Recebi hoje, via whatssap, uma foto de um ipê amarelo aberto em flores. E, logo abaixo, a postulante enviou, quase em forma de legenda, a seguinte frase de Khalil Gibran Khalil: “árvores são poemas que a terra escreve para o céu”. O lirismo do escritor libanês conjunta à foto do ipê amarelo me transportou para a infância. Lá, os dias quentes e secos de agosto no pantanal eram coloridos pelos diversos tons dos ipês. Amarelos, rosas, brancos e roxos invadiram minha mente num transe em agradável lembrança. A conexão com passado foi tão real que cheguei a me perguntar: será esta a melhor analogia para descrever o ipê amarelo aberto em flores?
O ipê da foto e os ipês da minha lembrança não possuem folhas. São inteiramente flores.
Ipê vem do tupi aipê, significa originalmente casca. De casca grossa e as vezes escura, o ipê é forte. Resiste facilmente ao fogo tão comum no cerrado nas épocas de estiagem. O caule e os galhos escuros do ipê projetam e realçam as cores de suas flores. O contraste é tão grande que mais parecem feitos para adornar em forma de estrutura a efêmera beleza das flores.
O ipê florido é uma oração que a terra faz para o céu.
O cristão aprende a rezar o pai nosso de forma tão mecânica que não percebe que ele é dividido em três partes: primeiro temos o louvor; depois o agradecimento e por último temos as súplicas.
Apontando o ipê para o céu, a terra louva ao identificar o destinatário e o endereço de sua oração:Pai Nosso, que estais no Céu. Ela glorifica o sagrado santificando o seu nome.
O ipê, quando florido, evidencia o agradecimento da terra ao céu. Ele tem sua floração justamente nos meses mais secos e inóspitos de seu habitat. A terra retribui neste instante toda a vida que o céu pode lhe proporcionar. E, em seu momento de maior dificuldades, lhe devolve flores. O ipê florido é um buquê vivo ligado à terra por suas raízes. O céu certamente o utilizará nas bodas das estrelas que forjam todo o firmamento. É deste modo que terra agradece o pão-nosso de cada dia.
O ipê em flores, em meio aos tons palha e cinza da vegetação ao seu redor, é uma súplica da terra aos céus pela água que lhe falta. Falta esta tão necessária à terra não é evidenciada na beleza e graça das flores do ipê. Isto ocorre porque a súplica da terra não é egoísta como a do homem. Este em suas orações não dão nada em troca. A terra é tal qual a mulher que entrega sua beleza pelo fruto vindouro. É desta forma que a terra pede perdão pelas suas ofensas e um pouco de água para sobreviver.
A epígrafe completa de Khalil Gibran Khalil diz “Árvores são poemas que a terra escreve para o céu. Nós as derrubamos e as transformamos em papel para registrar todo nosso vazio”. A última frase que termina o texto do saudoso escritor não me foi enviada pela postulante do whatssap. Ela é tão amedrontante que foi propositadamente suprimida. Gostaria de acalmar a terra e dizer: o ipêamarelo não jazerá jamais. Pois, foi plantado no coração da minha alma. Amém.