‘Arte de resistência’ é como Hollanda define sua forma de fazer música.
Chico Buarque de Hollanda é uma das vozes mais importantes da música popular brasileira, sendo um dos responsáveis por criar um arcabouço de canções que trouxeram um grito de liberdade contra o período da ditadura militar brasileira, na década de 60.
Falar de Francisco Buarque traz inspiração e desejo de militância, uma vez que sua vida e seu trabalho como cantor e compositor são usados por ele como um instrumento de luta e exposição da verdadeira voz brasileira.
O período da juventude de Chico foi marcado por grande censura aos meios de comunicação, bem como aos artistas, incluindo atores e músicos. Assim, várias peças teatrais e músicas foram proibidas de serem reproduzidas para os brasileiros, por serem consideradas afrontas ao governo ditatorial da época.
Chico é filho do historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda e da pianista Maria Amélia Cesário Alvim, sendo o 4º de sete irmãos. Nascido no ano de 1944, na cidade do Rio de Janeiro, contou com uma educação em sua maioria católica, o que de acordo com ele lhe proporcionou duas experiências: a de ver de perto as barreiras que o catolicismo colocava para a liberdade de expressão, e a oportunidade de conhecer realidades menos favorecidas no realizar de trabalhos comunitários. Para ele, essa segunda experiência foi parte importante no seu processo de reconhecimento da identidade do povo brasileiro daquela época, o que consequentemente teve forte influência no seu trabalho.
Por ter nascido em berço privilegiado, Chico tinha muito bem a possibilidade de não se importar com a luta de classes. Entretanto, ele se importava, e apesar de viver em uma área urbana rica, estava sempre atento ao crescimento da cidade do Rio de Janeiro que era injusto e desfavorável aos pobres, e era também para essas pessoas que ele cantava.
‘Arte de resistência’ é como Hollanda define sua forma de fazer música. E é possível ver esse modelo artístico em todas as suas letras. “Apesar de você”, música definida por ele próprio como uma canção de protesto, traz “Hoje você é quem manda/ Falou, tá falado/ Não tem discussão, não/ A minha gente hoje anda/ Falando de lado/ E olhando pro chão, viu/” , tal trecho era uma referência ao presidente na época, o general Olímpio Mourão Filho.
Para Chico, o processo de compor as músicas sempre foi muito prazeroso, sendo um feito indescritível por tamanho contentamento. A música “Cálice”, composta por ele e Milton Nascimento traz, “Pai, afasta de mim esse cálice/ Pai, afasta de mim esse cálice/ Pai, afasta de mim esse cálice/ De vinho tinto de sangue/”, o termo cálice é uma alusão à palavra “cale-se”, que representava a proibição que os brasileiros estavam sofrendo em não poderem exercer sua liberdade de expressão.
Suas críticas ao governo ditatorial da época eram sutis e inteligentes, o que colaborou para que muitas de suas composições conseguissem passar batidas pelos olhares da repressão do governo e chegassem ao público. No entanto, sua performance astuta foi sendo detectada pelos militares, que passaram a ter ouvidos mais apurados às afrontas construídas pelo artista, proibindo muitas das músicas assim que elas eram lançadas aos brasileiros.
É nítido que a grande musa inspiradora de Hollanda no seu ápice do sucesso foi o período negro do golpe de 64 no Brasil, e como o artista que é, ele fez dessa musa cruel resultar canções que trouxeram alegria e esperança ao povo brasileiro, que se encontrava abatido e preocupado com o que seria feito do país continental.
Chico sobreviveu ao período da ditadura, claro que não sem marcas, porque qualquer cidadão que tenha sobrevivido a esse período carrega as marcas sombrias da censura em seu coração. Recentemente Chico lançou o álbum “Caravanas” (2017), que tem um foco e inspiração bastante diferente, já que traz o “amor romântico” como centro, o que é comum entre os artistas da MPB atual.
REFERÊNCIAS:
HOMEM, Wagner. Chico Buarque. Disponível em: <http://www.chicobuarque.com.br/>. Acesso em: 05 jan. 2019.
Certas palavras com Chico Buarque (1980). Direção de Mauricio Berú. Rio de Janeiro: Conselho Nacional Para A Cultura e As Artes, 1980. P&B. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=YzZLX8Zprj8>. Acesso em: 05 dez. 2019.