Carta aberta aos pais de uma adolescente

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30/12/2018 – 13/03/2025

Esse texto é um compilado de sentimentos entre uma adolescente fragilizada e vulnerável e uma adulta que entendeu que esses adjetivos são parte do que ela é. Sim, isso sou eu e, para ser sincera, me emocionei ao ler alguns trechos do que escrevi há 7 anos. É interessante porque eu nem me lembro qual foi a situação que desencadeou tantos sentimentos, mas lembro exatamente como foi senti-los.

“Oi. Não, não vou falar sobre o quanto vocês me magoaram e nem como são péssimos pais, porque, bom, não sou a filha perfeita. Estou escrevendo porque sou insegura e incapaz de dizer que sou uma grande imbecil que não tem a capacidade de fazer nada sozinha (e mesmo assim quero ter liberdade). Egoísta, orgulhosa, rancorosa, ignorante. Muito arrogante e estúpida e a pessoa que até quando faz as coisas certas acaba estragando tudo no final. Eu sei, sou uma decepção para vocês! Tudo bem, sou uma decepção para mim também” (Amanda, 30/12/2018).

Bom, hoje eu consigo fazer tudo sozinha, até coisas que não precisavam, até coisas que necessitam de outras pessoas, só de pensar em depender de alguém para o que quer que seja me dá arrepios. Eu fui uma adolescente intensa, acho que dá para perceber, e isso ainda está aqui apesar da luta constante de tentar controlar tudo que acontece aqui dentro, e não acho mais meus pais tão ruins assim, mas hoje eles entendem que não são perfeitos e que não sabem de tudo, me orgulho de poder ter ensinado isso a eles. A forte cobrança e julgamento ainda permanecem, mas entendo que, apesar de prejudiciais quando sentidos em excesso, também é o que me faz buscar evoluir e melhorar.

“Eu penso que dou o meu máximo para poder andar quilômetros e não consigo andar nem um centímetro. Tô errada. Preciso de ajuda! Não sei o que fazer e parece que está tudo desabando. Será que assim vocês enxergam que apesar do desastre que eu sou ainda preciso de vocês? Preciso de vocês em todas as horas, não só quando faço algo errado, não só nas horas felizes. Preciso de vocês quando tudo estiver ruim. Quando eu chorar, não quero que vocês sejam o motivo de eu me trancar no quarto e querer não existir!” (Amanda, 30/12/2018).

Essas palavras ainda têm um impacto significativo sobre mim. Quando se tem sentimentos tão fortes sendo invalidados é um impacto ainda maior, acredito que se sentir sozinha é uma das coisas mais difíceis da vida e para um adolescente isso é o fim do mundo e eu entendo o porquê. É tão assustador quando as pessoas que mais dizem te amar coincidentemente são as que mais te machucam, e lidar com isso é como escalar uma montanha sem nenhum equipamento, é exaustivo, frustrante e você tem a convicção de que não vai conseguir.

“Extremamente mal agradecida? Sim, eu mesma! Tô tentando falhamente melhorar, mas é um erro atrás do outro e estou com tanto medo de não conseguir, de não ser alguém, de desistir. Será que um dia eu vou conseguir? Conseguir ser racional, decidir corretamente, pensar nas consequências. Parece que nada que eu faça melhora a situação, acho que essa carta foi o mais próximo que eu cheguei da maturidade” (Amanda, 30/12/2018).

Me lembro do desespero de tentar acertar e só piorar tudo, quando se é adulto lidamos com isso várias vezes e acaba se tornando normal, acredito que porque sabemos que, de alguma forma, vamos dar um jeito. Já a maturidade, hoje entendo como algo tão subjetivo, como ser maduro? Como construir isso? Mas se eu pudesse defini-la como uma pessoa, com certeza seria a Amanda de 16 anos que escreveu essa carta.

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