La La Land – Cantando Estações: uma ode ao sonhador

Com quatorze indicações ao OSCAR:

Melhor Filme, Melhor Diretor (Demien Chazelle), Melhor Atriz (Emma Stone), Melhor Ator (Ryan Gosling), Melhor Roteiro Original (Demien Chazelle), Melhor Fotografia (Linus Sandgren), Melhor Direção de Arte, Melhor Montagem, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som, Melhor Figurino, Melhor Trilha Sonora, Melhor Canção Original (“Audition” e “City of Stars”). 

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“Essa vida é uma mistura de algo puramente fantástico, calidamente ideal e, ao mesmo tempo, palidamente prosaico e comum, para não dizer vulgar até o inverossímil. […]
…nesses recantos vivem pessoas estranhas: os sonhadores. ”
(Noites Brancas, Dostoiévski) [1]

Em uma época que filmes de heróis com máscaras, força colossal ou indumentárias de ferro se reproduzem na velocidade da luz, é bom ir ao cinema para simplesmente assistir a um tipo de filme que parecia existir apenas no passado: um filme sobre (e para) sonhadores.

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Damien Chazelle, diretor e roteirista, fez de La La Land uma inesquecível homenagem aos antigos musicais da era de ouro de Hollywood. A fotografia do filme já é, por si só, uma ode a esses musicais, com longas tomadas líricas, uma câmera fluida e uma paleta de cores vibrante. Chazelle e Linus Sandgren (Diretor de Fotografia) falaram que “a decisão de usar o formato analógico foi amplamente motivada pelo fato de que as câmeras digitais capturam a realidade tão bem que torna-se difícil fazer um filme com um olhar ‘mágico’ durante a edição” [2]. E trazer a magia, especificamente essa que tem relação com a realidade que existe apenas em nossos sonhos, não é uma tarefa simples, considerando os filmes que lotam as sessões de cinema atualmente.

Segundo Bruner, crítica de cinema da Time [3], antes de La La Land ser um sucesso nos vários festivais em que foi apresentado, era apenas uma fantasia que o diretor Chazelle e o compositor Justin Hurwitz tinham quando tocavam em uma banda em Harvard. “Existe uma maneira de fazer um grande filme no estilo dos clássicos musicais da MGM em um ambiente completamente moderno, em um contexto realista, ou isso é um paradoxo intransponível?” Chazelle se perguntava.

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É ousado, em muitos aspectos, ter como cena de abertura de um filme atual um grupo de pessoas cantando e dançando em uma Los Angeles ensolarada em meio a um trânsito infernal. A quantidade de nãos que Chazelle levou da maioria dos estúdios mostra o quanto foi difícil para alguém acreditar que a ingenuidade de um filme musical poderia fazer sucesso junto ao público moderno. Um público aparentemente avesso a mundos em que a canção pode vir de forma espontânea e normal e a vida pode ser uma busca incessante de um sonho.

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La La Land acompanha a história de Mia (Emma Stone), uma talentosa aspirante a atriz que trabalha em uma cafeteria nos estúdios da Warner Bros, e Sebastian (Ryan Gosling), um apaixonado pianista de jazz. É o terceiro filme que os dois atores atuam como par romântico e a química entre eles é evidente na tela. Mia e Sebastian são a personificação do sonhador e estão em Los Angeles, a terra do cinema, a procura de uma oportunidade para tornar real aquilo que imaginaram. E essa oportunidade parece nascer desse encontro. Mas, por detrás das músicas alegres do início, do encontro poético no cinema e no planetário e da leveza que esse encontro parece trazer aos dois a ponto de metaforicamente flutuarem em uma das cenas, há um romance complexo e bem delineado sendo construído, que atinge toda a sua plenitude na segunda metade do filme.

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City of stars
Are you shining just for me?
City of stars
There’s so much that I can’t see
Who knows?
I felt it from the first embrace I shared with you
That now our dreams
They’ve finally come true

Não há em La La Land um número de dança com o refinamento técnico e artístico dos grandes musicais antigos, estrelados por Fred Astaire e Ginger Rogers, nem há músicas cantadas com vozes tecnicamente perfeitas. Mas segundo Chazelle, era esse naturalismo que ele estava procurando, logo Emma e Ryan se encaixaram plenamente em seus papeis. Segundo Bruner [2], dois dos números mais emocionantes do filme, a cena da audição da Mia, “Audition” cantada por Emma e o dueto de “City of Stars”, no apartamento do casal, cantada por Ryan e Emma, foram gravadas ao vivo, e as falhas se tornaram parte da magia.

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A voice that says (uma voz que diz)
I’ll be here, and you’ll be alright (Eu estarei aqui, e você ficará bem)

Na música que Mia canta na audição mais decisiva da sua vida, ao contar uma história de sua tia que morou em Paris, ela diz “um viva aos sonhadores, tolos irremediáveis, um viva aos corações que sofrem, um viva ao caos que causamos”. Seja em um romance de Dostoiévski do século XIX, seja em um filme musical do século XXI, o sonhador parece estar destinado a extremos: uma alegria contagiante nascida da esperança nas pessoas e no amor, e uma melancolia e solidão profundas, originadas dos mesmos motivos.

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Nem sempre a voz estará lá para lhe dizer que você ficará bem, ainda que em meio a desilusões, mesmo aquelas autoprovocadas, o sonhador ouse acreditar mais uma vez no mundo que cria para si a cada manhã…  e só quem sonha sabe o quanto é preciso acreditar.

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Não há nada melhor do que imaginar outros mundos para esquecer o quanto é doloroso este que vivemos. Pelo menos eu pensava assim naquele momento. Ainda não compreendera que imaginando outros mundos, acabamos por mudar também este nosso.” (Baudolino, Umberto Eco) [4]

La La Land, ao final, termina com uma das sequências mais lindas de um filme nos últimos anos. A sequência do E se…, que ao invés de nos deixar com um sentimento de tristeza pelo que não é, nos fornece uma contagiante sensação de esperança por aquilo que podemos construir dentro de nós, pelos mundos que imaginamos, que nos faz ser quem nós somos e que modifica também quem o outro é.

Acima de tudo, La La Land é uma grande declaração de amor ao cinema. Novamente temos aquela sensação, ao final de um filme, de que podemos ser felizes, mesmo que por um breve momento, de que músicas podem tocar o coração e que, ao levantarmos os pés do chão por alguns segundos, podemos dançar.

REFERÊNCIAS:

[1] Dostoiévski, F. Noites Brancas [1848]. Tradução Nivaldo dos Santos. Editora 24, 2011.

[2] http://zip.net/bqtGm9

[3] http://time.com/4587682/la-la-land-review/

[4] Eco, Umberto. Baudolino. Editora Record, 2001.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

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LA LA LAND – CANTANDO ESTAÇÕES

Direção e Roteiro: Damien Chazelle
Elenco:Emma Stone e Ryan Gosling
País: EUA
Ano:2016
Classificação: Livre

Doutora em Psicologia (PUC/GO). Mestre em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Ciência da Computação pela UFSC, especialista em Informática Para Aplicações Empresariais pela ULBRA. Graduada em Processamento de Dados pela Universidade do Tocantins. Bacharel em Psicologia pelo CEULP/ULBRA. Coordenadora e professora dos cursos de Sistemas de Informação e Ciência da Computação do CEULP/ULBRA.