Logo ao acordar foi dizendo “bom dia comunidade”, e relatando fatos de pessoas que nunca vi na minha vida. Uma mãe que chorou, um homem que fugiu, outro que morreu afogado e um outro que morreu de amor.
Dentro da lotação a caminho do trabalho, dizia em alto e bom tom que o nordeste pedia água e soluçava de fome. Esfregou na minha cara, como conta vencida, através de um papel com cara de sujo, que as taxas vão deixar minha conta bancária no vermelho.
Quando cheguei ao trabalho, apareceu na tela do meu monitor contando que atriz fulana de tal esta de dieta, depois que o ator cicrano anunciou o fim de um casamento que havia durado apenas três dias… Os três dias mais longos de sua vida.
Quando voltei pra casa, um casal simpático me dizia “boa noite” trazendo nas bochechas a câimbra de um sorriso aeróbico depois de chorar contando tantas desgraças.
Fui dormir pensando: Se ele vive me acompanhando em cada passou que dou, eu quero vingança. Quero passar o resto dos meus dias contando tudo de todos, para todo mundo. Especialmente para aquela senhora de sorriso fácil que contava histórias durante a viagem de lotação. Quero alimentá-la de fartos causos para que, assim, ela sempre tenha assunto, e eu tenha sempre prazer em entrar naquele ônibus sabendo que o motivo daquele sorriso fácil, foram as boas novas que eu contei a ela, enquanto ela preparava o café.