As contribuições de Piaget para a Psicologia Escolar

As teorias de Piaget influenciaram e ainda influenciam na educação infantil, assim como a psicologia escolar.

Jean Piaget, um dos mais influentes psicólogos do século XX, desenvolveu uma teoria do desenvolvimento cognitivo que teve um impacto profundo nas áreas de psicologia, educação e pedagogia. Sua abordagem construtivista enfatiza a importância da interação entre o indivíduo e o ambiente no processo de desenvolvimento cognitivo. Conforme afirmado por Piaget (1970), “a inteligência não é o que o homem sabe, mas o que ele faz quando não sabe.”

Jean Piaget, um pioneiro na psicologia do desenvolvimento, iniciou sua carreira como biólogo, e essa formação influenciou profundamente sua abordagem à compreensão do desenvolvimento cognitivo. Sua teoria, que se concentra nas mudanças qualitativas e quantitativas nas estruturas mentais das crianças, teve implicações duradouras para a psicologia escolar e a pedagogia.

A abordagem de Piaget baseia-se na premissa de que o conhecimento é construído ativamente pelos indivíduos em vez de ser transmitido passivamente. Ele identificou quatro estágios de desenvolvimento cognitivo – sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal – cada um caracterizado por formas específicas de pensamento e raciocínio. Esses estágios têm implicações profundas para a educação, uma vez que os educadores precisam adaptar suas práticas ao estágio de desenvolvimento cognitivo dos alunos.

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Uma das contribuições mais importantes de Piaget para a psicologia escolar e a educação é a mudança no papel do educador. A teoria piagetiana desafiou a visão tradicional do professor como mero transmissor de informações. Em vez disso, o educador se torna um facilitador do processo de construção do conhecimento pelo aluno.

Essa mudança de paradigma encoraja os educadores a criar ambientes de aprendizagem desafiadores que incentivem os alunos a explorar, questionar e construir seu próprio conhecimento. Isso significa que o ensino deve ser adaptado ao nível de desenvolvimento cognitivo dos alunos, garantindo que as atividades sejam apropriadas para o estágio em que se encontram.

Piaget (1970) também destacou a interconexão entre desenvolvimento cognitivo e aprendizagem. Sua teoria enfatiza que o processo de aprendizagem ocorre à medida que os indivíduos se desenvolvem. Isso implica que os educadores devem respeitar o momento em que os alunos estão preparados para absorver um determinado conteúdo.

A equilibração, um conceito central na teoria de Piaget, envolve a busca de equilíbrio entre o conhecimento prévio e a nova informação. Isso ressalta a importância de permitir que os alunos se engajem ativamente no processo de aprendizado, experimentando desequilíbrios e, em seguida, trabalhando para restaurar o equilíbrio por meio da assimilação e acomodação. Os educadores desempenham um papel fundamental nesse processo, fornecendo experiências desafiadoras e apoiando os alunos na resolução de conflitos cognitivos.

Ele revolucionou a maneira de pensar com relação às crianças. Até então, a teoria pedagógica tradicional afirmava que as crianças eram “caixas vazias” esperando que os adultos depositassem conhecimento. Na Teoria de Jean Piaget acredita-se que as crianças passam a construir seu mundo de acordo com o que lhes é oferecido, criando e testando suas teorias. Nesse percurso é possível, então, afirmar que Jean Piaget ofereceu uma teoria interacionista em contraposição à teoria comportamentalista que existia na época (Gomes; Ghedin, 2012).

Piaget (1970) propôs que as crianças são ativas construtoras de conhecimento, e essa noção alterou fundamentalmente a maneira como os educadores abordam o ensino. Conforme observado por Piaget (1970), a aprendizagem constitui um processo dinâmico e participativo, no qual se desenvolvem novos conhecimentos a partir das experiências anteriores. Essa perspectiva desafiou o tradicional modelo de educação centrado no professor, favorecendo uma abordagem centrada no aluno, na qual o educador atua como facilitador do processo de construção do conhecimento pelo aluno.

Além disso, Piaget (2013) ressalta a importância do interesse do aprendiz, que está diretamente ligado ao seu esforço, então facilitando o processo de acomodação e assimilação. Dessa forma, um ponto importante a ser discutido é a didática utilizada em sala de aula, bem como o relacionamento de alunos e professores. Não existem métodos de ensino gerais corretos, como uma receita a ser seguida, mas sim técnicas que se adequam melhor à situação de aprendizagem proposta. Dado que a aprendizagem é um processo individual, o professor deve levar em consideração a formação de cada turma ao escolher os procedimentos metodológicos mais apropriados para os alunos em questão.

De acordo com Lefrançois (2008), a teoria de Piaget teve um impacto significativo no currículo escolar, uma vez que destacou que a aprendizagem vai além da simples transferência de informações de fora para dentro da criança. No entanto, é importante ressaltar que essa também é uma teoria da aprendizagem, uma vez que o processo de aprendizagem só ocorre quando há desenvolvimento.

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No contexto da psicologia escolar, o psicólogo desempenha um papel essencial na promoção das ideias de Piaget. Ele aplica conhecimentos psicológicos na escola, diagnosticando e orientando psicologicamente os alunos. Além disso, promove a integração entre família, comunidade e escola, contribuindo para o desenvolvimento integral dos estudantes.

Os psicólogos escolares desempenham um papel crucial na implementação desses princípios na prática. Conforme a Resolução nº 013/2007, eles aplicam conhecimentos psicológicos na escola, diagnosticam e orientam psicologicamente, promovem a integração entre família, comunidade e escola, e desenvolvem programas visando o desenvolvimento humano e a qualidade de vida. Eles também são responsáveis por validar instrumentos psicológicos e pesquisar a realidade escolar.

No entanto, é fundamental que os psicólogos escolares atuem considerando a dimensão institucional, ultrapassando a queixa individual para compreender o contexto educacional como um todo. O trabalho em parceria com agentes educacionais e a comunidade escolar é essencial para qualificar o processo educacional.

Os psicólogos escolares devem respeitar o sigilo profissional e agir de acordo com o Código de Ética Profissional da Psicologia, garantindo a confidencialidade e a proteção da intimidade dos indivíduos. Além disso, devem evitar a negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, colaborando com outros profissionais quando necessário.

Portanto, as contribuições de Jean Piaget para a psicologia escolar atual e a educação são profundas e duradouras. Sua teoria do desenvolvimento cognitivo redefiniu a relação entre educadores e alunos, promovendo uma abordagem centrada no aluno e encorajando a construção ativa do conhecimento. Os psicólogos escolares desempenham um papel fundamental na aplicação desses princípios na prática, contribuindo para a criação de ambientes de aprendizagem mais eficazes e respeitando o desenvolvimento cognitivo individual de cada aluno.

Essa abordagem não apenas transformou a educação, mas também empoderou os alunos a se tornarem agentes ativos na busca pelo conhecimento. Em vez de serem receptores passivos, as crianças e jovens se tornam construtores ativos de seu próprio entendimento, capacitando-os a enfrentar desafios complexos e a se tornarem cidadãos críticos e engajados na sociedade. Jean Piaget, com sua abordagem revolucionária, deixou um legado duradouro na educação e na psicologia escolar, influenciando positivamente a maneira como ensinamos e aprendemos.

Referências

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução CFP N.º 013. 2007

GOMES, Ruth Cristina Soares GHEDIN, Evandro. Teorias Psicopedagógicos do Ensino Aprendizagem. O desenvolvimento cognitivo na visão de Jean Piaget. Boa Vista: UERR Editora, 2012, p. 215- 232. Disponível em: <http://evandroghedin.com.br/files/Texto_Teorias_Psicopedagogicas_Evandro_Ghedin.pdf> Acessado em 20 de set. de 2023.

LEFRANÇOIS, G. R. Teorias da Aprendizagem. São Paulo: Cengage, 2008.

PIAGET, J. Epistemologia Genética. Tradução de Os Pensadores. Abril Cultural, 1970.