O começo do fim da comunidade Liberdade

No ano de 1300 na região que hoje é conhecida como Brasil, existia um grupo de animais que viviam em uma vila chamada Liberdade. Habitavam ali bichos de várias espécies, entre eles mamíferos, pássaros e aves, répteis, anfíbios, uma fauna extensa. Nessa vila, viviam todos em harmonia, mesmo com suas diferenças e limitações. Cada um oferecia o que tinha capacidade de fazer para que todos tivessem suas necessidades supridas. Por exemplo, os pássaros apanhavam peixes para alimentar todos, além de avisar ao grupo se vinha chuvas ou não. 

 

Fonte: Google Imagens

 

Já a onça pintada, protegia as matas e a vila em que viviam. Além disso, atraia algum predador quando estavam escassos de carne e pelugem na época do inverno e de intensas chuvas. A floresta era linda. Repleta de flores, das mais variadas espécies, de plantas, de insetos e de uma extensa biodiversidade. Os animais viviam em completa harmonia. A organização deles não era de forma hierárquica e sim a mais horizontal possível, pois quando se tinha um problema, reunia o grupo e todos buscavam uma solução. Quando eram situações de grande urgência, o animal buscava o amigo mais próximo possível para ajudá-lo.

Contudo, o animal mais experiente era o que mais tinha peso nas palavras e nas decisões ali na vila, que era o javali conhecido como Jalim. Sua parcimônia em explicar a solução e frieza para calcular os próximos passos do que a vila faria em alguma situação geralmente se sobressaia sobre as opiniões dos restantes. Mostrava-se um ótimo conciliador, tentando equilibrar as partes mais extremas e ao mesmo tempo, decidir por todos. Quando se tinha muito alvoroço para decidir algum impasse, Jalim esperava todos falarem e rebatia com muita proeza as opiniões que eram as mais distorcidas.

A rotina da vila era de coleta de frutas, folhas e planta e de carne. As refeições eram realizadas duas vezes ao dia, sendo que a comida teria que estrar fresca. Tinha uma escala de coleta de comida para cada dia e turno. Depois, existia atividades em grupo, como brincadeiras, músicas e conversas fiadas ao redor de uma fogueira. Em seguida iriam dormir e posteriormente, se mudariam de lugar para um com mais recursos. 

Em um certo dia, logo pela manhã antes do sol raiar na vila, ainda com um leve aspecto de neblina, houve-se próximo a vila Liberdade disparos com um barulho ensurdecedor. Foram vários seguidos sucessivamente, sem pausa. Quando parou, todos já se encontravam alarmados no meio da vila. O Jalim, que se encontrava em um sono profundo, não tinha se atentado para o barulho e a onça pintada foi o chamar. Quando soube da situação, pediu para que os pássaros fossem sobrevoar a região que se procedia o incômodo. 

Araras e tucanos foram em conjunto fazer esta tarefa. Quando sobrevoaram e enxergaram a cena, levaram um tremendo susto e suas penas estremeceram. 

 

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– Oh! Minha nossa! O que será isso? O que são esses homens com esses tocos finos pretos? Interroga de moto aflito uma das araras.

– Eu não sei! Mas coisa boa não parece ser. Exclama tristemente um tucano. 

Voltam desesperadamente para a vila e anunciam a tragédia iminente a todos de modo ofegante:

– Bicharada, o que vimos ali nunca tínhamos visto antes! São vários homens, vestidos dos pés a cabeça, e com vários tocos longos pretos que disparam para cima. Estão vindo em nossa direção e por onde passam, destroem a mata! Meu deus o que faremos? Exclamou desesperadamente o tucano, que já entrou em prantos logo em seguida depois de falar. 

As araras em seguida confirmaram sua versão:

– Exatamente! São vários e carregam várias coisas nas costas. Parecem estar bem preparados para alguma coisa. Mas e agora? 

Jalim ouvindo atentamente, assim como todos do grupo, foi um dos poucos, se não o único, que manteve-se controlado e sereno, mesmo temendo o pior. Jalim sabia que uma hora ou outra, isso iria acontecer e seria inevitável, pois já presenciou o mesmo episódio em sua infância, quando seus pais morreram queimados vindos das florestas da Bolívia. Ele esperou que todos falassem e pediu permissão para falar:

– Pessoal, minha vez. Como as araras e tucanos já afirmaram, eles estão bem equipados e por onde passam, destroem. Seria muito arriscado tentar qualquer proximidade com eles. O que vocês acham que devemos fazer?

Todos falaram simultaneamente, mas em seguida a onça pintada perguntou com sua voz grossa e valente:

– Mas por que será que não podemos tentar com eles uma aproximação assim como os indígenas que vivem aqui? Eles podem nos deixar em paz, se a gente os deixar também. O que acham? 

Alguns concordaram com eles, outros ficaram na dúvida de como seriam e outros afirmaram que iriam morrer se chegassem mais perto. O Jalim, ouvindo isso, o interrogou:

– O que te faz ter essa garantia sendo que eles passam pelos lugares e DESROEM tudo ao redor? Você não está assustado com esse barulho? Não entendeu o desespero do que as araras e os tucanos enxergaram? O que vocês acham? Direcionou-se às aves.

– Parece-me que eles não estão nada amigáveis com os indígenas que já estão aqui desde que nos conhecemos por bichos! Falou tristemente o tucano.

 

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Todos ficaram reflexivos por um momento. A comunidade vivia em harmonia com os únicos seres humanos que já entraram em contato, que foram os indígenas. Eles tinham instrumentos que não os ameaçavam, se vestiam camufladamente e não os destruía. Era fato que os humanos que se aproximavam eram ameaçadores para eles. Nenhuma animal ali se sentia a vontade com a chegada deles. Além disso, o barulho estrondoso se aproximava cada vez mais. E foi aí que Jalim lançou a proposta:

– Bicharada, prestem atenção por favor! Estamos em perigo e isto é fato. O que faremos agora? Proponho irmos para o lugar mais distante possível, que tenha água e comida fresca mas principalmente água. Creio que estes que se aproximam irão trazer consigo a destruição.

Todos concordaram e começaram a se retirar em conjunto freneticamente em direção ao sudeste, que era o lugar contrário de onde vinham os disparos. Quando saíram, ouviram gemidos e gritos de desespero de alguns indígenas. Depois, aceleraram mais ainda os passos. 

Jalim e toda a vila Liberdade estavam cientes de que estes homens, poderiam futuramente os encontrar e não ser nada harmônico. Aquela convivência entre os animais da vila estava ameaçada e já não se sabia por quanto tempo.