Por muito tempo me escondi em um casulo
A escuridão parecia uma companhia segura
Deixei minha essência se tornar um segredo
Como se fosse um perigo aos demais
(Eu era ou eu sou?)
Como se a verdade deles ditassem a minha
Decidi silenciar cada medo e desejo
Vivi sob a sombra de quem estava ao meu lado
Porém me desconhecia
(Eu errei ou erraram?)
Se apenas tivessem a sensibilidade
A mínima curiosidade
Teriam olhado nos meus olhos
Poderia ter sido descoberta antes de virar um caos
(Isso me salvaria ou me atormentaria?)
Antes das mentiras se tornarem insustentáveis
O passado pesar nas costas
E o perdão ser questionável
Antes do silêncio se tornar aceitável
Mas o grito sair inevitavelmente
Ao bater de frente com os meus limites
Berrei, libertei um provável monstro
Que vivia em mim
E quando este saiu finalmente percebi
Que não havia monstruosidade e maldade nenhuma
Não sou o que eu acreditei
Não sou o que acreditam desde que me desencarcerei
Mesmo assim não soltei todas as amarras
Muitos seguem na negação, atando os nós
Na insistente incompetência de engolir à seco a aceitação
Deve ser difícil viver capturado à crenças engessadas
Mais difícil ainda viver na possibilidade de me adequar
Esperando a desordem atenuar
Ponderando cada passo pois alguém criou a teoria
De que certas coisas não podem ser vistas
Eu sei que um dia tudo pode mudar e ser como deveria
Mas e até lá?
Até lá eu me equilibro nessa linha tênue entre improvável e impossível
Até lá me contento com o fato de que devo me resguardar
Deixar que demonstrações de amor ocorram na escuridão
“A impossibilidade está à um beijo de distância da realidade”
Um beijo seria um ato revolucionário ou uma prática catastrófica?
Meu corpo inteiro teima em querer descobrir
“No momento certo” eu afirmo e afirmam pra mim…