Jung, o psiquiatra do século XX

O psiquiatra Carl Gustav Jung nascido em 1875, falou em sua vida sobre a Psicologia Analítica ou como ficou mais conhecida psicanálise Junguiana, devido a ser um dos discípulos de Sigmund Freud, pai da psicanálise. Sua teoria aborda temas como o inconsciente pessoal e inconsciente coletivo e arquétipos, e assim como Freud, Jung também aborda e sua teoria sobre o conceito de Self.

Durante uma entrevista concedida a BBC de Londres na década de 50, devido a uma homenagem recebida pela Associação Internacional de Psiquiatria que o considerou “o psiquiatra do século 20”, ​ Jung fala sobre como aos seus onze anos de idade, passou a refletir sobre a ideia de consciência. Segundo ele, em um passeio, reflete e percebe ser diferente dos seus pais e também de outras coisas, levando o a refletir sobre a existência da consciência.

Passados alguns anos de sua vida, Jung opta por estudar medicina, e ao final de seus estudos decide por se tornar um psiquiatra. Realiza alguns estudos com esquizofrênicos, e acaba por conhecer o trabalho de Freud, interessado envia-lhes alguns livros de autoria própria, que acabaram por possibilitar que Jung se encontre pessoalmente com Sigmund Freud.

Jung fala durante a entrevista que se tornou grande amigo de Freud, mas sinaliza as diferenças que os fizeram romper com sua amizade. Segundo ele, Freud sempre levava com certa certeza suas ideias, enquanto que Jung optava pela dúvida do que lhe era apresentado. Relatou também sobre ter grande interesse pela filosofia e história humana, e apontou que Freud não demonstrava desejo ou impulso de avaliar tais considerações de Jung, sobre a influência da história na psique humana.

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Devido à divergência de influências, modos de pensar, e práticas, Jung passa a refletir sobre ideias diferentes da psicanálise apresentada por Freud. Jung publica então o livro “A psicologia do inconsciente”, ​o que faz com que aconteça uma ruptura na aliança entre Freud e ele. O livro de Jung expunha suas ideias sobre inconsciente pessoal e coletivo.

Durante a entrevista Jung fala sobre sua ideia de inconsciente coletivo, e sobre como em sua experiência profissional atendendo esquizofrênicos percebeu a existência desse inconsciente. O psiquiatra relatou sobre a vez em que atendendo um paciente esquizofrênico, o mesmo o falou sobre a origem do vento e sobre forma de como ver o sol sobre diferentes visões, naquele momento Jung apenas trata o relato como um sintoma da doença de seu paciente.

Alguns anos depois, Jung acaba por ter contato com os estudos de um alemão sobre um determinado Papiro, que falava sobre como uma civilização antiga registrou uma forma de ver a origem do vento e percepções diferentes do sol conforme se inclinava a cabeça. A partir desse acontecido, Jung então passa a escrever e estudar sobre o que nomeou de inconsciente coletivo.

Segundo a Psicologia Analítica, o inconsciente coletivo não tem origem ou é derivado da história de vida pessoal de um indivíduo, mas segundo Jung é transferido entre as gerações (hereditário) e nele estão contidos os arquétipos (JUNG, 1875-1961). Jung comentou ainda sobre a importância de ser quem somos, não levando em conta apenas a história que vivemos, mas também a história da humanidade, e reforçou ainda a influência da mesma sobre os nossos sonhos.

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Para Jung os arquétipos são os conteúdos presentes do inconsciente coletivo, e representam conteúdos inconscientes que ao atingir a consciência e serem percebidos se moldam a consciência individual em que estão presentes. Podem ser consideradas ainda representações coletivas que apresentam conteúdos psíquicos que não foram elaborados conscientemente (JUNG, 1875-1961).

Quando questionado na entrevista sobre a possibilidade de ocorrer uma nova guerra mundial, o psiquiatra fala sobre como a história da humanidade pode influenciar nas crenças dos indivíduos, e comenta sobre como o acontecimento de uma guerra pode estar marcada no inconsciente e vir à tona a consciência pelo medo presente. Jung comenta ainda que a possibilidade de uma nova guerra ocorrer irá depender do perigo real, que é derivado do homem, denominado pelo psiquiatra como a origem do mal.

John A. Sanford analista junguiano relatou em entrevista ao jornal The Sun sobre a possibilidade da existência do mal arquétipo, chamando o de mal genuíno, algo que iria além dos interesses e defesas do ego. Sanford discorreu sobre acontecimentos no decorrer da história, como o holocausto nazista, que não ocorreram devido a defesas do ego contra algo do inconsciente reprimido, mas sim em decorrência de uma possível força maligna arquetípica (SANFORD, 2012).

Quando questionado sobre sua crença em Deus, Jung fala sobre sua infância e comenta que embora possa questionar a existência de um Deus comenta que se não acreditasse em um Deus divino, essa imagem poderia ser facilmente substituída. É possível relacionar essa fala do psiquiatra a existência do arquétipo do herói presente no inconsciente coletivo.

O arquétipo do herói que é citado por Cambell (2007) como a Jornada do Herói, fala sobre um personagem com poderes excepcionais, que é tido como uma pessoa frequentemente honrada por todos a sua volta. Podendo ser considerado como uma espécie de figura religiosa ou mitológica, que impulsiona a vida humana e concede sentido as mudanças que devem ser enfrentadas durante a vida, assim como os obstáculos (GOMES; ANDRADE, 2009).

Por fim, Jung fala sobre a importância de dar um significado para a vida, pois a vida sem propósito e sentido se tornaria estagnada. E fala sobre a o seu trabalho com idosos e como mesmo perto da morte continuam dando sentido ao viver. Reflete ainda sobre a psique não respeitar limites do espaço e do tempo, o que pode ser interpretado como uma ligação ao inconsciente coletivo, os arquétipos, e a influência de nossas vivências no decorrer das gerações.

REFERÊNCIAS

Connie Zweig E Jeremiah Abrams Orgs. Ao Encontro da Sombra – O potencial oculto do lado escuro da natureza humana. Ed. Cultrix. São Paulo, 2012. Disponível em: <file:///C:/Users/Brenda/Downloads/Encontro-Da-Sombra%20-%20ANAL%C3%8DTI CA.pdf> Acesso em 07/09/2021.

Gomes, Vinícius​ Romagnolli Rodrigues. Andrade, Solange Ramos. Mitos, símbolos e o arquétipo do herói. Iniciação Científica CESUMAR. Jul./Dez. 2009, v. 11, n. 2, p.139-147. Disponível​ em: <https://periodicos.unicesumar.edu.br/index.php/iccesumar/article/view/1271/883> Acesso em 07/09/2021.

Jung, Carl Gustav. 1875-1961. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Tradução Maria Luiza Appy, Dora Mariana R. Ferreira da Silva. Ed. Vozes. Petrópolis-RJ. 2016. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=PfZeDwAAQBAJ&oi=fnd&pg=PT2&dq=inconsciente+coletivo+jung&ots=2K0NpvtIu&sig=mJCA-cK3gA_Cnw0GZSN4OFEYff0#v=onepage&q=inconsciente%20coletivo%20jung&f=false>​ Acesso em 07/09/2021.