Aproximadamente às 23:40 da noite de um domingo dei entrada na Unidade de Pronto Atendimento – (UPA- SUL), com fortes dores na região abdominal e nos rins. Fiquei esperando a triagem, logo fui chamada. Na sala de triagem haviam dois profissionais, enfermeiro e técnica de enfermagem, os quais rapidamente, após a triagem, me encaminharam para a sala do médico e responderam algumas perguntas que fiz, sempre muito educados. Neste momento pude ver um dos princípios do SUS sendo aplicados a mim com muita responsabilidade e profissionalismo, pois naquele momento tinham outras pessoas na fila para serem atendidas, mas o princípio de equidade foi aplicado e imediatamente foi atendida pelo médico por se tratar de uma necessidade um pouco maior do que das pessoas que estavam ali naquele momento.
Cheguei ao consultório médico, me queixando de fortes dores tanto na região abdominal quanto nos rins, então, logo passei por uma avaliação médica, e a partir desta avaliação iniciou-se a suspeita de apendicite, e caso fosse confirmada já sairia dali direto para o Hospital Geral de Palmas – HGP. Inicialmente fiquei desesperada, pois se tratava de um procedimento cirúrgico, que por menor que seja, tem sempre um risco.
O médico continuou a me fazer algumas perguntas, e então chegou a uma segunda suspeita, a de cálculo renal. Ele sempre muito atencioso e continente, vendo meu desespero por sentir tamanha dor e incertezas do que poderia ser, logo receitou alguns medicamentos para dor, o qual tendo sido avisado que sou alérgica a dipirona prontamente trocou o medicamento. Após isso me pediu alguns exames de sangue, que diriam se alguma daquelas suspeitas se confirmava.
Neste momento fui encaminhada a enfermaria feminina e informada que ficaria ali por um período para receber a medicação, ser feita a coleta do sangue para o exame e para ser observada até o resultado do exame ficar pronto. Até este momento todos os profissionais que me assistiram tinham sido educados, atenciosos, éticos e sempre agindo com muito profissionalismo. Pensei então, “tive sorte dessa vez”. Até que a técnica em enfermagem chegou para aplicar a medicação, imediatamente com muita grosseria mandou que eu me sentasse e puxou meu braço, nesse momento perguntei que medicamento era aquele que ela estava aplicando e sua resposta foi a pior que eu poderia escutar: “Não interessa, você não precisa saber, só precisa ficar quieta para eu conseguir pegar sua veia, se não quiser ser furada mais uma vez”.
Ao ouvir aquilo eu só tinha vontade de chorar, pois via ali uma pessoa totalmente inapropriada para exercer aquela função. Ela estava, naquele ato, desrespeitando todos os princípios, códigos e leis que asseguram ao paciente o direito de saber a quais procedimentos está sendo submetido. Ao ouvir aquela resposta me senti tão humilhada, maltratada por alguém que escolheu aquela profissão e agora, talvez por frustração, raiva ou qualquer outra coisa que a profissão tenha lhe causado, me tratava de maneira tão grosseira.
Sem responder minha pergunta, ela aplicou o medicamento e saiu. Após algum tempo ela retornou e aplicou mais um medicamento, e novamente eu perguntei o que era aquilo, falei que era alérgica a dipirona e queria saber o que era. Ela me olhou e perguntou se a dor tinha passado, eu ainda com muita dor, respondi que não. Então ela falou: “Agora com esse aqui vai passar, ou passa ou então não tem mais jeito para você aqui”, e mais uma vez saiu sem responder a minha pergunta.
Depois disso, deitei na cama e comecei a chorar, pois os sentimentos de medo, incerteza e indignação me inundaram naquele momento. Vendo aquele choro discreto na última cama do corredor, uma outra técnica se aproximou de maneira educada começou a conversar, perguntou o que eu estava sentindo e por que eu chorava se já tinha sido medicada e o medicamento já devia estar fazendo efeito, ouvindo isso chorei ainda mais pois a dor continuava na mesma intensidade o medicamento não teve efeito. Então respondi que a dor estava na mesma intensidade de quando cheguei, e que a outra mulher tinha falado que se aquele medicamento não parasse a dor nada mais poderia ser feito ali para me ajudar. Ela me ouviu, conversou comigo, esclareceu quais foram os medicamentos que foram aplicados e foi procurar o medico para que reavaliasse se aquele era o melhor medicamento mesmo, já que a dor era incessante.
Em seguida outro médico chegou, me reavaliou e mandou aumentar a dose do medicamento, pois aquele era o mais forte que tinha na unidade e realmente, se aquele meio terapêutico não surtisse efeito eu seria encaminhada ao HGP. Este médico respeitando o princípio de autonomia e justiça, respeitando o princípio do SUS de Integralidade, agindo com ética, educação, atenção e humanidade, me explicou tudo o que estava acontecendo comigo de forma objetiva e com linguagem fácil, me assegurou que em breve a dor iria passar e que logo voltaria com o resultado do exame. Continuei aguardando por um tempo e depois fui informada pela “enfermeira boazinha” que tanto o primeiro quanto o segundo médico que me atendeu tinham ido para o repouso e que em breve outro médico vinha olhar o exame.
Às 06:00 horas da manhã esse outro médico apareceu, bem grosseiro começou a gritar o nome das pacientes em voz alta na enfermaria, ao chegar no meu nome fiz um sinal com a mão e ele pediu que me aproximasse dele, então desci da cama tonta pois a pressão estava um pouco baixa e fui, ele olhou o exame e falou que não tinha nada e já podia ir para casa. Eu falei que ador ainda persistia, em menor intensidade mas ainda doía. Sem ao menos ler no prontuário onde estava escrito com destaque que sou alérgica a dipirona, ele me receitou uma dipirona e falou que após isso estava de alta. Novamente tive que falar da alergia e então depois de verbalizar, em tom de ironia, que “esse povo hoje em dia são cheios das alergias” receitou um buscopam simples.
Por volta das 08:00 horas da manhã da segunda-feira retornei para casa, ainda com um pouco de dor e com a pressão baixa e com uma experiência muito mais dolorosa do que deveria. O sentimento era de gratidão para algumas pessoas maravilhosas que realmente desempenaham com muito profissionalismo suas funções. E de indignação por outros que fazem aquilo como se estivessem cumprindo uma pena, tratando tão mal uma pessoa que já se encontra fragilizada tanto fisica como emocionalmente.