Crônica de quem aprendeu que o fim nem sempre grita —
às vezes, ele apenas silencia
Tem dor que não tem nome.
E talvez essa seja uma das mais difíceis: a de perder alguém que ainda está aqui. Que ainda posta, ainda ri, ainda existe. Só não está mais comigo.
A Psicologia diz que isso também é luto. Mas eu, vivendo, chamo de silêncio. Daqueles que pesam mais do que grito.
É uma despedida que acontece aos poucos, dia após dia. Em cada notificação ignorada, em cada hábito que já não faz mais sentido, em cada vez que o nome vem à cabeça — e a gente finge que não sentiu.
E o pior é que, às vezes, ainda existe amor.
Mas o amor sozinho não sustenta ponte quebrada.
Tem outras perdas também. A casa que virou território hostil. A fé que já não me reconhece. As palavras que já não cabem na boca por medo de quem ouve. Tem dias em que o mundo exige presença… e eu só queria colo.
Mas eu continuo.
Às vezes, com o corpo. Às vezes, só com o olhar.
Tem dias que a coragem é só levantar da cama e respirar fundo.
Porque, apesar de tudo, eu tô aqui.
Juntando os cacos com cuidado, com afeto. Me acolhendo no silêncio. Fazendo terapia, orando do meu jeito, chorando quando ninguém vê.
Tem luto que não tem flores, nem rituais. Mas ainda assim merece respeito.
E tem fins que, no fundo, são só recomeços disfarçados.
Hoje eu entendo que o fim de um relacionamento, de um lar, de uma versão minha… não precisa ser só perda. Pode ser reinício. Pode ser liberdade.
Pode ser — com o tempo — abrigo.