Mary Shelley: escritora, revolucionária e feminista

Mary Shelley é um filme de 2017, dirigido por Haifaa al-Mansour, interpretado por Elle Fanning. O longa conta a história real da escritora feminista Mary Shelley, retratando sua trajetória de vida desde o seu nascimento até a vida adulta.

Mary Shelley (Elle Fanning) sofreu bastante durante sua vida como mulher e escritora na Inglaterra de 1800. Estar à sombra de um homem, ver seu talento sendo atribuído à um homem e esperar seu trabalho ser reconhecido por homens, foram alguns dos infortúnios pelos quais ela passou.

Órfã de mãe, Mary morava com seu pai William Godwin (Stephen Dillane), sua madrasta, seu irmão e sua irmã Claire (Bel Powley). A família era dona de uma livraria, onde Mary encontrava refúgio aos seus anseios por livros e escrita. Sofrendo os preconceitos da sociedade patriarcal na época, ela não podia ler publicamente ,uma vez que tal feito não era permitido para mulheres, o que determinava à ida de Mary para o cemitério, a fim de poder fazer suas leituras em paz.

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A coerção de uma madrasta cruel, bem como, o cerceamento do seu espírito livre e destemido, provocava em Mary um desalento e angústia, na tentativa de avançar em sua vida como mulher escritora. Seu pai percebendo isso, lhe envia para a Escócia almejando que a filha encontre o seu caminho libertador.

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“Se liberte das idéias de outras pessoas Mary, e tenha suas próprias idéias!”
William Godwin

Ao se estabelecer em seu novo destino, ela se apaixona pelo poeta Percy Besshy Shelly (Douglas Booth), e cedendo aos desejos de seu coração decide unir-se amorosamente à ele. Mary via em Shelly todo o amor vibrante com que um dia sonhou, e embebida pela paixão não conseguiu ver que tal aventura romântica, não lhe traria apenas o amor que desejava, mas também a solidão que jamais pensará em vivenciar.

Shelly foi sim, o amante mais intenso e romântico. Escrevia poemas de amor para presentear sua amada todos os dias e dizia as palavras mais belas, que eram capazes de fazer uma jovem de 16 anos, derreter-se em gozo. Porém, Shelly era um amante de muitos amores, e assim sendo, não tinha apenas Mary como alvo do saciamento de suas paixões. Adepto de ideiais de grandeza, luxúria e revolucionismo, ofertou a sua amada uma vida de complexos extremos, que iam do deleite do mais alto luxo até a mais intensa miséria.

Nessa vida polarizada, Mary experimentou prazer em ser amada intensamente, mas também o peso da solidão de ver que o seu amado encontrava prazer em outras. Viveu a solidão de ser desprezada, mesmo fazendo grandes esforços para construir a mais linda história de amor. Viu sua irmã tendo com seu amado dentro da sua própria casa, mesmo depois de tê-la acolhido e cuidado com todo carinho. Sofreu a perda de uma filha, e viu seu pai, ensinar-lhe uma lição, a custo da inexistência de seu contato e afago. Mary Shelley, viu o que o abandono e a solidão significavam na própria pele.

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Mas no que toda essa experiência de vida poderia resultar? Magnificamente, na escrita da obra Frankenstein ou O Prometeu Moderno. Nossa escritora, num dia de reflexão sobre si mesma e a sua situação de vida, percebeu e encontrou inspiração para transformar seus dilemas existenciais,  personificando-os na figura do personagem Frankenstein. Com esse ímpeto ela concluiu a obra mais famosa do Séc.19 , que foi considerada o primeiro livro de ficção científica da história.

No entanto, mais percalços surgiriam para ela, pois a obra não poderia ser publicada com seu nome por ser isso, inapropriado para uma jovem mulher, e ainda, cairia sobre si o julgo dos donos das editoras, que alegavam não ser a obra de sua autoria, mas sim do seu companheiro Shelly. Foi nesse momento, que Mary viu nitidamente o preconceito que o  seu gênero sofria, e sentiu o descrédito e a humilhação por não ter suas potencialidades/talentos reconhecidos, apenas por ser uma mulher.

A frustração foi grande e provocou fúria em seu espírito feminista, no entanto, como forma de ver seu trabalho publicado, ela acatou as condições impostas, permitindo que Shelly escreve uma introdução para o livro e aceitando que ele fosse publicado anonimamente, o que resultaria na concessão dos créditos da obra ao poeta.

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A primeira edição do livro Frankeistein assumiu essa configuração, contudo, quando William seu pai, soube que a obra era de autoria de sua filha, ofertou uma festa de comemoração ao sucesso da estória. E foi nessa festa, que Mary teve sua autoria reconhecida pelo próprio Shelly, que inconformado com essa injustiça e admirado com o potencial de sua amada, confessa aos homens presentes que Frankenstein tinha por autora Mary Shelly. Anos depois, quando a segunda edição do livro foi lançada, Mary teve sua autoria reconhecida, sendo publicamente mostrada como a autora original.

Ao final da trama, em uma conversa com seu companheiro, sobre a inspiração para a escrita do livro, Mary pronuncia uma frase que tem o poder de levar o telespectador a reflexão. Ela diz: “Minhas escolhas me fizeram ser quem sou. E não me arrependo de nada!”.

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A personagem

Inconformada com a visão rasa e preconceituosa que a sociedade tem das mulheres, ela deixa claro diversas vezes que nunca deixará com que nada/ninguém dite como ela deve ser/fazer as coisas em sua existência. Mesmo tendo se submetido a um relacionamento amoroso cheio de infidelidade, Mary não deixou que seu espírito libertário fosse esmagado por uma paixão.

Mary provoca no telespectador, paixão e sede de viver. Todos os acontecimentos de sua vida são experimentados com intensidade e emoção. Sua postura era firme e ameaçadora para qualquer pessoa (homem ou mulher), que lhe confrontasse na tentativa de colocá-la no “ lugar” que se julgava adequado para uma mulher naquela época.

FICHA TÉCNICA

MARY SHELLEY

Título original: Mary Shelley
Direção: 
Haifaa Al Mansour
Elenco: 
Elle Fanning,Douglas Booth,Tom Sturridge
Ano:
2018
País: 
Gênero: DramaHistórico