Autora: Janaina Augusta, 49 anos, professora universitária, mãe, filha, aspirante à corredora
Há seis meses, eu havia desistido de correr. Fui desacreditada sobre o esporte que eu escolhi para me salvar a vida.
Ouvi de um homem triatleta, pai de jovens atletas e filho de um corredor – muito caro ao meu coração, naquele tempo espaço, no sofá da minha sala, que a corrida não era para mim.
Eu não era atleta, nada sabia de corrida, portanto não deveria nem iniciar qualquer treinamento. Entre susto, surpresa e tristeza eu internalizei essa incapacidade. E eu, que já iniciava o aprendizado, retrocedi à estaca zero. Mal corria, afogada na angústia de relembrar as palavras de que a corrida tem seus privilegiados e eu não era parte desse métier.
A cada treino, um medo imensurável me dominava, a vergonha por me sentir incapaz e a incerteza sobre minha escolha de sobrevivência. No entanto, era alertada, incentivada pela treinadora a persistir, insistir, refazer, em quantas oportunidades tivesse. Boicotava-me veementemente. E foram semanas sem um avanço significativo.
Na minha data natalícia, levei o golpe fatal daquele outro e decidi que, entre nós e eu, eu me escolheria e seguiria mesmo na descrença e na desqualificação gratuitas direcionadas a mim.
Refiz o planejamento, recalculei a rota e iniciei um autocuidado de “atleta”, mesmo reverberando em minha memória que eu não era Mulher apta à corrida: não tinha volume, não subia empórios, não tinha equipamentos, não tinha corpo, fôlego, ritmo, cadência, postura e “pinta de corredora” …
Ainda sou tudo aquilo que me foi apontado. Mas sigo me auto incentivando ao que me propus: viver! Mesmo que aquelas palavras de desincentivo ainda ecoem nos meus ouvidos, sigo abaixando o volume delas e insisto em aprender o que não sei…
E ele? segue incentivando, apoiando homens brancos, elitizados, corredores quase “profissionais” e aplaude Mulheres que se enquadram na régua esportista que ele utiliza.
E eu? sento-me e aprendo – TODOS OS DIAS – a maior lição que a corrida me dá: sozinha eu consigo, mas acompanhada eu vou mais longe.
E, desde o meu aniversário, eu escolhi agir: a cada pessoa que eu encontro, eu falo, expresso e penso o quanto ela é capaz de vencer e superar seus limites.
Sigo atrapalhada? Sigo! Não sei sobre corrida? Sou ignorante! Tenho “pinta de corredora”? Mal sei passar um pé à frente do outro. Meu corpo é o de uma corredora? É só um instrumento da minha Alma, ainda! Corro mesmo assim? Não falto aos treinos, mesmo a fazer tudo errado.
E eu sigo trôpega, ignorante, mas corro com o pulsar acelerado do coração e sigo a incentivar qualquer Alma viva que cruze o meu caminho. Revido o mal que me foi feito acreditando diariamente que todos somos capazes. Choro de alegria com a minha insignificante conquista.
E sigo na disciplina, disciplina, disciplina de cumprir o próximo alvo. Sejamos luz antes da escuridão no mundo.
