A cientista e psicóloga que negou a teoria de superioridade masculina.

Leta hollingworth

fonte: arquivo pessoal.

Nascida em maio de 1886, no oeste de Nebraska. Sua história de vida já começa marcada pelos paradigmas do patriarcado. A história conta que sua mãe  Margaret Danley Stetter, enviou várias cartas ao seu pai, que estava trabalhando longe, tentando fazer com que ele voltasse para casa, para ver seu nascimento e ao chegar e vê-lá  sua primeira reação foi dizer: ‘’ Eu daria US$1.000 se fosse um menino’’. infelizmente era algo comum na época em que acreditava-se que mulheres eram fisicamente e mentalmente inferiores a homens.

Anos mais tarde  isso pareceria como o destino, pois as visões de Leta  passariam a desafiar os paradigmas da época. Por séculos homens mistificaram os ciclos menstruais, alegando que mulheres não deveriam fazer parte do ensino superior ou do trabalho, por sua instabilidade durante a menstruação. Médicos identificaram  essas condições com causas físicas e mentais, pois consideravam mulheres como ‘’excessivamente emocionais’’ surgindo então o termo histeria.’A causa da histeria era atribuída ao útero, que teria o poder de se movimentar dentro da mulher, por ser um ser vivo autônomo, podendo ocorrer então a sufocação da matriz, do útero – origem da palavra histeria (Ávila & Terra, 2010; Leite, 2012). O diagnóstico era sério, levando a tratamentos duvidosos e até a internação.

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A fim de refutar a fragilidade feminina, Leta conduziu vários testes diários em seis mulheres e dois homens durante meses, que avaliavam agilidade física e habilidades escritas. O resultado foi um desempenho igualitário entre homens e mulheres, inclusive no período de  menstruação. Baseando-se nesses teste e em seu conhecimento publicou no seu artigo em 1914 ‘’ “homens que escreveram com autoridade sobre qualquer assunto sem que possuíssem conhecimento confiável ou especializado” não hesitaram em fazer afirmações não comprovadas sobre as habilidades intelectuais e físicas das mulheres durante seus ciclos menstruais.

Por meio de seu trabalho, também  se envolveu na luta pelo voto feminino, que resultou na  ratificação da 19ª Emenda nos Estados Unidos, que assegurou a participação de algumas mulheres na eleição de 1920. Ela acreditava que os poderes da sugestão social e da opinião pública eram umas das muitas maneiras em que homens exerciam poder sobre as mulheres. De acordo com pesquisas feitas atráves do artigo da revista forbes(2020): Em um artigo publicado no “American Journal of Sociology”, em 1916, a cientista sugeriu que o governo norte-americano obrigava as mulheres a terem filhos, tornado ilegal a divulgação de informações sobre controle de natalidade: “Enquanto apontam que o objetivo da natureza feminina é a maternidade e o cumprimento dos deveres maternos”, escreveu Leta, “a sociedade restringe as possibilidades para as mulheres”.

Leta, assim como outras mulheres, encontrou na ciência sua forma de lutar. Sua carreira profissional começou como professora, depois de se formar na universidade de Nebraska em 1906. Prosperando nesse emprego, se mudou para Nova York juntamente com seu noivo Harry Hollingworth, em 31 de dezembro de 1908 . Leta pretendia dar aulas em Nova York, mas descobriu que a cidade tinha uma política em que mulheres casadas não tinham permissão de ensinar. Ela então continuou  escrevendo e ocupando-se de tarefas domésticas, mas com o tempo vendo que não conseguia contribuir financeiramente começou  a se sentir entediada, frustrada, começando então a desenvolver depressão. Tentou então ir à pós-graduação, mas foi impedida pela descriminação de gênero da época, o que fez ela começar a questionar o papel da sociedade em relação às mulheres e a desigualdade de oportunidades.

Em 1911 ela pode começar a sua pós graduação, devido a uma bolsa de pesquisa que seu marido conseguiu pela coca-cola, ele a contratou como assistente de direção dos estudos, além de arcar com partes dos custos. Durante a pós-graduação ela passou a se concentrar em aspectos femininos. Nos anos seguintes publicou a série de estudos que questionaram a diversidade intelectual masculina. Para Leta, as mulheres eram tão inteligentes (e ignorantes) quanto os homens. Segundo a revista forbes(2020)  Em 1914 juntamente com Henrietta e membros da aliança feminista, enviaram uma carta ao presidente norte americano Woodrow Wilson, pedindo apoio para uma emenda constitucional determinando que “nenhum direito civil ou político deve ser negado a qualquer pessoa por causa do sexo”, de acordo com para o jornal “The Sun”.

Alguns feitos de Leta foram: a primeira a escrever um livro sobre crianças superdotadas, bem como dar um curso sobre crianças superdotadas. Foi a primeira a estudar crianças com quocientes de inteligência (QI) acima de 180. Publicou mais de 30 estudos sobre pesquisas e desenvolvimento talentosos e pioneiros em ambientes naturais. Desenvolveu terapia de centro infantil e treinou Carl Rogers . 

Hollingworth afirma em seu artigo,  “Sem dúvida, um dos problemas mais difíceis e fundamentais que hoje enfrentam as mulheres pensantes é como garantir para si mesmas a chance de variar de seu modo de vida. sexo e, ao mesmo tempo, procriar, em uma ordem social que foi construída sobre a suposição de que há pouca ou nenhuma variação de gostos, interesses e habilidades dentro do sexo feminino. É um problema que nunca me confrontou . ” [15] Embora seja algo escrito em 1914 podemos olhar frente a isso como um paradigma atual, mulheres ganham cada vez o seu espaço, mas ainda não são valorizadas pela variação de seus gostos, ainda existindo espaços em que ‘’não são para mulheres’’.

Leta morreu em 27 de novembro de  1939, aos 53 anos, deixando um legado de contribuição  para a eugenia na educação americana que foram fundamentais para a fundação e disseminação de programas para superdotados e talentoso, além de contribuir de uma pequena forma para mudar as visões em relação às mulheres levando as mulheres a terem o direito de votar em uma nação que por muito tempo as negou esse direito. Hoje, assim como muitas mulheres da ciência, sua história nos inspira e nos motiva mulheres a buscar seu lugar de igualdade.

 

 

REFERÊNCIAS

JENNINGS,Katie. Leta Hollingworth: a cientista do século 19 que refutou as teorias de superioridade masculina.Forbes, 2020 . Disponível em: <https://www.google.com/amp/s/forbes.com.br/colunas/2020/08/conheca-a-cientista-do-seculo-19-que-refutou-as-teorias-de-superioridade-masculina/%3famp>. Acesso em: 15 de abr de 2022.

Leta Stetter Hollingworth. Stringfixer. Disponível em <https://stringfixer.com/pt/Leta_Stetter_Hollingworth> acesso em 15 de abr de 2022.