Marcos Carneiro – (Jornalista e servidor público federal) girassolpalmas@gmail.com
Eu descobri que não espero nada do Davi, além daquilo que ele me oferece, e é. Vou esperar mais o quê? Não falo de forma conformista ou desdenhosa das relações, usando a minha como exemplo. Eu não vou mudá-lo. Não tenho estofo emocional para isso e nunca me passou pela cabeça. Gostamos das pessoas pelo que vemos, e pelo que entendemos que elas são, e não pelo que gostaríamos que elas fossem dentro do nosso ideal de parceiro.
Se me perguntarem o que espero dele, vou dizer: “nada”. Não tenho mais a ilusão ou a idealização de conhecer alguém por completo, e nem quero, para ser bem sincero. O interessante é descobrir, aos poucos, e com a intimidade, aquilo que me é permitido por ele e por meus conceitos do ser humano.
Seria isso comodismo? Não. Isso se chama realidade, mas não cruel, ou pragmaticamente desinteressante. O amor idealiza em sua essência o outro. E isso é um processo. Com o tempo, o amor passa ser o presente, e não a perspectiva ou a expectativa. Esse é meu conceito “não ideal” de felicidade. É o gostar do que se é, do que se tem, não do que se quer. E, há que se dizer, que até a nossa avaliação do que se é o amor já é carregada de significados, conceitos. É um pouco de você refletido no outro. Sendo assim, não espere nada do amor, a não ser ele mesmo, em si, ali.
Eu falo pelo que sinto, pelo que vejo, sob minha ótica limitada, e porque não dizer até ignorante de mundo. Tantos pensadores poderia citar aqui, mas esse texto não é um trabalho acadêmico. Ele é um tratado de sentimento unilateral.
As relações amorosas não são projetos estrategicamente planejados, como um casamento arranjado da Idade Média. Esse conceito de relação amorosa tomou mais força no século XIX, portanto, é incipiente em nossa sociedade.
O amor romântico é tão novo que, quanto mais se lê, e quanto mais se vive, se desenvolve a percepção de que ele é um lindo ideal. Mas ele não se sustenta sozinho.
O cotidiano é você e os momentos que compõem a sua vida. Aí podem entrar família, as relações de trabalho, os amigos, seus gostos, e seus parceiros amorosos ou não.
Conheço pessoas que optaram por não se relacionar amorosamente. Isso nada tem a ver com amargura, mas com uma escolha de vida. Viver sem um parceiro não é triste. Triste é você não viver nada que lhe agrade. Antes eu diria que essas pessoas não estavam nem certas e nem erradas. Mas hoje eu diria que estão certas porque não há nada, minimamente libertador, dentro de nossa sociedade castradora, do que você fazer uma escolha por si e para si.
Eu tenho amor por Davi. Aquele sentimento voluntário que é a junção de vários outros, como a vontade da companhia do outro, o bem-querer, a intimidade natural, e aquela sensação de proteção. E o mais importante de tudo: a consciência de entender uma pessoa que você não precisa e que não é obrigado a estar junto, mas que apenas quer.
Escrevo isso imbuído da minha mais pura verdade, que pode não ser a sua ou de ninguém, mas que é a forma como vejo o mundo, o meu mundo.
Vivemos vários abismos semânticos. Aquilo que eu falo, que você entende, que eu quis dizer. Uma ação tem tantos destinos de significados que a menor preocupação que se deve ter é o que esperar de uma pessoa.
Não é indiferença. É vivência.