey 2003-2010) e foi conduzido pelo médico epidemiologista Steven Grover.

 

 

“Talvez o maior mérito do estudo consista em mostrar o quanto a obesidade pode diminuir o tempo de vida de uma pessoa. Muitos estudos anteriores já mostravam a relação entre obesidade e diversas doenças, mas com este nós podemos mostrar para a população o quanto isto é grave. Como os autores mostram, o obeso provavelmente morrerá cerca de oito anos antes do que deveria de acordo com a expectativa de vida da população e passará os últimos 19 anos de sua vida enfrentando e lutando contra problemas de saúde como hipertensão arterial e diabetes, entre tantos outros que também poderão acometê-lo”, comenta o professor de educação física do Ceulp/Ulbra e mestre em Gerontologia, Pierre Soares Brandão.

 

Pierre Soares Brandão –  Foto: Arquivo Pessoal

 

Além dos maus hábitos alimentares, outro grande aliado da obesidade e inimigo da saúde é o sedentarismo. Quase a metade dos brasileiros, cerca de 46%, estão mais sedentários. O número é da Pesquisa Nacional de Saúde, mensurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em nível mundial a situação é ainda mais preocupante. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os casos de obesidade duplicaram de 1980 até hoje. O sobrepeso afeta aproximadamente 1,4 bilhão de pessoas com mais de 20 anos de idade em todo o mundo.

Ainda segundo o estudo da Universidade Mcgill, a obesidade está associada a um risco maior de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais (AVC), assim como diabetes. “Também temos que considerar que a obesidade pode afetar a autoestima e desencadear problemas associados como ansiedade, depressão”, pontua Pierre.

Para deixar o sedentarismo não é necessariamente preciso se tornar um atleta. Uma caminhada na praça, uma pedalada em um parque, uma partida de futebol com os amigos, entre outras muitas atividades de esporte e lazer podem contribuir e promover a manutenção de uma vida saudável.

 

 

“Uma vida saudável deve partir da busca por três quesitos básicos: a alimentação, a prática de atividade física e o bem-estar psicossocial. Investir apenas em um ou em outro pode não ser tão produtivo e impactante para a saúde quanto cuidar carinhosamente dos três. Mas especificamente em relação ao exercício físico, a American Collegeof Sports Medicine, mais renomada entidade das áreas da medicina esportiva e educação física, recomenda que sejam feitos, no mínimo, 150 minutos por semana de exercícios aeróbios (corrida, natação, bicicleta, etc) com intensidade moderada, podendo ser dividido em 30 minutos, cinco dias por semana; ou 75 minutos por semana com intensidade vigorosa”, explica o professor, acrescentando que a entidade também recomenda que, além destes, sejam incluídos dois a três dias de exercícios resistidos (musculação, treinamento funcional resistido, etc), mas para que esta atividade seja feita corretamente e não acarrete riscos para a saúde é fundamental o acompanhamento de um profissional de educação física.

Portanto dá para perceber que basta a pessoa ocupar um espaço, até relativamente curto de tempo, de sua semana com atividades físicas, sem a necessidade de se transformar em um atleta profissional. E assim, além de desfrutar de um momento prazeroso de lazer, proporcionar a manutenção do estado de saúde e prevenir doenças.

O excesso de peso é definido em função de um Índice de Massa Corporal (IMC) elevado (é o peso dividido pela estatura ao quadrado). O sobrepeso corresponde a um IMC de 25 ou mais, a obesidade a um IMC igual ou superior a 30, e a obesidade severa a um IMC superior a 35.

As pessoas com sobrepeso perdem entre 0 e 3 anos de expectativa de vida, segundo o estudo da Universidade Mcgill. Os obesos (IMC de 25 a 30) entre um e seis anos, e obesos severos perdem entre um e oito anos de expectativa de vida.

Lazer e atividade física são a mesma coisa?

Embora tenham uma relação próxima, nem toda atividade de lazer é considerada uma prática física, assim como nem toda atividade física pode ser considerada lazer. Visto que muitas atividades diárias necessitam de algum tipo esforço físico.

“Lazer é um conjunto de ocupações com as quais a pessoa pode se envolver voluntariamente seja por diversão ou para ampliar sua informação ou formação de maneira desinteressada, assim como o seu envolvimento social voluntário ou sua livre capacidade criadora, que podem surgir de seu trabalho, a família e das obrigações sociais”, comenta Soares, pois nem todo tipo de lazer corresponde necessariamente a uma atividade física. Assim, ler um livro, assistir a um filme, a uma peça de teatro não corresponde a uma atividade física, mas pode ser uma atividade de lazer, o que não deixa de proporcionar qualidade de vida.

“Mas há sim relação direta entre o lazer e a qualidade de vida já que esta última é fruto da relação dinâmica de vários fatores, em especial aspectos físicos, psicológicos e sociais, e sabe-se que estes três aspectos podem ser estimulados positivamente pelo lazer”, finaliza o especialista.

Obesidade infantil

Dados de 2013 do IBGE mostram que uma em cada três crianças no Brasil está pesando mais do que devia. A obesidade infantil ocorre quando uma criança está acima do peso normal para sua idade e altura.  Mesmo que a criança perca peso e o quadro de obesidade seja revertido com o tempo, os quilos extras podem causar complicações na vida adulta.

Conforme o site Minhavida, doenças como diabetes, hipertensão e colesterol alto são algumas consequências da obesidade infantil não tratada. Além disto,pode levar a baixa autoestima e depressão.

Com a mudança cultural nos hábitos alimentares, isto graças ao grande consumo de alimentos industrializados e das redes de fast-food,além da diminuição da atividade física, em grande parte por conta do abandono às tradicionais brincadeiras que a estimulavam, vê-se o grande aumento da obesidade infantil. Aliado a estes fatores, pode se colocar também a evolução tecnológica que tende a ser mais atrativa ao público infantil contribuindo assim para redução da atividade física.

Para o professor Pierre Soares, está é uma realidade que precisa de atenção redobrada. “E esta é uma das razões pela qual é tão importante uma atenção interdisciplinar por parte de uma equipe multiprofissional, pois a criança obesa precisa não apenas do médico, mas também do educador físico, do nutricionista e do psicólogo, cada profissional tão necessário quanto o outro.”

Não se pode creditar a culpa da obesidade infantil apenas ao uso excessivo dos recursos tecnológicos, pois existem outras questões envolvidas, como por exemplo, a segurança pública, que segundo Pierre pode ter um impacto até maior. “Muitos pais não permitem que seus filhos brinquem nas ruas da forma que muitos deles brincaram quando tinham a mesma idade, seja por causa da violência ou do trânsito, por exemplo.” Também pode se acrescentar o risco de um contato com as drogas,pedofilia,prostituição, entre tantos outros perigos aos quais as crianças estão expostas nas ruas.

“Quanto à internet e os videogames, o ideal é buscar o equilíbrio, pois existem benefícios cognitivos e educacionais que eles podem trazer. O ideal seria os pais estipularem um tempo diário ou semanal para o uso destes recursos, considerando a faixa etária de cada filho. Outra medida interessante é investir nos chamados videogames ativos, caso do Kinect, que é um complemento do X-Box, e do Nintendo Wii. Para interagir com esse tipo de videogame as crianças têm que movimentar o corpo e atualmente já existem jogos específicos para promover o exercício físico”, explica.

Como melhorar a qualidade de vida

Após abordarmos a importância e os benefícios de optar pela prática de atividades físicas é tempo de propor algumas mudanças nos hábitos para melhorar a qualidade de vida e, quem sabe, prolongá-la. Como já foi citado anteriormente, a busca por uma vida saudável deve partir de três quesitos básicos: a alimentação, a prática de atividade física e o bem-estar psicossocial.

Deste modo, é recomendado comer alimentos frescos e, se possível, optar pelos orgânicos; tentar preparar a própria comida e levá-la de preferência em um recipiente livre de Bisfenol-A (substância cancerígena presente na maioria dos recipientes plásticos); evitar ficar longos períodos sem comer e sem beber água, lembrando que sucos ou refrigerantes não substituem a água.

Manter-se ativo o máximo ao longo do dia. Se for possível, prefira caminhar a ir de carro, subir de escada a ir de elevador, mas lembre-se, essas atividades não tiram a necessidade de praticar exercícios físicos regularmente.

Se você não gosta do ambiente das academias ou dos tipos de exercícios que são oferecidos nelas, ao invés de desistir e continuar sedentário, tente encontrar o tipo de exercício físico que mais lhe agrade e esteja aberto para conhecer inclusive as variações de um mesmo tipo de exercício, afinal, correr em uma esteira é diferente de correr na rua, que por sua vez é diferente de correr em uma trilha numa floresta ou montanha.

Estipule um horário fixo na semana para fazer seus exercícios e trate este horário como uma das prioridades do dia, afinal, não vai adiantar nada trabalhar muito e não conseguir aproveitar o dinheiro que ganhou por estar sem saúde.

Também é importante dedicar um tempo para atividades culturais ou até mesmo uma conversa com amigos, ou um momento com a família, visto que isto também implica em qualidade de vida.

 

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Fontes adicionais

http://www.minhavida.com.br/saude/temas/obesidade-infantil

http://saude.terra.com.br/estudo-mostra-que-obesidade-pode-encurtar-a-vida-em-8-anos,c51a248bbba1a410VgnCLD200000b1bf46d0RCRD.html

Pesquisa Nacional de Saúdedo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).