“Os homens agem sobre o mundo, modificam-no e, por sua vez, são modificados pelas consequências de sua ação” (SKINNER, 1978, p.15)
A Psicologia passou a adquirir o status de ciência a partir dos estudos sobre a consciência, com Wilhelm Wundt e William James, no início do século XIX. Para ambos, a Psicologia deveria ser afastada de doutrinas e temas metafísicos, para que de fato pudesse ser considerada ciência (ABI, 2009). Um século depois, nasce aquele que compactuando dessas premissas propõe a Psicologia da Análise do Comportamento.
Skinner nasceu nos EUA, no estado da Pensilvânia, no dia 20 de março de 1904. Quando criança costumava criar invenções das mais variadas, como: limpador de sapatos, lançador de cenouras, instrumentos musicais confeccionados de pentes e cordas velhas de violino. Fazia parte de uma família protestante, na qual o clima de afeto sempre estava presente (CAUPER et al, 2016).
Após concluir o Ensino Médio, Skinner iniciou a graduação, formando-se em letras românticas e literatura, no ano de 1926. Cogitou a carreira de escritor, porém não seguiu adiante. Sua caminhada no universo da Psicologia inicia-se com a pós-graduação em psicologia experimental na Universidade de Harvard, em 1928, onde após 3 anos angariou os títulos de máster e PHD (CAUPER et al, 2016).
Durante sua estadia em Harvard, Skinner desenvolveu a chamada Caixa de Operante Livre (comumente chamada de Caixa de Skinner). Tal mecanismo caracterizava-se por um aparelho em forma de caixa, contendo uma alavanca, um distribuidor de comida, luzes, auto-falante e uma grade eletrificada (sua função será descrita mais adiante, em complementaridade a teoria desenvolvida pelo personagem em questão) (CAUPER et al, 2016).
Skinner casou-se com Ivone Blue, tornando-se pai de duas meninas, Deborah e Julie.
Skinner e a Análise do Comportamento
A Análise do Comportamento caracteriza-se como a ciência que tem como objeto de estudo o comportamento do organismo que se encontra inserido em um meio. Skinner (2003) diz que a interação organismo-ambiente dá-se em três níveis: filogênico, ontogênico e cultural.
A filogenia está relacionada à constituição genética da espécie, responsável pela evolução natural, sobrevivência e reprodução. A ontogenia refere-se à seleção de comportamentos indicados para determinado ambiente, caracterizando um condicionamento operante (onde o comportamento corresponde à interação: contexto (estímulo antecedente), ação (resposta) e consequência da ação (estímulo consequente). E a cultura diz respeito às características históricas, sociais, econômicas e todos os processos envolvidos na vida em sociedade (SKINNER, 2003).
Skinner (2003) postulou que os comportamentos dos organismos podem ocorrer novamente ou não, devido às consequências que provocam para o mesmo. Quando o comportamento ocorre novamente diz-se que ele foi mantido por uma consequência reforçadora. O Reforço Positivo dá-se quando um estímulo/consequência é apresentado de forma apetitiva ao indivíduo, acarretando no aumento do comportamento praticado. O Reforço Negativo dá-se quando o estímulo/consequência apresentado se mostra aversivo, dessa vez fazendo com que o organismo aumente a frequência do comportamento, para evitar o surgimento desse estímulo ruim outra vez.
Quando o comportamento diminui de frequência diz-se que ele foi diminuído por uma consequência punitiva. A Punição Positiva é quando um comportamento (R) diminui de frequência, devido a obtenção de uma consequência (S) negativa. A Punição Negativa é quando se diminui a frequência de um comportamento, devido a retirada de um estímulo/consequência apetitivo, no intuito de não perder esse estímulo bom.
Os postulados básicos da teoria da análise do comportamento, explicitados anteriormente, foram obtidos através dos experimentos realizados com pombos e ratos. A Caixa de Operante Livre é o mais clássico exemplo de condicionamento operante, e funciona da seguinte forma: o rato em privação de alimento era colocado em uma caixa, que possuía um comedouro. Para que ele recebesse um grão de comida, ele precisaria pressionar uma alavanca, que se encontrava na parede da caixa. Cada vez que seu comportamento se aproximava da ação de pressionar a alavanca, ele recebia um grão de comida. No final do experimento, o rato conseguia pressionar a alavanca e era recompensado com o grão de comida todas as vezes que o fazia (SKINNER, 2003).
Com esse experimento,Skinner propôs o condicionamento operante, bem como as ideias de reforço e punição presentes em sua teoria.
Críticas à Análise do Comportamento
Por ser uma ciência que se preocupa em estudar o comportamento dos organismos por meio de observações, e não de introspecção, o Behaviorismo Radical), tem sido alvo de críticas do tipo “O behaviorismo ignora a consciência, os sentimentos e os estados mentais”, “A Psicologia de Skinner é a psicologia do organismo-vazio”, “o comportamentismo não se ocupa do organismo do sujeito, pois a crença básica é que certo estímulo provocará certa resposta, independente do sujeito” (MOROZ et al., 2005).
No entanto, tais críticas são infundadas, e demonstram a falta de conhecimento aprofundado nos estudos de Burrhus Frederic Skinner.
Explicita-se que:
O Behaviorismo Radical, todavia, adota uma linha diferente. Não nega a possiblidade da auto-observação ou do auto-conhecimento ou sua possível utilidade, mas questiona a natureza daquilo que é sentido ou observado e, portanto, conhecido. Restaura a introspecção, mas não aquilo que os filósofos e os psicólogos introspectivos acreditavam “esperar”, e suscita o problema de quanto do nosso corpo podemos realmente observar. (SKINNER, 1974/1982, p.18 apud MOROZ et al., 2005)
Então, Skinner dividiu os comportamentos em públicos e privados, sendo os comportamentos privados acessados apenas pelo organismo. Ele não desconsidera a existência de eventos privados/internos, porém diz que eles não são causa de comportamentos, mas sim consequência de interações com o meio e seus estímulos. Ainda acrescenta que tais comportamentos só poderão ser observados a partir do momento em que forem externalizados pelo organismo.
Portanto, dizer que a Análise do Comportamento é reducionista e superficial, e considera o organismo como uma máquina, não condiz com o que é explicitado pela teoria:
Desde o início, Skinner enfatiza estar lidando com organismo como um todo (…) é a totalidade do organismo ou pessoa que está sendo alterada na interação com o ambiente, e esta sua posição aparece em vários textos e na abordagem a diferentes temas, por exemplo: ao discutir o perceber (1974/1976, p. 93), ao discutir o pensar (1974/1976, p. 121), ao discutir o modelo de seleção por consequências (1981/1987, p. 59) (MICHELETTO;SÉRIO, 1993, p.14 apud MOROZ et al, 2005)
Contudo, percebe-se que a Análise do Comportamento possui um olhar científico amplo sobre o indivíduo. O ato de comportar-se perpassa todos os âmbitos da vida do sujeito. Então, quando você leitor chora, pensa, corre, dorme, estuda, come, ama, odeia, você está se comportando. E esse comportar-se não é obra do acaso, mas sim um modelo de seleção de comportamentos funcionais e úteis, para cada situação da sua existência como espécie humana.
REFERÊNCIAS:
ABIB, José Antônio Damásio. Epistemologia pluralizada e história da psicologia. Scientia studia, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 195-208, 2009.
CAUPER et al, Daisy. SKINNER: das engenhocas infantis à câmara de condicionamento operante- avanços na teoria behaviorista e contribuições para a educação. Anais da V Semana de Integração, Goiás, 2016.
MOREIRA, Márcio Borges; DE MEDEIROS, Carlos Augusto. Princípios básicos de análise do comportamento. Artmed Editora, p. 29-43, 2007.
MOROZ et al, Melania . Subjetividade: a interpretação do behaviorismo radical. Psicologia da Educação, São Paulo, 2005.
SKINNER, Buhrrus Frederic. Ciência e Comportamento Humano. Editora Martins, 11ª ed, 2003.