ACOLHER, OUVIR E CRESCER: UMA JORNADA DE INTERVENÇÃO EM GRUPO NO CAPS AD III

Compartilhe este conteúdo:

Na disciplina de Intervenção em Grupos, sob a orientação e supervisão do professor Sonielson Luciano de Sousa, nós, Andressa Sharbatah, Gabriela Barbieri, Hellen Fuza e Isabella Ayres, demos início a realização de cinco intervenções, no Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e drogas  (CAPS AD III) de Palmas, realizadas em um grupo de homens, já existente na instituição, que funciona sob a mediação do psicólogo Plácido Lúcio Rodrigues Medrado. 

A partir disso, tivemos como objetivo proporcionar uma intervenção terapêutica focada em possibilitar espaços de acolhimento e reflexão para os homens que compõem o grupo, abordando temas sociais importantes. Dessa forma, fizemos uma seleção de temas a serem expostos em rodas de conversas que fossem relevantes para o contexto do grupo. Por fim, apresentaremos um relato expondo experiências e vivências que tivemos ao longo desses cinco encontros.  

No primeiro encontro, relatado na Figura 1, pensamos em um momento de socialização e de apresentação, para que pudéssemos nos identificar e apresentar o nosso papel durante os encontros, assim como nos conhecermos de forma mais singular. Para isso, iniciamos com a proposta “O Caminho da Vida”, utilizando materiais simples — folhas de papel e canetas. Solicitamos que cada participante desenhasse um caminho representando sua vida até aquele momento, indicando, através de símbolos ou palavras, momentos marcantes, como desafios superados, conquistas, mudanças importantes ou lembranças felizes.

Figura 1.  Primeiro dia de intervenção no CAPS AD III, junto ao grupo de homens.

Fonte: Elaborado pelo autor (2025). 

Neste momento, o grupo se mostrou muito acolhedor, respeitoso e disposto a participar da dinâmica. Na etapa de compartilhamento, ficamos positivamente surpresas com a profundidade e honestidade dos relatos. Alguns participantes se emocionaram ao falar das dificuldades enfrentadas com a dependência química, enquanto outros destacaram suas vitórias pessoais e objetivos a serem alcançados, como a busca por tratamento e a reconstrução de vínculos familiares.

Foi muito impactante observar como, mesmo com histórias diferentes, surgiram muitas identificações entre os participantes. A roda de conversa tornou-se um espaço propício para a escuta ativa e para a empatia e, por isso, saímos da intervenção com a sensação de missão cumprida e motivadas após o primeiro encontro, com muitos aprendizados e expectativas para as próximas intervenções que seriam realizadas. 

No segundo encontro, registrado a partir da Figura 2, utilizamos como tema “O que é ser homem?”. Para isso, inicialmente, utilizamos um vídeo como disparador temático, para conseguirmos entender o ponto de vista dos participantes, assim como as suas experiências e opiniões pessoais sobre a temática. 

Figura 2 – Registro do segundo encontro no CAPS AD III, com o grupo de homens.

Fonte: Elaborado pelo autor (2025). 

Como dinâmica, realizamos a “Roda da Masculinidade”, uma atividade que propôs frases inacabadas para serem completadas livremente, como: “Ser homem significa…”; “Uma coisa que aprendi sobre ser homem é…” e; “Algo que me disseram sobre ser homem e eu discordo é…”. Com isso, as respostas possibilitaram reflexões profundas sobre o peso de certos estereótipos masculinos, as dificuldades para expressar emoções e a necessidade de ressignificar o conceito de masculinidade. 

Durante a dinâmica, alguns participantes expuseram experiências e sentimentos relacionados ao tema, nos contando de suas lembranças mais pessoais da infância e de suas famílias, como foram criados e como os estereótipos masculinos impactaram suas vidas. Além disso, recebemos diferentes pontos de vista sobre o tema, mas destacamos, principalmente, ideias relacionadas a trabalho, respeito, responsabilidade, sobre como o homem deve ser o provedor e amparador do lar, entre outras. Neste momento, nos sentimos, de certa forma, tocadas por suas falas, pois, carregadas de memórias e de sentimentos, eles não tiveram vergonha ou receio de se abrirem para nós e para o que a dinâmica propôs para eles. 

Na terceira intervenção, realizamos a dinâmica “Caixa dos problemas”, na qual cada participante escreveu, de forma anônima, um problema ou preocupação em um pedaço de papel e depositou em uma caixa. A proposta simbólica foi de compartilhar seus problemas e preocupações uns com os outros, em um espaço em que pudessem falar sobre o que os perturbam, assim como escutar os colegas que também passavam por situações semelhantes ou não.

Após o momento de conversa, reforçamos a importância de partilhar e buscar apoio em momentos difíceis, assim como mostrar a eles que, apesar de serem diferentes, alguns ainda compartilhavam das mesmas preocupações, estando juntos em meio às dificuldades. 

Alguns dos tópicos que mais cercaram os relatos se relacionam à necessidade do homem ser provedor e trabalhador e como isso define seu valor, mas, ao mesmo tempo, coloca um peso em suas ações e no sentimento de identidade. Isso foi ainda mais simbólico quando compartilharam suas histórias de vida e seus exemplos de masculinidade, com o mais presente sendo a figura paterna. Foi um encontro emocionante que explorou as diferentes possibilidades do que é ser homem.

Esta experiência nos marcou profundamente, pois, apesar de alguns serem tímidos, ficamos muito contentes e de certa forma surpresas com a força de vontade dos integrantes em participarem da dinâmica, compartilhando um pouco de si, se envolvendo na conversa e fazendo reflexões ao escutar outros relatos dos colegas. Para nós, foi uma confirmação prática da força que os grupos têm como dispositivos terapêuticos de escuta, apoio e transformação.

No quarto encontro, que conta com o registro da Figura 3, apresentamos como tema a saúde mental e o autocuidado no contexto da masculinidade e sua importância. Iniciamos com perguntas disparadoras que se relacionavam com o tema, incentivando os integrantes a falarem um pouco sobre como se sentiam em relação ao que foi conversado durante os últimos encontros. Alguns deles mencionaram emoções de forma constante ao falarem sobre o que estavam vivenciando, sendo mais comuns os momentos em que se sentiam ansiosos e deprimidos. 

Com isso, durante a roda de conversa, os integrantes do grupo expuseram um pouco sobre sentirem que têm espaços acolhedores para falarem o que sentem, sem que se sintam negligenciados ou invalidados. Porém, em sua maioria, alguns dos relatos foram positivos, nos contando que tinham pessoas em seu ciclo social em que poderiam se apoiar em momentos difíceis, tornando-se suportes emocionais. Isso nos deixou, de certa forma, aliviadas por saber que alguns tinham esse apoio em suas vidas, mas, ao mesmo tempo, ficamos pensativas sobre aqueles que não falaram algo sobre, talvez por não partilharem da mesma sorte. Com isso, reforçamos que o CAPS AD III estará sempre de portas abertas para promover escuta e acolhimento a todos eles. 

Nesse, como nos outros encontros, foi possível observar o quão significativo é o acolhimento que um grupo proporciona, pois, em diversos momentos, alguns pontuaram que já passaram por coisas similares perante os relatos de outros, o que promove a identificação e o sentimento de união. Ademais, esse encontro foi cercado de palavras positivas de superação, principalmente para aqueles que estavam no começo da jornada.

Por fim, ainda no quarto encontro, propusemos um momento de relaxamento utilizando mindfulness, guiando os integrantes a praticarem o relaxamento utilizando a própria respiração, para que, em momentos em que estivessem ansiosos, pudessem reproduzir, em casa, os exercícios de respiração. Com isso, ficamos felizes em notar que, apesar de serem agitados e ativos, eles mantiveram o foco e participaram, em sua maioria, desse momento, seguindo o que propusemos, ao fecharem os olhos, relaxarem os músculos e prestarem atenção apenas na respiração. Nos sentimos realizadas, pois conseguimos cumprir o propósito daquele encontro e, ao mesmo tempo, tristes, pois a nossa jornada logo se encerraria. 

Figura 3 – Registro da quarta intervenção no CAPS AD III.

Fonte: Elaborado pelo autor (2025)

No quinto e último encontro, abordamos a temática “O que quero levar comigo”, referindo-se ao futuro e às vivências no grupo de homens e, assim, abrimos uma roda de conversa com perguntas disparadoras como “Hoje, me sinto mais forte porque…”, “Aprendi que ser homem também é…”, “Quero continuar praticando…”, “Uma coisa boa que levo deste grupo é…”. Dessa forma, cada integrante do grupo completava a frase de uma forma que melhor o representasse. Posteriormente, apresentamos a seguinte pergunta “Que sonho ou plano quero alimentar daqui pra frente?”, e falamos que ficassem à vontade para quem se sentisse confortável em responder. 

Nesse momento, fomos pegas de surpresa por um dos integrantes do grupo, o qual nos fez duas perguntas, sendo elas “Por que escolhemos a psicologia?” e “O que vocês pensam sobre a forma como o CAPS AD III se preocupa com as questões humanitárias?”. Isso nos surpreendeu de forma positiva, pois eles também demonstraram interesse pelas nossas histórias e motivações. Após isso, iniciamos o momento festivo do nosso último encontro, começando pelo bingo que organizamos, com prendas para os participantes que ganhassem a brincadeira e, por fim, um lanche coletivo em que participaram tanto o grupo de homens quanto alguns funcionários do CAPS AD III.

Figura 4 – Imagem do bingo e prêmios. 

Fonte: Elaborado pelo autor (2025). 

Durante todos os encontros, fomos bem recebidas e acolhidas por todos ali presentes, tanto os funcionários quanto os integrantes do grupo de homens. Apesar de alguns não gostarem de falar e apenas estarem lá para ouvir os demais, sempre se mostraram interessados e abertos a tudo que propomos, tanto aos temas quanto às dinâmicas. Durante as conversas, escutavam atentamente uns aos outros, na maioria das vezes se identificando com as vivências relatadas e, em sua maioria, dando apoio e validando as falas dos demais participantes. Assim, com toda certeza, isso nos motivava a nos dedicarmos, cada vez mais, aos temas e aos propósitos de cada encontro.

Em diversos momentos, ficamos emocionadas com suas falas, com suas experiências de vida, com tudo que nos contaram. As histórias mais pessoais, os momentos mais frágeis e sensíveis de suas vidas foram compartilhadas conosco, fazendo com que nos sentíssemos mais felizes e com o sentimento de trabalho concluído com todos os encontros pensados e feitos ao longo dessas semanas. 

Acreditamos que algumas palavras podem definir, um pouco, a forma como nos sentimos ao longo dessas semanas, mas a principal é a realização. Com certeza nos sentimos realizadas em todos os momentos e, desde o primeiro contato com o grupo, nos sentimos acolhidas. Suas histórias nos tocaram e nos emocionaram, risadas estiveram muito presentes durante os encontros, porém lágrimas também estiveram presentes em um dos encontros, por parte de uma das alunas, ao se emocionar com as falas dos integrantes do grupo. 

A partir de tudo que vivemos durante essas semanas, concluímos que a construção de um espaço seguro e acolhedor é essencial para o sucesso do grupo, e que cada intervenção é uma oportunidade única de crescimento, para os participantes e para nós, enquanto futuras psicólogas. A necessidade de mostrar uma escuta ativa e, mesmo que haja um pouco de resistência para iniciar a conversa, dar um empurrãozinho e voto de confiança faz com que relatos incríveis desabrocharem. Esse sentimento de expectativa alcançada após a realização de tudo mostra que foi um trabalho realizado com muito afeto por nós, que foi recebido de braços abertos pelo grupo. 

Ademais, é importante salientar a importância do trabalho realizado pelo CAPS AD III. Como brincadeira, um dos integrantes sempre nos relatava que “o CAPS é como se fosse uma mãe para nós” (sic). O CAPS AD III se torna, assim, um apoio para cada um daqueles que deseja ali estar e receber o tratamento ofertado. Foi possível ver que grande parte dos profissionais que trabalham lá fazem seu trabalho da melhor maneira. Além disso, muitas das histórias contadas eram finalizadas com um agradecimento dos integrantes ao grupo e ao que o Centro de Atendimento proporciona a cada um deles. 

Nos sentimentos, ao fim de tudo, além de realizadas, agradecidas a oportunidade que o Professor Sonielson nos proporcionou, a partir da disciplina de Intervenção em Grupo e ao CAPS AD III por ter nos aceitado e apoiado em cada intervenção. Plácido nos acompanhou em cada momento, nos auxiliou e ajudou, mas, acima de tudo, confiou em cada uma de nós. 

AUTORES:

Andressa Sharbatah Lima Duarte

Gabriela Gomes Barbieri

Hellen Regina Fuza Silva

Isabella Ayres da Silva Neiva

Sonielson Luciano de Sousa

Compartilhe este conteúdo:

Deixe um comentário