Para quando se sentir triste

Caminhar pelo parque às duas da manhã talvez não fosse a ideia mais comum, mas ali, na escuridão, eu encontrava alguma paz. A brisa fria tocava o rosto como um lembrete de que, mesmo nas horas mais solitárias, a vida seguia seu curso. As folhas caídas no chão faziam ecoar meus passos, enquanto eu pensava sobre a sociedade, os relacionamentos, e o curioso modo como as coisas se entrelaçam.

A vida, afinal, é uma série de encontros e desencontros. Amigos que se vão, amores que nascem e morrem, e nós, que ficamos tentando entender como tudo isso faz sentido. No fundo, talvez não faça. A solidão de uma madrugada como essa tem um certo humor cruel, como se o Universo quisesse nos lembrar de que, em meio ao caos, é preciso encontrar um pouco de leveza.

Enquanto passo por um banco molhado pela garoa da noite, me pego pensando sobre a estranha relação que temos com a tristeza. Na sociedade, a tristeza é quase um tabu. Somos empurrados a sorrir, a seguir em frente sem refletir muito sobre o que realmente sentimos. Mas e se, ao invés de fugir dela, aceitássemos que ela também tem um propósito? Que a tristeza, por mais dolorosa que seja, é uma espécie de freio, nos obrigando a parar e olhar ao redor?

As árvores ao meu redor se mexem ao ritmo do vento, e penso que a vida também é assim. Às vezes, os ventos da tristeza balançam nossos galhos, nos fazem perder algumas folhas, mas, eventualmente, vem a calmaria. Ninguém gosta de sentir dor, mas será que não são nesses momentos que mais aprendemos sobre nós mesmos? A tristeza nos mostra o que realmente importa, o que realmente queremos.

Talvez a vida seja sobre isso: caminhar sozinho às duas da manhã, refletindo sobre tudo que foi, sobre tudo que poderia ter sido, e ainda assim, sorrir com a ironia de tudo isso. Porque, apesar da dor, sempre há beleza. Na paisagem, nas pessoas, e até nas perguntas que não têm resposta.

Então, se algum dia você se sentir triste, lembre-se de que é apenas uma parte da caminhada. Às vezes, é preciso atravessar noites escuras para apreciar melhor os dias ensolarados. E, quem sabe, você também encontre algo profundo em uma caminhada às duas da manhã. Talvez uma nova pergunta, ou apenas a lembrança de que, mesmo na escuridão, a vida segue, e você faz parte dela.

A caminhada me leva de volta à realidade, mas uma realidade transformada. Sim, a tristeza existe, mas não como um fim. Ela é o início de uma nova compreensão, de uma nova fase. Assim como o amanhecer sempre vem após a noite, também o sol voltará a brilhar, mesmo que agora ele esteja escondido atrás de nuvens escuras.