Me chamo Jéssica Gontijo, tenho 26 anos, moro em Palmas e sou acadêmica de psicologia CEULP/ULBRA. Venho relatar a minha experiência e da minha família sobre os cuidados que precisamos tomar com a matriarca da família, minha avó Terezinha de 85 anos, diagnosticada com Alzheimer a aproximadamente cinco anos.
Esta linda senhorinha, mineira e mãe de dez filhos mudou-se para Paraíso do Tocantins a mais de cinquenta anos e onde vive atualmente. Em meados de 2015, foi diagnosticada com Alzheimer, onde veio a fazer diversos tratamentos para que a doença não evolua. Porém, alguns sintomas foram surgindo ao longo desses anos, ora suas lembranças se fazem presente através de palavras, ou através de um sorriso ou um olhar atento com a chegada de seus filhos e netos.
Enquanto neta, sempre procuro compreender quais maneiras de contato e vínculo afetivo minha avó consegue transcender em meio ao silêncio ou a carinha de dúvida que ela faz ao ver alguém chegar. E é num lindo sorriso que ela se conecta comigo e com a certeza de que meu nome é a coisa menos relevante que ela precisa lembrar, afinal de contas, eu sou apaixonada por esse sorriso e é desta forma que conseguimos perpetuar nossa relação.
Mas no ano de 2020 a família precisou passar por várias adaptações, devido a pandemia. Nossa família é muito numerosa, em média 55 pessoas nas datas comemorativas, assim precisou-se muita conversa, compreensão e cuidados para a saúde de todos e principalmente da minha avó.
As visitas foram drasticamente reduzidas, e para alguns foram totalmente suspensas, devido ao tipo de rotina que cada membro da família teve durante a pandemia, e possíveis riscos que corriam por conta do contato social que ainda precisam ter por conta de trabalho. Processo muito delicado para uma família tão unida, numerosa e carinhosa como a família Gontijo costuma ser no dia a dia.
Assim, posso denominar esta nova configuração de se relacionar da minha família em ‘saudade’, ‘cuidados’ e o ‘amor’ que prevalece sempre. Mas apenas isso não foi o suficiente para os cuidados frente ao vírus, pois alguém que com diagnosticado com Alzheimer precisa ter os cuidados redobrados por ser grupo de risco no contágio do vírus. Dona Terezinha não podia mais ficar sentada na porta de casa acompanhando as movimentações da sua rua ou interagindo com os vizinhos e amigos que ali estavam.
A nova rotina precisou ser muito restrita em ficar em casa, até mesmo por conta da locomoção da minha avó, que é cadeirante. As visitas eram apenas de poucos familiares, mas todos sempre acompanhando através das redes sociais. Uma forma criativa e segura para que minha avó pudesse acompanhar e interagir com os vizinhos, foi colocar uma faixa de restrição no portão, enquanto estivesse aberto para que as pessoas não entrassem em casa, mas que ela ainda pudesse acompanhar a movimentação da rua. Assim, os cuidados se dão para que ela não fique sem interação social a fim de não prejudicar seu estado emocional e psicológico
Fácil, este momento não está sendo. Manter a saúde mental em meio a tantas restrições, incertezas faz com que a gente repenso o que é realmente é primordial nas nossas vidas, e como devemos interagir, viver e nos resguardar diante de um momento delicado que o mundo está vivendo. Mas, o que nos move é continuar tratando da melhor forma a história e o legado que nossa amada Terezinha.