Max Wertheimer nasceu em Praga, no dia 15 de abril de 1880.Iniciou direito em Praga, aos 20 anos. Sem finalizar o curso de direito, transferiu-se para o estudo da filosofia e da psicologia, passando pelas universidades de Berlin e de Würsburg, onde doutorou-se em 1904 com o estudo sobre a associação de palavras na detecção de padrões no raciocínio. (Goodwin, 2010).
Centro de História da PsicologiaAdolf Würth da Universidade de Wüsburg
Disponível em: http://www.awz.uni-wuerzburg.de/en/archive/film_photo_and_tone_archives/video_documents/max_wertheimer_and_schumanns_tachistoscope/
Em 1910, viajando de Viena para Renânia, Wertheimer observou que percebia o acender e o apagar alternados de duas lâmpadas (duas luzes) como um movimento de uma luz apenas que atravessava o espaço de uma lâmpada à outra. Em sua parada em Frankfurt, experimentou a mesma percepção com um estroboscópio e cartolinas.
Estroboscópio: instrumento utilizado para alternar a entrada de luz em estímulos parados que, na interação com as modificações da luz, parecem promover um movimento – os primórdios do cinema. Disponível em: http://www.nxtorm.es/Proyectos/pr-h-efectos-opticos-NXT.html
Ao acender uma luz num ponto A e, depois, num ponto B, criando variações nos intervalos de tempo entre uma piscada e outra, Mazdescobriu que se a alternância entre o piscar das luzes fosse de 200 milissegundos, a percepção era de duas luzes alternadas sucessivamente; se o tempo fosse de 30 milissegundos (ou seja, mais rápido), a percepção era de duas luzes acendidas simultaneamente; e se o tempo fosse de 60 milissegundos, a percepção era de uma luz apenas, que se movimentava do ponto A ao ponto B. Ou seja, o percepto, que é o produto da percepção, não corresponde ao que se prevê na relação entre estímulo e sensação: há a percepção de um movimento em estímulos parados como ocorre no filme cinematográfico, o movimento se dá pelo passar consecutivo de fotos. Tal movimento foi chamado de movimento fi.
A percepção de movimento a partir de dois focos de luz que acendem rapidamente já havia sido descrita pelo físico Plateau na primeira metade do século XIX e reproduzida por Exner, professor de Wertheimer, em 1875. Em 1895, os irmãos Auguste e Louis Lumière apresentavam publicamente, pela primeira vez, o cinematógrafo, uma máquina que fazia e reproduzia filmes. E em 1890, o psicólogo Christian vonEhrenfels publicou seu artigo sobre as qualidades gestálticasno qual também questiona a relação direta entre sensação e percepção, usando como exemplo a melodia: observou que a melodia de uma música continua a mesma, mesmo que se alterem todas as suas notas nas múltiplas tonalidades permitidas pela experiência musical. Ou seja, um todo, como no caso da melodia, não se caracteriza somente pela soma de seus elementos, as notas, mas também pela relação que tais elementos estabelecem entre si e com o todo, o que caracteriza as “qualidades estruturais”. As “qualidades estruturais”, para Ehrenfels são formadas por sensações, ou seja, mesmo que Ehrenfels relativiza a importância das sensações na formação das percepções, ele ainda encara aquelas como os átomos destas. (Moraes, 2010).
Max Wertheirmer, em parceria com Wolfgang Köhler, transferiu o seu experimento de garagem para o laboratório do Instituto de Psicologia da Academia Comercial. Köhler juntamente com Koffka e sua esposa foram sujeitos dos experimentos de Wertheimer. Contratado pelo chefe do laboratório, Friedrich Schumann, a parceria entre Wertheirmer, Köhler e Koffka daria origem à “escola de Berlim” ou o “gestaltismo”. A Psicologia da Gestalt (ou Psicologia da Forma) traz, como fundamento, a seguinte questão: a sensação é o átomo da percepção? E a idéia seria o átomo do pensamento como afirmava quase toda a Psicologia do início do século XX, pautada na concepção associacionista inglesa? De maneira bem resumida e sintética, inicial e vacilante, diria que essas três reconhecidas figuras questionaram o (pseudo?) paradigma fisiológico que sustentava a Psicologia em seu nascimento moderno uma vez que questionavam a posição fundante da sensação na composição das funções mentais superiores.
A psicologia da Gestalt é diferente daqueles que falam em soma de elementos. Pelo contrário, a Gestalt, de início, vai ser dividida em partes. A Gestalt é anterior à existência das partes.A determinação é de cima ou descendente e não de baixo ou ascendente. (Engelmann, 2002, p.2)
Em 1912, Wertheimer publica o artigo “Estudos experimentais sobre percepção de movimento” considerado como fundante do movimento gestáltico. O artigo tratava dos resultados da percepção aparente de movimento na relação entre luzes que são apresentadas em relação com tempos diferentes. De acordo com Wertheimer citado por Goodwin (2010) “os processos das partes são determinados pela natureza intrínseca do todo” (p. 305). Desse modo, o movimento fi não poderia ser considerado nem uma falha no julgamento tão pouco traços de personalidade, mas antes um processo total, contínuo, chamado de Gestalt. A Gestalt, portanto, refere-se ao relacionamento entre os objetos individuais percebidos, composta pelos perceptos de tais objetos (as Gestalten), mas não a eles resumida. (Engelmann, 2002).
Max Wertheimer
http://psychology.about.com/od/profilesmz/p/max-wertheimer.htm
Wolfgang Köhler
http://diglib.amphilsoc.org/fedora/repository/graphics:3508
Kurt Koffka
http://www.intropsych.com/ch04_senses/whole_is_other_than_the_sum_of_the_parts.html
Desse modo, Wertheimer e os outrosgestaltistasestudavam a interação entre estímulos e perceptos para a compreensão do todos chamada Gestalt que é a experiência como ela é por nós vivida. Pode-se observar, nessas conceituações, a estreita ligação entre os gestaltistas e a fenomenologia de Brentano e Edmund Husserl. Todos eles reafirmavam uma maneira diferente de conceber os estudos sobre o homem e suas culturas o que, certamente, influenciou em seus métodos realizados no âmbito da ciência.
Usando novamente nossa linguagem atual, ocorre, em tais circunstâncias, uma interação que faz, por exemplo, com que um segundo objeto apareça demasiado próximo ou em coincidência com um primeiro, que está desaparecendo, de sorte que, somente quando se apaga realmente o primeiro objeto e, portanto, a interação, pode o outro mover-se para a sua posição normal. Se isso é interação, ela não ocorre, como tal, no cenário de percepção. Nesse cenário, nós apenas observamos um movimento. (Köhler traduzido por Slomp, s/d, p2 –ftp://www.cefetes.br/Especificos/design/A_PSICOLOGIA_DA_GESTALT_NOS_DIAS_atuais.pdf)
Desse modo, chegava-se à conclusão de que a análise dos elementos sensoriais não leva ao entendimento da percepção, da maneira como percebemos o mundo à nossa volta. Essa concepção coloca questões metodológicas e éticas no próprio pesquisar em psicologia. Como pode-se ler na citação abaixo, a ablação (o corte de nervos para se estudar as funções que lhes são correspondentes – método comum nos psicólogos fisiólogos) não era o método dos gestaltistas. Pelo contrário, usavam de métodos de privação, da imitação e da instrumentalização, para colocar macacos em frente a problemas que os separavam de suas fontes de alimento, como mostra o trecho de Köller citado por Slomp:
Como os comportamentos obtidos eram sempre admiravelmente corretos, resolvi aumentar o tempo entre a percepção do alimento e a oportunidade de obtê-lo. Assim, um dia, enterrei alimento num lugar qualquer do grande terreno que os antropóides usavam para recreação. Os animais assistiram a operação, mas não tiveram oportunidade de obter a comida desejada, porque eu os levei imediatamente para o dormitório. Só os trouxe de volta no dia seguinte, cerca de dezessete horas depois, mais de metade das quais eles passaram dormindo. Pois bem. Assim mesmo, um dos chimpanzés não hesitou um momento: assim que voltou ao pátio de recreio, encaminhou-se diretamente para o local em que as frutas foram enterradas, e descobriu-as após algumas tentativas. Poder-se-ia dizer que o local onde estava enterrado o alimento não atraiu o antropóide pelo fato de este saber que havia comida ali, mas por causa do aspecto incomum que o terreno apresentava, dada as escavações feitas por mim. Aos meus olhos nada havia de incomum ali, porque tomei a precaução de cobrir toda a área com areia seca. Todavia, para rebater melhor essa crítica, devo acrescentar que, depois de os animais terem sido recolhidos, cavei vários buracos e enchi todos da mesma forma. No entanto, como disse, o animal dirigiu-se ao local certo. (Köhler traduzido por Slomp, s/d, p.1 –http://chasqueweb.ufrgs.br/~slomp/edu01011/gestalt-kohler-antropoides.pdf)
Wertheimer continuou seus estudos sobre a percepção. Ficou em Frankfurt até 1916, quando mudou-se para Berlin, atuando no Instituto de Psicologia de Berlim até 1929, quando voltou a Frankfurt para a chefia do departamento de Schumann. Em 1933 foi demitido pelo regime nazista; juntamente com sua esposa e três filhos, mudou-se para os Estados Unidos onde estudou a percepção na faculdade de resolução de problemas cujas conclusões encontram-se no livro “Pensamento Produtivo”, publicado em 1945, dois anos após sua morte por ataque cardíaco.
Referências:
BROZEK, Josef e MASSIMI, Marina. Historiografia da Psicologia Moderna – A versão brasileira. São Paulo: Edições Loyola, 1998.
KÖHLER, Wolfgang. A Inteligência dos Antropóides, trechos traduzidos pelo Professor Paulo Francisco Slomp – Universidade Federal do Rio Grande Do Sulfaculdade de Educação Departamento de Estudos Básicos (Debas)Edu01011 Psicologia da Educação I – slomp@ufrgs.br -http://www.ufrgs.br/faced/slomp
___. A Psicologia da Gestalt nos dias atuais, trechos traduzidos pelo Professor Paulo Francisco Slomp- Universidade Federal do Rio Grande Do Sulfaculdade de Educação Departamento de Estudos Básicos (Debas)Edu01011 Psicologia da Educação I – slomp@ufrgs.br -http://www.ufrgs.br/faced/slomp
GOODWIN, C. James. História da Psicologia Moderna; tradução Marta Ross; – 4° ed. – São Paulo: Cultrix, 2010.
ENGELMANN, Arno. A Psicologia da Gestalt e a Ciência Empírica Contemporânea. In: Psicologia:Teoria e Pesquisa, Jan-Abr 2002, Vol. 18 n. 1, pp. 001-016, Universidade de São Paulo.