Marina Castañeda Gutman, autora do livro “O machismo invisível” cujo vem a ser resenhado, nasceu no México em 1956, possui diversas formações, incluindo História; Psicologia; Música e Letras pela Universidade de Harvard nos Estados Unidos, com especialização em homossexualidade.
O livro resenhado foi desenvolvido no México, traduzido ao Português e Italiano; possui 295 páginas e 11 capítulos subdivididos em várias temáticas. Tem como finalidade expor acerca do machismo oculto que, por vezes, passa despercebido por todos, engajado nas várias esferas sociais. Buscar explanar sobre as teorias psicológicas que abordam acerca, e às diversas maneiras de manifestações deste fenômeno humano. Além disso, os mais variados âmbitos que expõem, tanto quanto o contexto histórico concernente.
Dessa forma, a autora propõe esclarecer que o machismo não é o um fenômeno reproduzido somente pelos homens, mas também pelas mulheres, portanto, social. O machismo durante todo o percurso da obra é abordado enquanto uma relação de poder, dominação, construção e subordinação de um indivíduo perante aos seus semelhantes, seja nas mais variadas relações interpessoais homem-mulher, mulher-mulher e homem-homem.
A autora durante todo o percurso do livro tenta problematizar o modo como ainda na contemporaneidade os sujeitos tendem a buscar justificativas cabíveis para comportamentos machistas, tendo ainda como embasamento estudos tal como excêntricos. Contudo, sabe-se que não é por esse ângulo que os fatos fluem, o machismo é algo instituído na sociedade e impregnado aos indivíduos desde o nascimento, primeiro dentro da própria casa, segundo na escola. Portanto, torna-se-ia uma cultura repassada durante gerações, nesse caso, construída pelos mesmos. Por isso, é notório perceber que as pessoas se apossam do machismo utilizando-se de demasiados instrumentos, que, por vezes tornam-se sutis e/ou quase imperceptíveis. Um desses utensílios têm sido beneficiar-se de uma via que muito serve para a criação de vínculos entre sujeito-mundo, sujeito-meio, a linguagem. Por muito ou quase sempre, o homem de maneira não-genérica alude a tentativa de diminuir a mulher a uma fase do ciclo vital regressa a fase atual de sua vivência, a infância, é constante a busca para infantilizar-la. Frequentemente, com sucesso.
Os/as machistas, a todo custo estão a procura de aplausos, atenções e reconhecimentos, mesmo nas mais banais conversações, e às vezes, de modo não-verbal, para enrijecer ainda mais o que está instituído. A sociedade desde muito cedo estipula a masculinidade/paternidade como sinônimo de proteção, o que na realidade não o é, já que em muitos casos há uma paternidade ausente e quase sempre distante. Muito se sabe que a paternidade tem atualmente recebido diferentes significações, não mais privilegiada como nas décadas passadas, já que no momento atual há casos e casos que evidenciam o abandono paterno. Por outro viés, cresce cada vez mais a postura da mulher enquanto aquela que exerce o papel de mãe protetora, nutriz, que contribui com o sustento da casa.
Nesse ângulo, é nítido que tais postulações anteriormente explanadas tem início na vida doméstica, como visto no decorrer do livro, esse contexto emerge fortes contribuições no que diz respeito a consolidação do machismo. Nesse sentido, pode-se evidenciar e concluir que, é em casa que inúmeras e pertinentes perspectivas que visam a dominação feminina por intermédio da virilidade são aprendidas. Mas como se pode romper com tais institucionalizações, já que não há como interferir em todos os lares?
Além disso, essa é uma forma peculiar de propagá-lo e de certa maneira fixá-lo cada vez mais. É dentro de casa que se tem as diversas maneiras de ensinar o machismo, seja oriundo dos pais, mães, babás, avós. Outrossim, colocam o homem em uma escala mais elevada que as mulheres, o que só faz reforçar seu narcisismo e desejo de dominação. Atualmente, as maneiras pelos quais o machismo se apresenta é diferente de outros tempos, a violência mesmo ainda existindo em massa, está sendo substituída por uma forma mais sutil, o poder.
Dessa forma, é perceptível como demasiadamente vários fatos são vistos de maneiras diferentes entre os sexos, até mesmo ligado a aparência, sexualidade dinheiro, posicionamentos corporais, e até questões ligadas aos aspectos emocionais. As mulheres diferentemente dos homens, talvez pela falta do self support acreditam que requerem regozijar um Outro, não elas mesmas para sentirem-se plenas. Frequentemente seguem um padrão induzido pelo gosto masculino, enquanto eles, seguem o seu próprio desejo. Até mesmo a sexualidade é vista por outro ângulo em conformidade com o gênero, a mulher não pode sentir prazer, gozar e expor suas fantasias sexuais, a vista que é vista como perversa, ou como impura, pecadora. O homem pode expor e ainda de maneira desinibida e por muito, dissimulada seus mais variados desejos sexuais.
Nesse mesmo ângulo, por um lado o homem pode expressar as mais variadas emoções, hostilidades e grosserias, já a mulher se o fizer, é condenada. Ela pode sentir, mas precisa reprimir. Porque disseram, “isso é coisa de homem”. E por qual razão os sentimentos precisam ser divididos em quem pode ou não senti-los, já que são questões totalmente ligadas a natureza humana, e portanto, universais?
Seguindo essa lógica, a autora também assim como nos exemplos acima exteriorizados, expõe o capital financeiro como sendo algo versado como uma das especialidades masculinas, longe de ser entendível pelas mulheres. Os primeiros são vistos como os que entendem e de tudo sabem. As segundas, vistas como sem conhecimentos, incultas, ou inábil para desenvolver habilidades sociais semelhantes às masculinas.
Uma outra vertente ainda não explicitadas, é referente o quão a mulher recebe imposições até mesmo com questões ligadas a profissão, há uma divisão de profissões que devem ser seguidas por homens e uma outra gama, por mulheres. Não somente isso, os altos postos também são assim vistos, cargos de chefia e liderado dentro das cooperativas são sempre limitados aos homens, mesmo havendo uma possível diminuição do quadro, ainda existe.
São questões como estas, embora abordadas aqui de maneira sintética que emergem durante todo o livro de Marina Castaneda, e ela o faz de um modo crítica e coerente, detém de grande facilidade para articular seus pensamentos e ideias, o que deixa o livro em demasia interessante para quem o ler. O referido porta de uma linguagem acessível ao público leigo, pois trata de questões tão cotidianas e de fácil entendimento ao leitor, por isso, não carece de uma leitura prévia para que seja lido. O mesmo oferece uma grande contribuição para uma visão mais pontuada acerca do machismo, no sentido de, entendê-lo enquanto sendo uma questão muito mais cultural do que se possa pensar, não limitando-o enquanto algo disseminado pelo homem, mas sim como algo repassado por todos, por isso, um fenômeno social. É destinado para a população que procura aprofundar na temática e poder identificá-lo em suas diversas ocorrências.
A obra faz surgir diversos questionamentos, tais como os que foram evidenciados no decorrer da resenha. O machismo e sua desconstrução dependem muito mais do coletivo do que se possa pressupor, mas que precisa ainda ser mais discutido. Deixar de ser invisível e normal aos olhos de muitos, já que a percepção é subjetiva. Ainda assim, traz uma perspectiva enriquecedora pelo fato de expor as diferentes formas de dominação e relações de poderes perante os indivíduos, que são constituídas por eles próprios. Nesse sentido, traz uma grande explanação para consolidar o entendimento das relações instituídas e cristalizadas na sociedade, que são difíceis de modificações, ou quase impossíveis.
E são por meio dessas institucionalizações sociais, que originam as mais variadas manifestações de desigualdades sociais, estigmas, preconceitos, a vista que é constantemente imposto aos sujeitos o que ele deve ou ser e/ou fazer com sua própria existência. É complicado lidar com o projetivismo contemporâneo, quando os indivíduos querem dominar e destruir o que está presente neles mesmos, ou isso é mais uma manifestação narcísica?
Tudo que é visto como diferente, é dado como anormal, e portanto, passam a serem vistos como algo que precisa de controle. Mas, por quê? Como evidenciado no decorrer do livro pela autora, tudo que existe, hoje, existe porque tiveram espaço para tal, são reflexos de relações, foram constituídas pelas pessoas que habitam a sociedade e são por elas que a ruptura desse paradigma precisa ser desmembrado, a mudança necessita ocorrer primeiro em cada um, através de uma análise pessoal de si mesmo.
Portanto, o livro é bastante recomendável para profissionais e estudantes de diversas áreas, impreterivelmente das ciências sociais, para todos que visem pesquisar e estudar sobre gênero e machismo e as suas nuanças. Os pontos mais marcantes que podem de alguma maneira receber um olhar diferencialmente do leitor diz respeito a constituição propriamente dita do machismo como um fenômeno histórico, portanto, social.
FICHA TÉCNICA
Nome do livro: O machismo invisível
Editora: A Girafa
Autor: Marina Casteñeda
Idioma: Português
Ano: 2006
Páginas: 304