O filme A partida mostra a história de um jovem violoncelista que se vê obrigado a voltar para sua cidade natal com sua esposa (onde sua mãe lhe havia deixado uma casa) porque a orquestra em que trabalhava foi dissolvida. Sem emprego, vai à procura de uma empresa que vira num anúncio de jornal, em que ofertava uma vaga para um emprego que ele não identificou a função. Logo, descobriu que ele seria um nokanshi, responsável por embelezar cadáveres no ritual okuribito.
No início, o emprego lhe causava estranhamento, afinal, implicava tocar em mortos. Mas, com o passar do tempo, o jovem, observando seu mestre que havia lhe contratado, conseguiu ver beleza em tudo aquilo: se tratava de vivificar um corpo já morto para que a última lembrança de seus familiares seja dele vivo e belo e não esquálido, com aspecto cadavérico. E assim, ele também passa a fazer os rituais, com grande delicadeza e sensibilidade.
O problema é que esse emprego não é bem visto por seus conhecidos e quando sua esposa descobre, sai de casa, ameaçando voltar só quando ele mudar o rumo de sua vida. No entanto, ele resiste ao preconceito da sociedade e da esposa frente ao seu emprego e continua a exercê-lo. Em suma, no final do filme, o jovem faz o ritual com duas pessoas importantes em sua vida. Uma delas era seu pai, que o havia abandonado quando criança, deixando raiva e vazio na vida do jovem. Porém, o jovem o perdoa e o reconhece como pai nesse momento, sensibilizando sua esposa e seus amigos, fazendo-os reconhecer a importância daquele trabalho.
Para Suzana Albornoz, em seu livro O que é trabalho, “o trabalho humano é uma atividade determinada e transformadora, mas, muitas vezes, penosa e, contudo, necessária”. Inicialmente, o jovem adentrou nesse trabalho para satisfazer as necessidades básicas, dado que estava desempregado. Esse emprego lhe era estranho e lhe causava até mesmo repulsa. Entretanto, percebe-se que ele fez uma ressignificação do seu trabalho e, em contrapartida, esse trabalho fez uma ressignificação em sua vida. Talvez porque, como a autora cita, “trabalho, além de esforço é também o seu resultado”, o jovem converteu todo o preconceito que sofria, não permitindo que abalasse as suas convicções e enxergando o que de mais belo havia na sua função.
Por fim, esse filme muito tem a mostrar sobre valores e princípios que preservamos e, no quesito trabalho, traz uma reflexão sobre gostar do que se faz, fazer por mera necessidade, encontrar sentido no que se faz ou fazer apenas para se encaixar em padrões sociais. O corolário evidente é que o trabalho exerce grande influência na vida dos indivíduos e, para tanto, cabe-lhes a tarefa de denotar um sentido a isso.
REFERÊNCIAS:
ALBORNOZ, Suzana. O que é trabalho. São Paulo: Brasiliense, 1994.
Filme A Partida, (Departures) de Yojiro Takita (2008).
FICHA TÉCNICA DO FILME:
A PARTIDA
Direção: Yôjirô Takita
Elenco: Kazuko Yoshiyuki, Kimiko Yo, Masahiro Motoki, Ryoko Hirosue
Ano: 2008
País: Japão
Classificação: 12