Ao assistir o último capítulo da novela Cúmplices de um Resgate, do SBT, (acompanho a novela desde o início por conta do interesse de minha filha), uma das últimas cenas me causou revolta e preocupação. Vimos em nossas casas, com uma audiência grande de crianças e adolescentes, uma mulher má, muito má, acabar em um hospital psiquiátrico. Seus parceiros, com atitudes ruins e desonestas, foram para cadeia.
Vivi a experiência da loucura desde a infância. Meu pai foi um médico dermatologista e desenvolveu muitos anos da sua profissão no Hospital psiquiátrico “Colônia Juliano Moreira”, onde atendia os internados com relação às questões dermatológicas. Para desempenhar bem o seu trabalho estudou muito a psiquiatria. Há 40 anos ele já falava de uma psiquiatria mais progressista, com internações breves e pontuais. Devido a esta postura de meu pai convivi com ditos doentes mentais na minha casa em toda a minha infância e adolescência.
Além disso, minha mãe, com o decorrer do tempo, foi diagnosticada com psicose maníaco depressiva, que hoje chamamos de transtorno bipolar. Ela foi algumas vezes internada e frequentei hospitais psiquiátricos para visitá-la, quando ainda pequena. Sou Terapeuta Ocupacional, com 33 anos de formada. Não trabalho diretamente com psiquiatria, mas minha experiência de vida está ligada à psiquiatria. Eu sei o que o meu pai sofreu por ter uma esposa tida como louca. Principalmente no meio médico. Sustentou o casamento e a criação de seus filhos chegando a se afastar da própria família.
Vejo que hoje é inconcebível e inaceitável que se compare problemas mentais com maldade. Nunca presenciei maldade na minha mãe ou nas pessoas com quem convivi e convivo. Pelo contrário, são pessoas boas que se fazem o mal é somente para si mesmas. Precisam sim de ajuda e tratamento. Fora das crises não tenho nada para falar da minha mãe. Ajudou-nos no dia a dia, inclusive escolar. Tornou-se uma excelente avó.
Não posso aceitar um desrespeito a tantos segmentos da sociedade que lutam contra o estigma da loucura, entre eles, o conjunto dos que encampam a luta antimanicomial. Inclusive uma das cenas da novela foi gravada num local que lembra um hospital psiquiátrico. Cena nada agradável, com um enfermeiro bem autoritário. Modelo de uma psiquiatria que deveria estar morta ou deve morrer.