Quando se fala em intervenção, as primeiras ideias que vinham a minha mente, antes do contato direto com a temática através da matéria de “Intervenção em Grupos”, era algo distante, de difícil acesso e poucos resultados. Seja por alguma descrença pessoal construída por conceitos interpretados pessoalmente, ou pela dificuldade em ver de maneira “palpável” tudo aquilo que foi aprendido teoricamente sobre processos terapêuticos em grupo.
Ao me deparar com a necessidade de realizar um projeto de intervenção, confesso que o medo e a preocupação tomaram conta da minha mente e de meus planos, afinal a Psicologia, em sua mais pura existência, é totalmente pautada na atuação direta com pessoas reais, algo tão especial e delicado, ao mesmo tempo. Dessa maneira, vivi alguns dias me preocupando em como seria intervir com várias pessoas, adentrando em seu contexto, seu “habitat natural”, sua rotina, com abordagens, ideias e projetos totalmente novos.
Além de tudo isso, crescia paralelamente a angústia na escolha do público-alvo para a intervenção, visto que meu desejo era poder realizar um trabalho de impacto e significado, o que não significava algo “mirabolante ou sensacional”, mas algo que realmente importasse para aquelas pessoas, ao ponto de transformá-las de alguma maneira. Assim, fomos abençoadas (eu e meu grupo) com a oportunidade de sermos as primeiras estudantes de psicologia a realizar um projeto com os adolescentes do Programa dos Bombeiros Mirins do Corpo de Bombeiros do Tocantins.
O que antes era medo transformou-se em espaço para o processamento de milhares de ideias e possibilidades, visto que o grupo escolhido se encontrava em uma faixa etária importantíssima para o olhar psicológico e terapêutico. Não queríamos ser vistas como as “tias das brincadeiras” ou “estudantes chatas”, porque não se tratava de entretenimento ou disponibilização da quantidade máxima de conteúdo, mas sim construir uma conexão segura, empática e possível com todos aqueles indivíduos que estavam tão próximos da fase adulta.
Passamos vários dias pensando, projetando, arquitetando e estruturando uma abordagem que pudesse nos conduzir a um local em que cada um daqueles jovens encontrassem em nós um acolhimento eficiente, uma porta de compreensão e uma oportunidade de cuidado e melhoria de sua saúde mental. Analisadas as estratégias, escolhemos tratar sobre ansiedade e o estresse, temas tão atuais, importantes e necessários para essas pessoas.
Para quem estuda sobre Psicologia e atua no contexto da saúde, ouvir, falar e pensar sobre a ansiedade e estresse é muito normal, entretanto a faixa etária dos adolescentes, assim como várias outras pessoas, podem não ter acesso a esse conteúdo de maneira segura e verdadeira, que possa conduzi-los ao suporte e manejo do que pode lhes causar sofrimento e desconforto mental. E foi principalmente por esses motivos, que construímos a nossa atuação voltada para apresentar aos bombeiros mirins o que a Psicologia poderia oferecer a eles sobre o que é a ansiedade e estresse, suas causas e como tratá-los.
Com o “arsenal” de estratégias prontos, nos preparamos para os encontros, sabendo que teríamos cerca de 70 adolescentes nos ouvindo durante 6 encontros, dando a nós a importante missão de impactá-los o quanto pudéssemos. A cada encontro que ia sendo realizado, eu fui ganhando confiança, autonomia e muito apreço pela intervenção em grupo, pois pude ver como é poderoso se colocar no lugar de escuta empática de pessoas que podem estar vivendo os mesmos problemas e ainda não sabem disso.
Graças a todo o suporte que recebemos do Corpo de Bombeiros, bem como o talento e domínio técnico de todas as colegas que fizeram parte do grupo de intervenção, conseguimos repassar, de maneira eficiente, lúdica, acessível e clara a cada um daqueles adolescentes as principais informações sobre a ansiedade e o estresse no contexto da adolescência, a fim de muni-los para lidar com qualquer circunstância que fosse existente ou viesse surgir relacionada a esses temas.
E como se não pudesse ser melhor, fomos surpreendidas com alguns jovens que nos procuraram na finalização dos encontros, pedindo por “mais suporte”, em razão de situações que estavam enfrentando. Com essas situações, além dos sorrisos, os olhares de aprovação e o comprometimento deles, tivemos consciência de que todo o nosso árduo trabalho havia valido a pena, porque conseguimos oferecer para aquele grupo algo que nunca poderá ser tirado deles: o conhecimento.
Dessa maneira, finalizei a experiência com o sentimento de cumprimento de dever, gratidão e muita alegria em ter feito parte de algo tão especial, que nasceu praticamente “do zero” e trouxe impactos positivos em tão pouco tempo. Isso só me mostra o quão importante é o papel do psicólogo para o mundo, visto que ele detém do poder de estar em múltiplos contextos, cuidando de tantos tipos de pessoa, mas sempre levando consigo o dever de promover o bem-estar e a saúde mental de maneira que garanta a cada pessoa tratada um ambiente de escuta, pertencimento e de ser visto em meio a “tantos e tudo”.
Espero sinceramente que o restante da minha trajetória na graduação em Psicologia me proporcione experiências ímpares como foi esta. Agradeço ao professor Sonielson pela oportunidade e acompanhamento, assim como sou grata pelas minhas colegas de grupo (Carla, Amanda e Izabela) que também foram incrivelmente impactadas e fizeram deste projeto o melhor, sem sombra de dúvidas. O mais importante é nunca esquecermos o quanto devemos estar abertos para experiências que nos tornam ainda mais conscientes do poder que a escuta e empatia tem em transformar a vida das pessoas, desde que estejamos dispostos a isso.