A falta que ser humano nos faz

Já se imaginou vivendo em um mundo completamente digital? Pois bem, nós vivemos neste lugar! Nós, filhos da Geração Y, somos seres nativos virtuais convivendo em uma sociedade nativa virtual onde todos buscam incessantemente algum grau de visibilidade e relevância virtual expondo informações fúteis, não-verdadeiras ou que outrora foram altamente íntimas por meio das redes sociais.

A constante evolução do ser humano e o incessante desejo de ter mais, de ser mais e de mostrar mais nos fez ser cada vez menos humanos. Cada vez mais estamos mais preocupados com os problemas pessoais dos nossos ídolos, cada vez mais externalizando os nossos – muitas vezes de maneira exagerada, fantasiosa ou até imitadora – na esperança de ter uma parcela da atenção virtual das outras pessoas.

Fonte: https://goo.gl/2oWRLZ

Estamos mais próximos do parlamento norte-americano ou dos problemas econômicos europeus. Em contrapartida estamos mais – muito mais – distantes de quaisquer coisas ou pessoas que possam oferecer resquícios de vida real. Cada vez mais, há menos diferença entre os dedos e os anéis e mais entre o rosto e o retrato. Em busca do mundo perfeito e deslumbrados pelas supostamente infinitas melhorias de vida que a tecnologia nos entregaria encontramo-nos como seres mecânicos, padronizados, avulsos à realidade e ainda mais miseráveis do que já fomos.

Fonte: https://goo.gl/KncRke

Embora seja perceptível como cada vez mais somos menos, pouco é mudado para que isso não mais aconteça. Estudos e rodas de conversa são bastante comuns para tentar abrir os nossos olhos, para vermos que estamos usufruindo erroneamente das tecnologias e nos distanciando – talvez de maneira consciente – do que a sociedade precisa que sejamos.

“As redes sociais mascaram a ausência de comunicação entre as pessoas”, é o que diz o sociólogo francês Dominique Wolton em uma entrevista ao jornal Folha de São Paulo. O isolamento social é um outro problema que esses ambientes trazem para os que não sabem usá-los moderadamente. Embora essas ferramentas sejam conhecidas como redes sociais, o que praticamos dentro de tais redes é a distanciação daqueles que estão perto, e a aproximação – aparente – dos que estão longe.

Tirinha: Sigmund e Freud, por Yorhán Araújo.

A imagem acima é uma crítica a uma mania comum, principalmente nos aplicativos de troca de mensagem. Ignorar, demonstrar menos interesse, é algo que os jovens vem fazendo na intenção de que a pessoa que fica no “vácuo” (termo utilizado na internet para o tempo de espera ao ser ignorado, ficar aguardando resposta que às vezes nem chega) corra atrás, demonstrando assim, mais interesse, perdendo a competição que não é discutida entre os participantes da conversa: o campeonato do gostar.

Tendo em vista a utopia promovida como resultado  da “super-integração” e os resultados do mundo real, devemos concordar que o futuro nos iludiu, mas não importa: a gente ainda insiste em ter alguma esperança num futuro que ainda está por vir… amanhã correremos mais depressa, estenderemos mais os braços… continuaremos acreditando na luz verde, no orgiástico futuro que, ano após ano, dia após dia, se afasta de nós.

 

Referências

ARAÚJO, Yorhán. Devaneios de Sigmund e Freud.Tirinhas.

 

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. [internet]. Solidão no facebook. Entrevista ao sociólogo francês Dominique Wolton, pelo jornal Folha de São Paulo. 2010. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq0911201004.htm>. Acesso em 18 de junho de 2018.