No primeiro dia de junho de 2017, no South American Copacabana Hotel, Rio de Janeiro, deu-se início ao III Fórum Internacional de Saúde Mental. Com uma programação cheia durante todo o dia, destacou-se a participação do psicólogo norte americano Oryx Cohen, chefe de operações da NEC (National Empowerment Center) e coprodutor do documentário Healing Voices.
Ele iniciou sua fala abordando sobre o arquétipo do curador ferido, que segundo Jung (1919, apud NATEL, 2012) que indica que “a capacidade de curar o outro exige de cada curador o ato de curar a si mesmo”. Nesse sentido, Cohen disse que esse curar a si mesmo está relacionado com o aprender a ouvir melhor e que esse aprender a ouvir melhor pode aprimorar o ambiente para aqueles que convivem com vozes na cabeça (psicose) e que, em muitos casos, são discriminados por isso.
Sobre esta questão foi desenvolvido, nos Estados Unidos, com liderança de Oryx, o programa eCPR, com o intuito de ensinar pessoas a ajudar outras pessoas em momentos de crises emocionais, a partir de três passos: conectar, empoderar, revitalizar.
Cohen explanou sobre o significado de cada letra, em que o “C” leva a pessoa a se conectar emocionalmente com a outra, de coração para coração, apenas ouvindo, demonstrando que está junto dela. O “E” se refere ao ato de, junto da pessoa em crise, criar um ambiente favorável para que ela se empodere, com a premissa de que o poder está dentro de cada um. E finalmente, mas não menos importante, o “R” que induz a pessoa a revitalizar a outra, vendo essa “voltar a vida, voltar com o brilho nos olhos” (sentido figurado).
Esse programa propõe a mudança de pensamento e de discurso daqueles que julgam quem passa por esses momentos de crise, em que as vozes na cabeça surgem com intensidade. Essas pessoas são estigmatizadas como “loucas, doidas, doentes mentais” e afins. Cohen colocou que a pergunta é: “Essas pessoas estão doentes ou estão reagindo a algum problema? O problema está na pessoa ou na sociedade em que ela vive?”. Sociedade essa “que tapa os ouvidos” e todos os outros sentidos, geralmente procurando internação ou intervenção medicamentosa para quem está na crise.
Desse modo, agem de forma analógica a drapetomania, processo no qual, segundo Cohen, os escravos eram diagnosticados como “loucos” quando tentavam fugir e o “tratamento” era receber chibatadas e terem os dois dedões dos pés cortados.
Para finalizar, Cohen deixou duas frases que considera descritivas do programa: “Seja a mudança que você deseja ver no mundo”, de Mahatma Gandhi, e “a salvação do mundo está nas mãos daqueles que são criativamente desajustados”, de Martin Luther King.
O III Fórum Internacional de Saúde Mental continua nesta sexta, dia 2, com uma vasta programação. A equipe do (En)Cena está participando ativamente de todas as atividades e, neste sábado, dia 3, irá apresentar quatro trabalhos durante o evento.
REFERÊNCIA:
NATEL, R. M. G. L. O curador ferido: Xamã e Psicoterapeuta Junguiano, Aproximações do Mito na Formação Junguiana. Associação Junguiana no Brasil, Monografias, SP, 2012. Disponível em: <http://www.ajb.org.br/