Nesta quarta, 23 de agosto, ocorreu na sala 405 do Ceulp/Ulbra, as sessões técnicas do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – Caos. Três trabalhos foram apresentados, sendo “Análise dos riscos psicossociais entre os policiais militares da 1ª companhia independente de Arraias-TO”, por Thatiellen Menezes Ferreira (UFT); “Violência e trabalho: a escuta clínica do sofrimento com um policial militar afastado”, por Almerinda Maria Skeff Cunha (UFT); e “A afetividade no processo ensino-aprendizagem por meio da escuta atenciosa: uma proposta de intervenção”, por Gisélia Nogueira N. Vasconcelos (CEULP/ULBRA).
Em pesquisa com os policiais de Arraias-TO, Thatiellen procurou trabalhar com escala e organização de trabalho; escalas e estilos de gestão; escala de sofrimento patológico no trabalho e escala de danos físicos e psicossociais. Muitos relatam a falta de oportunidade de crescimento dentro da empresa, falta de autonomia e de reconhecimento, e mostraram a necessidade de haver mais diálogo e humanização no meio militar.
Na pesquisa foi possível identificar, dentre os pesquisados, que 17,6% sentem-se muito inúteis no trabalho e 82,4% relatam que suas tarefas são banais, que o trabalho que exercem é sem sentido e a identificação com suas tarefas é inexistente. Em relação a danos físicos, 48,6% relataram ter dores nas costas, alterações do sono e dores nas pernas. Já 47,3% relataram ter distúrbios digestivos, distúrbios circulares e alterações no apetite. Muitos disseram que tem a família como apoio e buscam pensar positivo para superar as dificuldades psicológicas e físicas demandadas pelo trabalho.
Na segunda sessão técnica, a pesquisa visou identificar situações de violência no trabalho vivenciadas pelo policial militar afastado. Almerinda começou falando sobre a globalização como geradora de novas formas de trabalho. Houve uma substituição do trabalho vivo (ato de trabalhar) para o trabalho morto (sistema de máquinas), havendo maior competitividade, exigência de produtividade e eficiência, resultando em maior desgaste físico e psicológico. Almerinda relata que a escolha de fazer a pesquisa com um policial militar se deu pela pouca representatividade desses profissionais para a sociedade e não havia esta escuta para esse público do Tocantins, havendo a necessidade dessa escuta clínica.
Por fim, na terceira sessão técnica foi apresentado que ensinar/aprender é uma relação de interdependência, onde aluno e professor trabalham juntos no processo de construção do conhecimento e de ensino-aprendizagem, que é interativo, dinâmico e dialético. Gisélia mostrou alguns fatores que influenciam nesse processo, como os intraescolares (por exemplo, infraestrutura da escola), extraescolares (por exemplo, emoções dos alunos), problemas comportamentais, emocionais, comunicativos, físicos, motivação intrínseca e extrínseca.
O foco do trabalho de Gisélia é mostrar que um ambiente favorável, com planejamento contextualizado e com conteúdos que interessem aos alunos, em que a relação professor-aluno tenha maior proximidade, maior vínculo e, principalmente, maior afeto e escuta atenciosa, geram maior probabilidade de a aprendizagem ocorrer. Gisélia promove essa escuta atenciosa com adolescentes da escola onde trabalha, que somada ao diálogo efetivo e afetivo, fortalecem o vínculo e a compreensão um ao outro.
Gisélia referencia Bastos (2009), que diz que “a escuta atenciosa não é passiva, ela coloca o sujeito em movimento” e Morales (2006), que diz que “o afeto transforma as situações conflituosas e limitantes”, concluindo que há a necessidade de profissionais mais atentos e comprometidos com a qualidade do ensino e abertos a novas práticas, pois a relação professor-aluno deixa marcas profundas em ambos.