Relato de parto: desabafo de uma mãe, um relato da alma

O parto é um dos momentos mais intensos que uma mulher pode vivenciar, o mix de sentimentos e sensações nunca poderá ser explicado ou simulado fidedignamente, mas a visão da futura mamãe sobre os detalhes deste momento tão mágico e intenso podem ser descritas com palavras em um relato como este que se faz a seguir.

Resolvi escrever um pouco da minha experiência com o meu parto, pois são poucas as gestantes que tem acesso a esse tipo de informação. Eu mesma não fazia ideia da dor que passaria naquele momento.

Então, dia 18 de fevereiro de 2021, estava em minha residência, muito cansada, a barriga já era tão grande e pesada que eu mal saía da cama. Estava esperando meu esposo chegar do trabalho. Quando ele chegou, pedi que me ajudasse com alguns exercícios para ajudar o bebê encaixar e eu ter um parto tranquilo. Nós dançamos, fizemos agachamento e brincamos, foi muito bom!

Durante a madrugada eu não dormi, senti muitas dores, contrações e falta de ar, pois no final da gestação não se acha posição para dormir.

Fonte: encurtador.com.br/DERW4

Por estarmos iniciando nossa vida como casal, eu e meu marido não tivemos condições de contratar uma doula na busca de orientação, o que não me impediu de estudar o máximo que pude, devorei o máximo de livros, artigos científicos, além de acompanhar diversos profissionais especializados.

Às 06h20minh da manhã do dia seguinte (dia 19/02/21), eu levantei para ir ao banheiro urinar, então notei que desceu um líquido mais forte que o de costume, mas foi muito rápido não dei muita bola.

Fui até a cozinha beber um pouco de água na intenção de voltar para o quarto e tentar dormir um pouco, no entanto, no caminho do banheiro até a cozinha desceu mais líquido sem eu conseguir segurar.

Foi aí que eu soube que era a bolsa que havia estourado, fui até meu esposo (Alcides), o acordei e lhe comuniquei o ocorrido. Então, fui tomar banho e ele foi se arrumar, não sabíamos se era alarme falso. Pegamos tudo e fomos para a maternidade, no Hospital e Maternidade Dona Regina de Palmas. Chegando lá, às 07h08minh dei entrada para fazer os exames e descobrir se era mesmo a bolsa que havia estourado. Até esse momento eu ainda estava tranquila, sem sentir dores nem nada, somente o líquido descendo.

Dei entrada na maternidade sozinha, pois não estavam permitindo acompanhante devido a atual situação de Covid-19. O que já foi uma violência, pois pela lei, temos o direito a um acompanhante desde a entrada à maternidade.

Fonte: encurtador.com.br/htOPW

Até às 11h da manhã estava tudo bem, não senti nada mais que algumas leves contrações, estava com um cm de dilatação apenas. Então, segui fazendo exercícios como, dançar, caminhar e fazer agachamentos pelo hospital, na esperança de que dilatasse mais, pois tinha muito receio de precisar fazer uma cesariana, por mais que soubesse que o parto natural é doloroso, eu sempre quis e não me arrependo, e continuei sozinha.

Por volta das 15:00h desse dia, eu comecei a sentir as contrações de fato. “Meu Deus, como dói”, parecia que uma pessoa de 150kg pulava com toda força nas minhas costas.

Lá estava eu, que apenas com a ajuda das gestantes que estavam comigo, também sem acompanhantes, todas nos sentindo solitárias, eu nem se fala, quem me conhece sabe que há alguns anos venho tratando de caso de depressão, e como estava me sentindo só nesse momento, esse quadro piorou muito, precisei ir ver o psicólogo do hospital que só às 17:00h da tarde conseguiu autorizar para que eu pudesse ter um acompanhante.

Mesmo após está com essa autorização, meu esposo não pôde entrar devido ao fato de eu estar à espera de uma vaga no PPI (Pré-parto induzido). E, como eu estava a 10 horas soltando líquido e nada de dilatar, precisei ir para essa sala para induzirem o parto para que eu conseguisse alcançar a dilatação com ajuda de remédio.

Às 20:00h do dia 19, conseguiram uma vaga para mim nessa sala, e lá fui eu sozinha novamente. Como lá só tinha mulheres, não podia ter acompanhante homem no local. Mas eu sentia tanta dor que já estava fora de mim, não sabia que horas eram, o médico que estava fazendo o exame de toque foi extremamente invasivo, uma das piores sensações que tive, de ser invadida, foi horrível e muito doloroso, só aí já sofri com a falta de acompanhante e o excesso de exames de toques sem necessidade e com violência.

Às 23:00h mais ou menos não me recordo bem, penso que pelo fato de já ter sofrido tanto, segundo meu relatou meu esposo, foi que liberam sua entrada para me acompanhar. Nesse intervalo, eu caí tentando ir ao banheiro, e daí por diante, não me deixaram mais levantar da cama, pois não tinha mais forças nas pernas para nada, só sentia dor e muita dor o tempo todo.

Meu esposo conseguiu cronometrar minhas contrações e me ajudava segurando na minha mão para que eu pudesse apertá-lo no momento das dores. Umas 3:00h eu não lembro bem, comecei a dilatar sem ajuda dos comprimidos que me deram, então me levaram para outra sala (a de pré-parto), onde eu só poderia ir depois que tivesse com 6cm de dilatação. Fui levada de cadeira de rodas pois não conseguia mais ficar em pé.

Na sala de parto, me lembro de ter ficado em uma maca que desmontava, então sempre que as contrações vinham eu derrubava um pedaço da cama por não conseguir me apoiar em lugar algum para fazer a força de parir.

Eu não faço ideia de quantos médicos foram até mim, impossível recordar depois de tanto sofrimento. Mas, lembro que próximo das 6 horas, na manhã do dia 20, uma médica veio e me disse que eu estava na posição errada e fazendo a força errada que daquela forma não iria conseguir fazer o neném sair. Hoje, paro penso e me pergunto: porque antes dela nenhum profissional ou médico não me orientaram ou me ensinaram?

Enfim, logo após o que essa médica me ensinou, aí sim foi muito bom, pois eu senti que conseguiria, porém, não tinha mais forças devido estar fazendo esforço há muitas horas e de maneira errada (como ela falou), aí vieram e aplicaram uma injeção de força (oxitocina).

Às 7:08h do dia 20, o Theodoro nasceu, de parto natural, e eu posso afirmar que quando ele saiu não doeu!

Definitivamente, depois que me ensinaram a maneira correta de fazer força e a posição, não doeu mais. Quando o neném saiu, colocaram-no em cima de mim, mas ele não estava chorando, eu fiquei com medo, daí alguns segundos depois ele chorou e o pediatra levou-o juntamente com meu esposo para fazer os exames de praxe.

Fonte: encurtador.com.br/lBLY2

Após o nascimento do Theodoro, quando o trouxeram eu não senti muita coisa, eu não estava entendendo o que aconteceu, não acreditava que tinha dado à luz a uma criança minha, pensei que a partir daquele momento ela iria precisar de mim e me perguntava, como eu faria para cuidar desse ser que eu nunca tinha visto da vida? A maternidade, a gestação são muito romantizadas, não acredito em amor à primeira vista, acho que isso não existe. Eu o amava, mas não foi aquilo tudo o que dizem quando nasce. Eu queria protegê-lo de todo mal, mas, não senti amor incondicional por ele assim que saiu de dentro de mim.

Por fim, sobre o parto, meu filho Theodoro nasceu às 7:08 do dia 20/02/2021, após 30 minutos do seu nascimento, logo já consegui ficar de pé, e fui tomar banho.

Confesso que sofri muito pela falta de atenção da maternidade, dos profissionais, pela falta de um acompanhante, e não pelo parto em si.

Não me arrependo de ter optado pelo parto normal, minha recuperação foi muito tranquila, não tive nenhuma intercorrência, somente o Theodoro devido ter ficado quase 24h com a bolsa estourada que como consequência disso, ele contraiu uma bactéria e precisou ficar sete dias internado tomando antibiótico na veia, fora isso, depois de tudo, graças a Deus ficamos bem.

Esse foi um breve resumo do meu relato de parto, meu nome é Yrranna Stefanny Martins Santos, casada com Dr. Alcides Ferreira (Advogado), mãe do Theodoro com muito orgulho.

Fonte: Acervo pessoal da entrevistada