Hegel: a incessante busca pelo conhecimento refinado

Hegel foi um importante filósofo da história e, também, grande historiador da filosofia. Foi o primeiro que elaborou sistematicamente o significado da história para a Filosofia (HARTMAN,1990). De acordo com Collinson (2006), Hegel é popularmente conhecido por ter sido um filósofo idealista. Ele acreditava que a mente ou o espirito constituía uma realidade última. Sua filosofia foi embasada em muitas influências importantes, como: Espinosa, Kant, o Novo Testamento, Fichte e Schelling.

Para Hartman (1990), antes de Hegel os outros filósofos envolveram-se na história como pessoas e como portadores de ideias. Nenhum outro sistema filosófico exerceu uma influência tão forte e tão duradoura na vida política como a metafísica de Hegel, não havendo um único grande sistema político que tenha resistido à sua influência (HARTMAN, 1990).

O filósofo Hegel concebia que todos os fenômenos, da consciência às instituições políticas, são aspectos de uma única coisa (pensamento monista) e, acreditando que a realidade era algo não-material, era um idealista. Para ele, a consciência, além de ser algo no qual estamos cientes, ela é um processo em evolução (BURNHAM e BUCKINGHAM, 2011).

A DIALÉTICA DE HEGEL

A dialética hegeliana tem um movimento chamado triático e é nessa ação que ela se desenvolve. A tese é o seu primeiro movimento, quando o ser é, momento de afirmação. E um instante em que essa identidade inicial é manifestada como algo vazio, de negativo, não idêntico. No seu segundo momento ocorre a negação ou antítese, momento em que o ser não é, exteriorização do ser na natureza, nas coisas físicas/orgânicas. A partir daí que se começa a apreender aquilo que a coisa é. A contradição está implícita na tese, e a antítese a explicita. Síntese surge, então, no terceiro momento, ou seja, Espírito que se apresenta como reinteriorização do mundo exterior pelo ser. Todos esses momentos – ser, natureza e Espírito – concebem em si sua negação e superação (FOULQUIÉ, 1978).

Ainda, essa estrutura se aplica a todos os campos,

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desde a aquisição de conhecimento, até os processos históricos e políticos. Hegel acreditava que existe apenas o que se manifesta na consciência, que pode ser sentido ou pensado. É importante ressaltar que Hegel compreende o ser humano como um ser social e, portanto, deve-se considerar seu contexto.

Sobre o surgimento da síntese, e sua importância, Burnham e Buckingham (2011, p. 182) destacam:

Uma consequência desse processo imanente é que, quando nos tornamos cientes da síntese, percebemos que o que havíamos considerado como contradição na tese era apenas aparente, causada por alguma limitação em nossa compressão da noção original.

O pensamento de Hegel se concentra no conceito do espírito absoluto. O que existe é o todo. De acordo com ele, não existe a parte, pois esta só existe quando se integra ao todo (HEGEL, 1988). A corrente hegeliana, posteriormente, foi dividida entre esquerdistas, centristas e direitistas, servindo de suporte teórico para a democracia e para o fascismo, respectivamente (HARTMAN, 1990). Hegel introduz uma noção de que a razão é histórica, ou seja, a verdade é construída no tempo (ARANHA; MARTINS, 2009).

Em relação à perspectiva absolutista de Hegel, Collignson (2006) ressalta que:

Ele foi um filósofo monista ao assegurar que todas as coisas estavam inter-relacionadas em um sistema ou totalidade vasta e complexa, o qual era denominado de absoluto. Sua forma particular de idealismo não implicava numa descrença da existência de objetos materiais. Ao mesmo tempo, ele assegurava que somente o absoluto era inteiramente real e suas partes aparentemente distintas detinham realidade unicamente em virtude de constituírem parte de um todo. (COLLIGNSON, 2006)

Segundo Collinson (2006), a concepção filosófica de Hegel é difícil e extremamente complicada, uma vez que, ao tentar incorporar em seu pensamento intuições filosóficas, e tentar unir pontos de vista conflitantes, os resultados de suas investigações geraram trechos obscuros e contraditórios, o que resultou em várias interpretações por aqueles que arriscaram em discorrer a seu respeito.

A realidade, na visão de Hegel, é entendida como algo não material e produto do espírito (Geist) universal e racional. Sua obra é compreendida como o ponto culminante do racionalismo. Além disso, as estruturas de pensamento são consideradas não-históricas. Outrossim, para compreender a realidade é necessário pensá-la, não só como substância, mas, também, como sujeito, como um movimento, um processo, por fim, um constante dever dialético. A realidade é vista, portanto, como Espírito e, sendo assim, possui vida própria, constitui-se num movimento dialético (PRADO, 2010).

O espírito, para Hegel (1995), passa de abstração para fato quando aparece no episódio histórico, sendo parte concreta na realidade e sendo, também, o espírito regido de particularidades, gerando, assim, uma objeção dialética de indivíduo e povo, e de povo e espírito do mundo.

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Hegel (1995), fala de liberdade de três formas diferentes: a primeira defende que para o homem tornar-se consciente de si mesmo é preciso ter desenvolvimento espiritual; a segunda, parte da premissa que o homem passa a ser ele mesmo quando ele tem tomada de consciência de si mesmo; e a última é que a essência é o espírito, porém o homem também é parte do espírito e da natureza. Portanto, a história do mundo é o avanço da liberdade, o avanço da autoconsciência do espirito, tornando não apenas o homem livre, mas o espírito em si.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A discussão sobre a dialética de Hegel permite entendermos como esse método filosófico, que se apossa de termos como “emergir”, “movimento” e “desenvolvimento”, influenciou a visão filosófica anterior daquela época (primeira metade do século XIX). Naquela época, Hegel via que a filosofia precedente era algo sem vida, tendenciosa e não histórica. Ele, ainda, afirmava que a filosofia está arraigada à história.

Foi perceptível observar que a realidade, para Hegel, é um contínuo devir, na qual um momento prepara o outro, mas, para que esse outro momento aconteça, o anterior tem de ser negado. Compreender a dialética da realidade, segundo o autor, exige um trabalho árduo da razão, que deve se afastar do entendimento comum e se colocar do ponto de vista do total conhecimento adquirido. Percebemos que para Hegel não há acesso à filosofia senão através de sua história, que não é outra coisa senão a manifestação do pensamento humano, conforme a própria compreensão hegeliana de filosofia, ou seja, apreensão da história no pensamento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARANHA;  Maria Lúcia de Arruda, MARTINS; Helena Pires Martins. Filosofando: Introdução à filosofia. Pag. 188. Ed. Moderna. São Paulo. 2009.

BURNHAM, Douglas; BUCKINGHAM, Will. O Livro da Filosofia – As Grandes Ideias de Todos os Tempos. Rio de Janeiro: Editora Globo, 2011.

COLLINSON; Diané. Grandes Filósofos da Grécia antiga ao século XX. São Paulo: Editora Contexto, 2006.

FOULQUIÉ, Paul. A dialética. Trad. Luís A. Caeiro. 3. ed. Lisboa: Publicações Europa-América. 1978.

HEGEL, G. W. F. A razão na história: introdução à filosofia da história universal. Trad. de Arthur Morão. Lisboa: Edições 70, 1995.

HARTMAN, R. S. A razão na história: uma introdução geral à filosofia da história. São Paulo: Editora Moraes, 1990.

PRADO, C. Razão e Progresso na Filosofia da História de Hegel. Revista Mest. Hist., v. 12, n. 2, p. 99-114, jul./dez., 2010. Disponível em: http://www.uss.br/pages/revistas/revistaMestradoHistoria/v12n22010/pdf/005Razao_Progresso.pdf. Acesso em: 04 de abril de 2016