Ele é grande ou talvez pequeno demais, para caber em qualquer coisa diferente dos seus sonhos. Eu o observo e cada um dos seus movimentos me hipnotiza. Seu ritmo me desacelera, perco a pressa.
Ainda vai querer meus beijos semana que vem? Pergunto com um sorriso no rosto e aperto no peito, imaginado ser a última vez, último encontro, a última despedida. Ele não responde, apenas sorri. Me parece suficiente. Ao perceber minha aflição, ele me olha e o seu olhar me transmite calma. Sinto inveja da versão de mim que jamais pôde se ver através de suas pupilas. Sempre amei a ideia da liberdade e agora, ela só é uma ideia, cada vez mais distante… Sou a sua mais nova refém. Me conta seu segredo, rapaz? Aproveita e devolve as certezas que você arrancou no último beijo que me deu.
Nós caminhamos em círculos, sempre voltando ao lugar de início. Fazendo e refazendo o mesmo trajeto, muitas vezes cansativo. Tudo desajustado, perfeitamente desequilibrado e ainda assim, continuamos a seguir o manual, os passos do ritual, não deixando escapar nenhuma regra de um relacionamento casual. Engraçado como tudo já foi conversado, combinado, maquiado… exceto as lacunas e as brechas desse doloroso contrato. Deveria existir letrinhas minúsculas, algo sobre partir e não se despedir. Alguma multa ou uma desculpa qualquer, que não me deixasse a imaginar os mil porquês da sua ida. Talvez você só não tenha conseguido concluir aquilo que iniciou, e mesmo que tenha tentado, não é possível ressuscitar corações mortos, afinal.
De qualquer forma, parte de mim ainda espero sua volta. Os fragmentos da sua partida ainda estão encaixados naquelas feridas que você prometeu cicatrizar. Elas doem com maior intensidade. Mas a culpa não é sua. O erro foi meu por acreditar que alguém pudesse remediar o que apenas o meu amor próprio é capaz de sarar. Sua cama não é mais suficiente, se não quiser me abrigar no seu peito, melhor que vá e faça o favor de não voltar. Eu consigo me virar.